Meu querido cunhado

Informações:

Autora: Janine.

Classificação: +16.

Avisos: Heterossexualidade.

Link do Nyah!: https://www.fanfiction.com.br/historia/136679/Meu_Querido_Cunhado

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Sinopse: Malu era só uma garota. Uma garota que há alguns meses teve seu coração partido e isola-se no seu próprio mundo apenas por comodidade, e também por causa de uma coisa que ela não admite: Passou a ter medo das pessoas. Medo do que elas são capazes de fazer, do quanto podem magoar. Mas tudo mundo quando sua irmã surge com o novo namorado em casa, um namorado que pelo que ela dizia, seria diferente, daria certo. Ao se deparar com seu novo cunhadinho, Malu vê suas dores serem desenterradas, e acaba resgatando mais do que dores, mas também momentos e sentimentos há muito tempo adormecidos. E Igor, seu cunhado, vê agora uma oportunidade de fazer dar certo, só que de forma errada. Será que os dois serão capazes de criar um laço de, apenas, amizade?

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Capítulo 1

Tentei me concentrar na leitura a minha frente, mas Karol não colaborava. Ela fazia barulhos com sua boneca, cantando alto cantigas irritantes. Não eram nem cantigas infantis, eram musiquinhas atuais, irritantes. Karol era minha irmã, de 5 anos. Ela era uma menina miúda para a idade, com os cabelos curtos e escorridos, de um castanto bastante claro.  Possuía cabelos curtos, escorridos, de um castanho bem claro, sua voz era fininha, consequentemente irritante. Basicamente ela era tudo em excesso, agitada demais, esperta demais, irritante demais!

_Karol!_Gritei.
_Sim?
_Porque não vai assistir um DVD?
_Porque eu não quero._Fiz uma careta pela sua resposta, mas me calei, voltando a leitura. Tentando me concentrar no romance policial, que estava em um momento decisivo e bem importante. Infelizmente ela mudou o foco de sua atenção para o livro. Agora estava praticamente em cima de mim por trás do sofá, tentando ler, embora ela não saiba ler, o livro.
_Por favor, me deixe quieta._Gemi, odiava ler com alguém em cima de mim. Eu odiava alguém em cima de mim, me pertubando.
_É férias, posso fazer o que eu quiser._Sim, eram férias. E infelizmente eu não iria viajar, iria ter que aguentá-la.
_Não, você não pode!
_Posso sim._Claro que quando decidi morar com a minha mãe em definitivo, eu sabia que teria que aguentar a filha de seu novo marido, minha meia irmã, mas a garota tinha que ser tão irritante? Eu morava com meu pai até um ano atrás, então depois dele se casar novamente eu decidi vir morar com a minha mãe. Sim, o motivo era aquele velho clichê: A minha madrasta é horrenda. Eu simplesmente não a suportava com suas manias irritantes de me provocar. E, sendo sincera, eu até que gostava de ficar aqui, embora eu não tivesse tanta paz quanto antes.
_Por favor, Malu.
_Karol deixe sua irmã em paz!_Minha mãe gritou da cozinha. Enquanto saía de perto de mim, Karol mostrou a língua. Eu, bem madura, imitei. Ela foi andando para trás de costas, ainda me mostrando a língua, e esbarrou em Maria Cecília, mais conhecida como Ceci. Minha mãe tinha alguma coisa com Marias, todas as filhas eram Marias. Uma Maria Cecília, a mais velha. A outra Maria de Lourdes, euzinha, embora ninguém saiba meu nome, todos me conhecem por Malu. E a pior das Marias, a Maria Karolina. Fala sério! Isso sim que é criatividade, certo? Errado! Era terrível esses nomes, o meu então... Não combinava comigo de jeito nenhum! Para o azar da minha mãe, que amava os nomes. Nenhuma das filhas deixava que a chamassem de Maria. Éramos conhecidas pelos apelidos: Ceci, Malu e Karol.

