(...) O céu estava límpido e azulado, o sol batia forte entre um acarinhamento e castigo nas cabeças e peles das pessoas que andavam pela trilha desprotegidamente. E a menina, com seus longos cabelos presos em um coque adornado por pequenas flores, girava a sobrinha rosa de um lado a outro, a barra do vestido empoeirada e seus olhos brilhantes, o sorriso meio de lado chamava a atenção e ela, mesmo com o ar do vestido de moça recatada e de respeito de época, possuía uma lânguida e forte curiosidade e magnetismo que sobressaia por seus olhos semicerrados. Olhava curiosa a figura do homem á sua frente, no auge de seus 30 anos, a olhar para as frondosas árvores do outro lado do riacho. E sobre o ar, brilhava inquieta uma questão mal respondida pela moça ali toda rosada e brilhante. E ao invés de responder, ela perguntou.
“Tem muitos amigos, senhor?” Perguntou por curiosidade e porque, irrequieta, não aguentava mais o tédio e o silêncio quebrado apenas pelo barulho dos passarinhos nas árvores, a tilintar suavemente pelo lugar semi-vazio.
“O suficiente.” A voz dele fez com que ela prendesse um suspiro, que quase a engasgou. Com a voz quebrada, perguntou novamente.
“Tem muitas dores?”
“O suficiente”
“E posso saber, se não for incômodo e que eu não pareça intrometida, mesmo o sendo, a medida do seu suficiente?”
Ele a olhou severamente, mas ela continuou a girar a sombrinha, não aparentando desconforto com sua voz forte e rígida, desprovida de qualquer carinho a qual os noivos enamorados costumam oferecer as suas jovens amadas. Ele passou os dedos pelo colarinho, encarando os olhos azul anil da mulherzinha, meio meninoca, impetuosa a sua frente. Conhecia-a suficientemente bem para saber que não respondê-la, desencadearia um sorriso triste e o brilho daqueles olhos apagaria-se lentamente. E isto, ele não podia suportar. Respondeu depois de pequena reflexão, sem deixar de encará-la.
“Suficiente é aquilo que me satisfaz, criança. Muito ou pouco. Suficientemente me completa.”
“E seus amores, também são suficientes?” Perguntou novamente de forma despreocupada. E esticou a mão, querendo tocar a borboleta que pairava suavemente em volta da saia rodada de seu vestido. Um sorriso brincalhão rondava os lábios pequenos e as maçãs do rosto possuiam uma coloração rosácea, causada pelo sol, pelo calor… Diria ele pelo amor que ela demonstrava. A mãozinha pequenina e branca agarrou o nada, mas ele sentiu em seu coração um pequeno aperto. Lutou para manter a calma. Enquanto ela, lutava contra a emoção em saber que aqueles olhos negros estavam pousados em cima dela.
“Não, infelizmente não. E cá entre nós, eles nunca me completam.” Ela o olhou surpresa, com o tom de intimidade naquela voz rouca. Sorriu tristonha, querendo adivinhar-lhe os sentimentos, enquanto ele tentava, inutilmente, desviar os olhos daqueles pontos azuis, como dois pontos de céu.
“Eles te tiram, acertei?”
“Meio que sim, meio que não. Meu amor é amores, pluralizadamente falando. E, sabe… Amores só acrescentam quando se é par. E infelizmente, menina, eu nasci ímpar. Irreparável, matemática, singular e suficientemente.”
Sabia que ele estava certo. Era ímpar, notava-se pelo seu jeito fechado, pela natureza séria, pela falta de risos e sorrisos. Pela falta de amor que ele demonstrava no coração, mas ele era cheio de sentimentos, esses que brotavam em seu pequeno ao ponto de sentir-se quase a explodir. Sabia ela também que possuía essas mesmas característica. Impar também o era. E acima de tudo, mais do que saber, no seu sentir… Sabia que dois ímpares, se unidos, formavam um par. Um lindo e bonito par de cinema, de novela, de música de baile. Sabia ela que os mais bonitos pares, eram formados por ímpares e desses pares nasciam os mais belos romances, escritos e vividos pela eternidade com fim. E ela sabia muita coisa, sem saber nada. Ela não precisava saber, para sentir.
“Eu aceito, senhor. Eu me caso contigo.”
“Mesmo eu sendo ímpar?!” A convicção na voz dela encheu o homem de ternura e de amor, e ainda mais de surpresa. E ela vislumbrou nele, pela primeira vez algum sinal de emoção. E sentiu-se feliz. Mais do que feliz. Sentiu-se par, pela primeira vez nas últimas duas décadas.
“Sim, por isso. E por ser seu par também. Gosto disto.”
“Do que?”
“De achar que em ti, posso ser um complemento.” Ele deu dois pasos e pegou entre seus dedos, aquela mãozinha pequena. Sorriram sem precisar sorrir. E sentiram-se felizes. Juntos. Complementados. Pluralizados, e sem dúvidas… Um par.
Autora: Janine Oliveira
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Data | 25/11/2011 |
De | Janine Oliveira - Autora |
Assunto | Re:Sublime |
Boa noite.
Obrigada pelo elogio, é ótimo ver que o pequeno conto lhe agradou.
Agradeço o comentário. ^^
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Data | 25/11/2011 |
De | Janine Oliveira - Autora |
Assunto | Re:Parabéns! |
Olá. Fico muito alegre com seu comentário.
Agradeço de verdade o elogio.