_Cuidado, Karol.
_Ops._Karol se afastou, colocando as mãos nas bochechas rosadas.
_Ninguém se arrumou? _Ceci olhou em volta. Eu a ignorei, tentando ler a mesma frase pela quarta vez._Como assim ninguém se arrumou?
_Arrumou para que?_Perguntei, ainda tentando me concentrar no livro.
_Eu vou trazer meu namorado aqui hoje.
_Que namorado?_Mais um? Era isso que eu queria ter perguntado.
_Aquele que ela fica falando há umas duas semanas._Minha mãe disse, brincando.
_Huum, aquele tal de Adalberto?_Entrei no jogo e ouvi minha mãe começar a rir. Na verdade, eu havia esquecido completamente o nome do namorado da vez.
_ Mãe!_ Ela gritou, nervosinha. Minha irmã se estressava fácil de mais. Não parecia ter 18 anos, mas sim 81. _É Igor! Igor!
_Igor?_Porque diabos o namorado dela tinha que se chamar Igor? Afastei algumas lembranças inúteis da minha mente e me afundei mais no sofá.
_É, Igor._Ela disse.
_Está tudo bem, filha. Estou fazendo uma comida bem gostosa. Espero que esse garoto valha a pena.
_Vale mesmo._Ela disse, sorridente. Bufei, odiava quando ela trazia os novos namorados aqui em casa. Era uma encheção de saco._Malu?
_Eu.
_Não vai se arrumar?
_Ainda são 5 horas.
_E você demora duas só no banho._Encarei Ceci, totalmente irritada. Ela juntou as mãos, num gesto de por favor. Fechei o livro e o coloquei na mesinha de cabeceira. Derrotada.
_Ok. Estou indo, estou indo. _Levantei irritada, minha mãe voltou para cozinha. Caminhei para a escada._Não se tem paz nessa casa!
_Malu?
_O que é dessa vez?
_Seja boazinha. Eu gosto mesmo dele.

_E quando é que eu não sou boazinha?

Capítulo 2

Definitivamente eu estava arrumada com a minha melhor roupa. Ok, eu estou mentindo. Nenhum garoto valia tanto esforço. Eu simplesmente estava com um shorts jeans e uma bata comprida e confortável. Nos pés, um chinelo. Bem largada mesmo. E ai de Ceci se reclamasse. Desci as escadas, com o livro da mão e me joguei no sofá. Logo percebi que não conseguiria ler mesmo. No andar de cima eu podia ouvir a algazarra de Karol no banheiro, na cozinha minha mãe cantarolava e infelizmente, ela não tem uma voz muito doce… E Ceci andava de um lado para outro pela casa.

_Dá pra pelo menos ficar parada? Ou eu vou pregar seus pés no chão!

_Você parece irritada.

_Se eu estivesse irritada, você não estaria entre os que são desse mundo. Traduzindo, morta.

_Minha vida tornou-se emocionante desde que você veio morar conosco, as ameaças me emocionam.

_Também te amo irmãzinha._Voltei a ler o livro.

_Malu…?_Olhei para ela._Estou atrapalhando?

_Imagina._Disse irônica.

_Sorte a minha._Ela sorriu._Tudo bem, leia seu livro em paz.

_Obrigada._Voltei a ler. Então percebi que Ceci batia o pé no chão ritimadamente._Ta legal! Fala logo o que você quer.

_Ahhh obrigada!_Ela sentou-se no sofá. Abracei s joelhos. Preparada para o tédio, ou não._Ele é perfeito.

_Eles normalmente são.

_Não, ele é diferente. Realmente diferente. _Pude ver como seus olhos brilharam. E meio que me assustei com isso._Ele é engraçado, sexy, trabalha pouco, ganha muito dinheiro. É bonito… E o que importa mesmo é a beleza interior.

_Pera, não está trazendo um cafetão aqui pra dentro certo?

_Malu!_Ela começou a rir, bem humorada. É, eu estar arrumada surtia efeitos bons no humor dela.

_Ele trabalha com a tia.

_Em que?_Ela fez uma careta._Vai saber que não sabe?

_Quando ele pagou tudo que comemos no passeio que fizemos ao shopping, eu só queria que ele me beijasse.


_Hum, está namorando um Brad Pitt da vida._Não me admirava ele ser ‘perfeito’. Ceci normalmente pegava os caras mais legais. O problema é que chutava eles depois de algumas semanas. Eu a achava meio insensível. Mas havia cansado de discutir com ela sobre relacionamentos. Eu era ignorante nessa matéria.

_Você acha mesmo que estou exagerando?

_Acho.

_Foi uma pergunta retórica._Ela fez careta, parecendo aborrecida.

_Desculpe._Eu ri de leve. Olhei para ela, que olhou para a porta pela milésima vez._Tudo bem, entendi. Você gosta mesmo dele. Prometo me comportar.

_Sem piadinhas sem graça?

_Eu nunca conto piadas sem graça.

_Era uma vez um pato que nunca ria. Aí um dia ele tropeçou e rachou o bico._Ela ficou séria olhando para mim. E sem querer eu desatei a rir, muito alto! Logo ela estava me acompanhando. Me recuperei depois de alguns minutos.

_Sem piadas sem graça?

_Promete?

_Fala sério, Ceci. Não duvide de mim, ok?

_Obrigada._A campainha tocou, então ela arregalou os olhos. Olhei para trás do sofá e vi uma silhueta parada na porta, mãos no bolso. Cabeça baixa. Antes que Ceci se levantasse Karol desceu correndo as escadas, os cabelos castanhos claros úmidos e o vestidinho levemente amassado. Ceci tentou impedi-la, mas ela abriu a porta.

_Ei, você é o namorado da minha irmã?_Ouvi uma risada grave e paralisei.

_Sim._Não. Não pode ser. Impossível!

_Vamos, entre._Ceci chamou. Olhei para baixo, para o livro. Ouvi quando Ceci apresentou ele, a porta ainda aberta para Karol e minha mãe. _Ei, Malu. Venha cá.

Com as pernas tremendo me levantei. Me convencendo que eram só vozes parecidas e nomes parecidos. Caminhei ainda de cabeça baixa para perto da porta. Então levantei os olhos. Eram eles, aqueles mesmos olhos castanhos. Vi que ele espelhou a expressão do meu rosto. Assustado, incrédulo, perdido. A garganta secou, sem saber o que fazer continuei parada.

_Vocês já se conhecem?_Ceci perguntou, desconfiada.

_Não! Claro que não!_Dissemos em sincronia. Logo nos olhando assustados novamente. Senti o rosto corar e vi que suas bochechas também coravam sob a pele bronzeada.

_Certo…_Ceci sorriu, animada. Agarrou o braço dele, o puxando para perto._Igor, esta é minha irmã Malu. E Malu este é o Igor, meu namorado.

Engoli em seco. Sem saber conseguir assimilar tudo. A única coisa que eu conseguia pensar enquanto Ceci me olhava orgulhosa e mostrava Igor era horrível, era insano. Tudo o que eu conseguia pensar era quando eu o chamava de meu.

 

Capitulo 3

O jantar foi tenso, para mim pelo menos. Igor mostrou-se calmo e controlado, e bem espirituoso, com aquele seu antigo bom humor, fazendo todos da mesa rir, menos eu. Eu apenas tentava me manter concentrada na comida. Percebi que Ceci me olhava com desaprovação, 1uerendo que eu me soltasse mais. Mas eu simplesmente não conseguia, principalmente porque Igor não parava de me encarar.

_Então Igor, no que trabalha?_Minha mãe perguntou.

_D. Betânia eu trabalho…_Ele parou ao ver a cara da minha mãe. Me olhou confuso.

_Ela não gosta de Betânia, se quiser chame de Tia Betty. Nunca Betânia._Expliquei.

_Ah, me desculpe.

_Tudo bem._Minha mãe sorriu, parecia cada vez mais encantada.

_Eu trabalho no planetário no centro da cidade. Minha tia é astrônoma, trabalhou lá por um tempo e arranjou um trabalho para mim.

_Sério? Nossa, que demais. Então faz faculdade de Astronomia?

_Exato._Ele sorriu e olhou para mim._Eu gosto de estrelas.

_Você podia me levar no planetário._Karol se intrometeu, tentando se livrar das verduras._Eu gosto de estrelas também.

_Podíamos ir todos._Ele sorriu para Karol, carismático. Revirei os olhos, bebendo um copo de refri e tentando de todo o jeito não olhar naquela direção. Ninguém percebia como isso era desagradável.

_Parece ótimo. Que tal amanhã?

_Amanhã não._Sem poder me conter, abri minha bocona.

_Por quê?_Vasculhei alguma desculpa boa na minha mente. Infelizmente eu era uma péssima mentirosa.

_Eu vou sair.

_Pra praia? _Ceci se intrometeu, me olhou com um olhar assassino._Você vai todo dia para praia.

_Eu não vou à praia amanhã. Vou a outro lugar.

_Que outro lugar? Que eu saiba todas suas amigas viajaram e o Alexandre também.

_Não conheço só eles, eu tenho várias opções de pessoas e lugares, ta?_Eu não conseguia mentir, então só ficava nessas evasivas.
_Você vai, claro que vai._Minha mãe disse sorrindo, mas eu sabia que ela faria ameaças depois.

_Podemos ir outro dia. _Igor tentou apaziguar as coisas._Aí não tem problema.

_Depois de amanhã!_Ceci disse animada. Senti vontade de desaparecer. Não respondi nada, e eles voltaram a conversar. Assunto? Praia. Eu? Martírio.

_Eu surfo._Igor comentou quando minha mãe perguntou se ele gostava de praias, isso desencadeou mais lembranças e logo a comida não parecia nem comestível para mim.

_Surfa?

_Arran.

_Surfa pra manter a forma?

_Não. Na verdade não. Quando comecei a surfar era bem magrelo e tinha horror a academia, sempre achei chato. Mas eu gostava um pouco de esportes, mas não tinha muito jeito. Mas eu amo o mar, achei a solução perfeita. Aprendi a surfar. Manter a forma é apenas um bônus.

_Você deve ter muitas garotas em cima de você.

_Não. Não.

_Mentiroso._Eu disse baixinho. Alguns pares de olhos viraram para mim.

_Você disse algo?

_Não. Claro que não!_Corei e ele sorriu tristonho. A conversa retornou, minha mãe parecia conquistada. Eu estava já cansada disso. Me levantei.

_Com licença. Vou dormir.

_Já?

_Sim. Estou com dor de cabeça. Boa noite.

_Boa noite._Me virei, sem olhar na direção dele. Subi as escadas correndo e tranquei a porta do quarto. Eu estava superconsciente da minha cabeça latejando, e do meu estomâgo hiper sensível, ainda sentindo a adrenalina pulsando em meu corpo. Fechei os olhos, procurando pensar em qualquer outra coisa. Me concentrei no sangue martelando forte na minha cabeça, dos braços pulsando. E do coração se rebelando. Batendo dez vezes mais forte do que o normal.

_Droga!_Puxei um travesseiro e o apertei junto a cabeça. Fechando os olhos. Lembrei da minha promessa. Sem lágrimas. Sem lágrimas… Difícil. Abri os olhos olhando o teto e tentando pensar em uma forma de fugir ao encontro de depois de amanhã.

 

Capitulo 4

Claro que antes de dormir prometi a mim mesma não ir a praia, não sair de casa, nem conversar com Ceci, nem nada do tipo. Uma coisa eu tinha conseguido, eu não falei com Ceci. Mas foi impossível ficar em casa. Acabei vindo para a praia. Quebrei duas promessas. Estava sentada em um banquinho, usando um vestidinho solto. Com o livro de ontem nas mãos. Apenas olhando as pessoas passarem sem realmente vê-las. O sol machucava meus olhos e eu estava prestes a me levantar. Até que uma silhueta surgiu, parando a minha frente.

_Oi._Olhei para cima, colocando a mão no rosto para enxergar. Lá estava ele.

_O que você quer?_Eu disse, a voz controlada. Mas eu estava meio que surpresa.

_Nossa… Que delicadeza.

_Obrigada. Agora responda.

_Falar com você._Ele se sentou no banco ao meu lado. O encarei pelo canto do olho._Vai mesmo continuar tentando ignorar minha presença?

_Estou tendo sucesso?

_Não.

_Droga…

_Malu…_Ele sussurrou. Não sei por que, mas senti o sangue ferver. De raiva, eu tentava me fazer acreditar. Só de raiva.

_Eu.

_Eu só… Só…

_Só o que? _O interrompi, prevendo as palavras que sairiam da sua boca._Não quer que eu conte para minha irmã sobre as férias do ano passado?

_Ela é uma garota legal.

_Eu sei, conheço ela a 15 anos.

_Eu juro que não sabia que ela era sua irmã.

_Isso teria mudado alguma coisa?

_Você não faz ideia._Ele olhou na direção oposta que eu. Ficamos por alguns minutos em silêncio. Compartilhando uma intimidade que não deveria existir.

_Não devíamos estar tendo essa conversa. _Suspirei._Somos dois desconhecidos. É isso que somos.

_Como?

_Você não me conhece, eu não te conheço. Acredite nisso, que todos os outros acreditarão.

_Mas eu te conheço.

_Conhecia… Agora você não faz ideia do que eu sou.

_Porque você sempre vem com essas conversas confusas?

_Não estou sendo clara o bastante? Não me importo que esteja com Ceci, por mim que se exploda tudo isso. Só não quero ter que ficar contando isso e aquilo para ela. Não vou ficar no caminho de vocês, estou falando sério. Quero que você colabore pelo bem da sua namorada. Está claro agora?

_Está.

_Ótimo.

_Só porque está claro não signifique que eu goste._Porque ele simplesmente não calava a boca? Porque diabos eu queria que ele continuasse falando somente para que eu ouvisse sua voz? Meu Deus, eu sou tão estúpida!

_Não precisa gostar, precisa obedecer.

_Desde quando ficou tão autoritária?

_Não sou autoritária.

_Não? Só se for pra você…

_Ninguém está obrigando a ficar perto dessa ditadora._Certo. Talvez eu tenha exagerado um pouquinho…

_Nossa…Quanto exagero!_Ele ficou em silêncio e eu também. Olhei pelo canto do olho, ele ainda estava me encarando. Os cabelos castanhos com algumas mechas aloiradas por causa do sol balançavam por causa do vento. Os olhos castanhos escuros estavam semicerrados._Olhe, vamos fazer do seu jeito. Só não quero que, sei lá, as coisas fiquem estranhas entre nós.

_Isso é possível? É possível essa situação não ser estranha?

_Vamos ao menos tentar.

_Não. Não. Essa eu passo.

_Por quê? Não vamos fingir que não nos conhecemos, não quero isso. É criancice. Veja, vamos ali na lanchonete, comer algo…

_Não dá, Igor. _Balancei a cabeça, suspirando. Minha mãos foram parar na franja, fechei os olhos. Deixando as palavras escaparem, como sempre faço._Se eu to conversando agora com você é por causa da minha irmã. Não posso me fazer de sua amiguinha. Eu não esqueci tudo, sabe… Não se preocupe com o que minha irmã vai achar de eu me afastar, bem… Você entendeu. Ela já esta acostumada com minha natureza antipática.

Me levantei do banco, começando a andar. Senti passos atrás de mim e o peso do mundo nas costas.

_Malu?

_ O que é agora?_Falei alto. Chamando atenção de algumas pessoas que passavam.

_Me desculpa? Por favor… Por tudo?

_Não dá. Eu não consigo._Virei as costas, os olhos cheios de lágrimas. Andei sem rumo pela praia. Apenas parei quando estava escurecendo e esfriando. Sentei na areia, olhando o mar. Só lembrando…

 

Capitulo 5

Arrumei minha cadeira de praia. Firmando seus pés com firmeza na areia. Totalmente desajeitada, coloquei minha bolsa e sacolas na cadeira ao lado, igualmente firmada no chão. Ajeitei me na cadeira, satisfeita com a briza gostosa do fim de tarde no rosto.

Eu estava de férias com meu pai, com sua namorada e o irmão dela. Eles decidiram vir para a praia, então estávamos hospedados em um hotel. Um hotel bem legal na verdade. Olhei para a frente, avistando o surfista que eu tinha visto mais cedo. Ele se equilibrava com facilidade entre ondas. Então fiquei prestando atenção nele, para me distrair apenas. Não era porque ele parecia maravilhosamente lindo. É claro que não… É só porque ele surfa bem, oras! Bem demais, a propósito. Depois de algum tempo me ‘distraindo’ acabei sentindo fome e fui vasculhar minha bolsa. Abrindo nada mais nada menos que… Um lanche do Mac Donalds. Eu parecia uma caipira da cidade, no meio da praia com minha caxinha do…

_Mc Lanche Feliz?_Uma voz rouca disse acima de mim. Dei um pulo na cadeira. Olhei para cima, dando de cara com o garoto da prancha._Você estava sozinha e seus olhos pareciam me chamar, então… Aqui estou eu.

_Meus olhos te chamando?_Começamos bem nosso contato, pensei. Uma cantada desse calibre? Uau._ Nossa, cara… Essa foi realmente péssima.

_Tem razão._ Ele fez uma careta, então para minha surpresa tirou minhas bolsas e sacolas e colocou no chão e sentou-se ao meu lado. Olhando o mar…

_Ei, essa cadeira é minha.

_Eu sei, não achei que você se importaria.

_Mas eu me importo.

_É só um pouco, para eu pensar.

_Pensar em que?

_Numa cantada boa o suficiente para te convencer a ficar comigo._Ele inclinou a cabeça, olhando em minha direção.

_Entre as duas cantadas, escolho a primeira.

_Isso é um sim?

_Não… Isso é um: cale a boca e volte para o mar amigo golfinho._Ele soltou uma risada alta e melodiosa. O encarei, ele continuou largado na cadeira. Eu não podia negar que ele era bonito com seu porte físico atlético; cabelos curtos e aloirados e sorriso aberto. Sem poder me conter sorri de volta.

_Acho que fui bem estúpido. Podemos começar de novo?

_Depende.

_Do que?

_Vai haver mais cantadas?

_Talvez…

_Então desisto de você._Ele riu novamente. Vencida pela sua risada, estiquei minha mão._Meu nome é Malu.

_Igor. _Ele apertou minha mão por tempo demais. Até eu puxá-la com um pouco mais de força._Então… Você vem sempre aqui?

_Eu te dou uma segunda chance e tudo o que você tem é isso?_Comecei a rir pela situação e ele me acompanhou.

_Tecnicamente a culpa é sua.

_Hãn?

_Você me deixa nervoso. Pode crer, é mais estranho pra mim do que pra você.

_Oh…_Ficamos em silêncio e eu sem saber o que fazer. Normalmente eu era bem soltinha, mas agora simplesmente… Não sabia o que falar.

_Você sabe?

_O que?

_Surfar…_Ele apontou o mar.

_Eu não sei nem boiar.

_Sério?_Ele disse, rindo de leve.

_Arran. O mar parece meio… grande.

_Boa definição._Ele disse mordendo o lábio entre os dentes e provavelmente o riso também. Não me deixei abater por sua cara sexy:

_Obrigada. Ah… Ele é assustador também.

_Ele só é assustador de longe, de perto ele é a coisa mais doce do mundo.

_Doce não, salgado._Ele abriu um meio sorriso pela minha piada ruim.

_Eu poderia te ensinar.

_Esqueça jow, você não ia querer passar vergonha com uma garota de bóias no braço no meio do doce mar…

_Você não me conhece. Não sabe do que sou capaz…

_Sério? Tem razão. Você é um desconhecido, eu não deveria falar com você. _Fiz uma cara de assustada._Você pode ser um psicopata!

_Não foi isso que eu quis dizer. Aonde você vai?_Levantei da cadeira, pegando minhas sacolas extras, cheias de lixo e fui caminhando cambaleando até uma lixeira perto de onde eu estava sentada. Pude ver alguns garotos jogando vôlei em um canto. Um deles me disse um animado hey. Ignorei, voltando para a cadeira. Onde o tal de Igor ainda estava sentado. Dobrei a minha cadeira, que graças aos céus dobrava fácil e ficava bem pequena, então delicadamente, com toda a intimidade do mundo empurrei Igor da outra cadeira. Ele caiu na areia e me olhou indignado. Sorri irônica, dobrando a outra cadeira e colocando as duas cadeiras na sacola maior. Peguei minha bolsa de praia e a sacola e comecei a andar, deixando um garoto e uma prancha para trás.

_Ei, espera. Não sabia que você levaria aquela coisa de desconhecido a sério._Ele me alcançou em passos largos. A prancha pendurada no braço._ Você é meio bipolar?

_Na verdade… Sou.

_Prazer, reflexo._Me virei para ele, meio que rindo.

_Certo, eu fico com você. _Senti que corava pela minha cara de pau. Mas era engraçado testá-lo. Vi que quando eu disse isso ele deu uns dois passos a frente, ficando mais perto._E você vai ir embora?

_É uma troca? Um beijo seu e tenho que ir embora? _O dedo dele se ergueu, tirando uma mecha de cabelo do meu pescoço. Eu apenas fiquei parada. Sem saber o que fazer. Só conseguia pensar que ele estava perto… Demais._Se for, recuso. Não poderei cumprir esse trato.

_Então você sempre cumpre promessas?

_Só quando as pessoas valem à pena.

_Ninguém vale a pena.

_Você acha isso?

_Eu sei disso.

_Você é tão nova, mas tão amarga no modo de falar._É o que dizem. Eu quis dizer, mas me calei. Preferindo outra resposta.

_Você nem sabe minha idade._Eu disse, dando alguns passos para trás. Na defensiva. Parecia que ele conseguia me ler…

_Tem 15 anos, se chama Malu e gosta de Mc Lanche Feliz. Eu sei até onde você dorme!

_Como?

_Bem, você tem um quarto de solteiro, enquanto seu pai e uma mulher ficam uns 4 andares acima. Sua cama deve ser meio parecida com a minha…

_C-como você sabe disso?_Eu disse, assustada. A história do psicopata passando novamente pela minha cabeça.

_Seu quarto no hotel é do lado do meu. Você fica no numero 11 e eu no 12.

_Como você sabe disso… também?

_Eu vi você fazendo reserva com seu pai.

_Oh.

_Então, para seu completo azar, você não vai se livrar de mim tão cedo. Te vejo depois, Maria de Lourdes._Então ele simplesmente me deixou lá e foi caminhando para o mar. Eu fiquei parada no mesmo lugar, completamente boquiaberta enquanto ele se afastava. Completamente confusa. Meio assustada, mas surpresa. Se era de um jeito bom ou ruim… Ainda não decidi. Ele olhou para trás uma vez e pude enxergar seu sorriso torto. Sacudi a cabeça, caminhando para o meu hotel. Que cara estranho! Talvez ele seja mesmo um psicopata. Ou não…

 

Capítulo 6

Caminhando pelo saguão do hotel acabei encontrando a noiva do meu pai. Cristina. Era bonita com os cabelos ruivos e corpo levemente rechonchudo, mas era insuportável.

_Onde você estava?_Ela disse arrogante.
_Na praia. Dã.
_Seu pai está te procurando.
_E onde ele está?_Ela apontou na direção do bar do hotel. Dei um acenosinho antipático e fui até lá. Meu pai tomava um suco no bar, conversando com o garçom. Parei ao lado dele._Chamou?
_Sim. Se divertiu na praia hoje?
_Arran.
_Isso é bom…_Ficamos em um silencio desconfortável por alguns segundos. Impaciente, resolvi quebrar o silêncio.
_Pai, porque não fala logo o que tem a dizer?
_Certo._Ele respirou fundo. Como sempre fazia quando iria dizer algo que me aborreceria._ Queria saber se você se importaria se eu fosse jantar com a Cristina no restaurante no centro da cidade.
_Só vocês dois?_É, estou vendo que eu ainda não me acostumei com isso. Sendo deixada em segundo plano. Mesmo assim, me calei.
_É.
_Tudo bem, pode ir.
_Obrigado. _Ele sorriu, não sorri de volta._Você tem certeza? Não quero te deixar sozinha e…
_Pai. Eu adoro ficar sozinha. Não se importe.
_Devia ter convidado alguma amiga pra vir com você, assim não ficaria tão sozinha.
_Elas foram viajar com as mães… _Meu pai fez uma careta. Eu também. Mas procurei deixá-lo mais a vontade._Não se preocupe. Estou ótima. É sério.
_Então tudo bem. Vou trazer algo do centro pra você.
_Perfeito._Ele esfregou meu braço em um gesto de carinho raro e rápido._Hãn, vou subir para tomar um banho e guardar essas coisas, certo?
_Espera. Toma o dinheiro._Ele me esticou algumas notas._Carlos está aí, vá jantar com ele.

Carlos era o irmão mais novo de Cristina. Tinha 25 anos e era quase tão insuportável quanto a irmã.

_Não, obrigada. Eu me viro.
_Nada de sair por aí a noite sozinha.
_Pai… Por favor, né? Sou bem grandinha já. Bom jantar pra você.
_Obrigado._Virei as costas e subi pelo elevador calmamente. Parei no meu número, mas não pude deixar de olhar para a porta ao lado. Balancei a cabeça confusa e girei a maçaneta. O quarto estava bem organizado, então para mudar um pouco, joguei as sacolas na cama e fui para a minúscula varanda que tinha. Olhei para o lado.

Havia outra varanda igualmente minúscula. O espaço que as separavam era, razoavelmente, pequeno. Imaginei o tal de Igor no quarto ao lado. Com certeza eu não me livraria dele. Voltei ao quarto, tomando um banho.

Saí bem mais relaxa e despreocupada depois do meu show, suuper badalado no banheiro. Eu cantando no chuveiro é um arrazo! Fui até a mala e com preguiça de vasculhar algo para vestir, peguei apenas um vestidinho leve até os joelhos, roxo e uma sandália preta. E decidi descer para comer alguma coisa.

Fui pelo elevador e encontrei nele o carinha que havia dito ‘hey’ para mim enquanto jogava vôlei. Como tinham cinco pessoas junto conosco no elevador ele se limitou a sorrir. Ele era bonito, alto, forte e com dois grandes olhos azuis. Feito bolinhas de gude. Ele sorriu para mim e sem graça olhei para o teto.

Quando a porta do elevador se abriu, eu saí dele rapidamente. Tentando me esquecer do carinha no elevador. Sem me conter olhei para trás, uma garota o tinha parado logo na frente do elevador, abraçada a sua cintura. Mas ele ainda olhava para mim. Típico galinha.

Andei pelo hall, com o dinheiro na minha bolsinha de lado. Sem saber o que fazer, resolvi dar uma volta. Saí para rua, andando devagar. Observando como só parecia ter casais no caminho. É dia dos namorados e eu não estou sabendo? Estamos em pleno novembro!

Quando cheguei em uma rua razoavelmente vazia comecei a sentir passos atrás de mim. Gelei na hora, apressando o passo. Querendo encontrar logo alguém. Não me atrevi a olhar para trás, mas comecei a sentir pânico. Me controlei para não correr, até que senti os passos ainda mais rapidamente. Então, sem poder me conter, comecei a correr. Senti que a pessoa atrás de mim começava a correr também. Uma mão me girou, me puxando para uma parede e me prensando nela. Soltei um grito agudo.

_Bu!_Uma voz gritou e depois desatou numa risada escandalosa. Respirei aliviada, apertando os braços e controlando o medo ainda. Depois comecei a sentir raiva e dei tapas a torto e a direito. Até ele se encolher, ainda rindo.
_Seu idiota!_Igor ainda ria, esfregando o braço onde eu tinha batido._ Quer me matar de susto?
_Sua cara foi hilária!
_Não foi hilária. Eu poderia ter morrido! E se eu tivesse morrido, você também estaria morto. Porque eu iria te matar._O que foi que eu acabei de dizer mesmo? Que merda… Mas ele começou a rir, esperei ele parar de rir:
_Estamos vivos, aleluia! Deixe de ser melodramática. Você só se assustou um pouquinho…_Então ele fez uma careta de pânico, talvez tentando me imitar. Acabei soltando uma risadinha e bati novamente no braço dele.
_Estúpido._Cambaleei, começando a andar. Ele começou a andar na minha frente, ainda soltando risadinhas. Maldito! Realmente me assustou…_Porque estava me seguindo?
_Eu não estava te seguindo…
_Imagina!
_Certo. Eu apenas vi você saindo do hotel sozinha e vim perguntar se você gostaria de companhia. Isso não é seguir.
_Se eu disser que não quero companhia, você vai ir embora?
_Nop._Ele me cutucou com o cotovelo e eu revirei os olhos.
_Você gosta de ser chutado, é isso?
_Claro que não! Só que o difícil me atrai._Ele começou a andar a minha frente, virado na minha direção.
_Você não desiste fácil, não é?
_Com certeza, não._Chegamos em uma rua mais movimentada. Paramos, ele me encarando. Esperando o que eu iria dizer. Suspirei, derrotada:
_Certo. Vamos comer! Que tal o…
_Mc Donalds?
_Você aprende rápido._Mordi o lábio e ele me puxou pro Mac.

 

Capítulo 7

_Isso não é um encontro, não é?

_Claro que não… _Ele disse, bem sério. Mas a ironia era clara em sua voz._Não foi planejado. Eu não planejei. A não ser que você tenha planejado quase morrer de susto no meio da rua.

_Você é tão engraçadinho…

_Fico feliz que estejamos nos dando bem.

_Estúpido._Murmurei pela milésima vez. Abocanhando meu X-Burguer. Ele se limitou a rir, colocando uma batatinha na boca. Então ele parou, concentrado, olhando para mim e desatando a rir logo em seguida. Engoli rapidamente, confusa.

_O que foi?

_Está sujinho ali ó._Ele apontou para meu rosto. Constrangida passei a mão no rosto, tentando limpar.

_E agora?

_Ainda ta sujinho._Ele riu novamente e se inclinou na minha direção. Passando o dedão pela minha bochecha. Senti o rosto queimar. Ele sentou-se em seu lugar novamente, lambendo o dedo._Agora sim, está limpo.

_Ér… Obrigada._Voltei a comer, agora em silêncio. Percebi que ele não parava de me olhar, isso me incomodava. Era como se ele pudesse ver através de mim. Como se pudesse ver tudo que eu tentava esconder. E seu sorrisinho irônico me inquietava, não só por ele parecer ler meus pensamentos. Mas porque eu não conseguia deixar de achá-lo atraente com isso. Ele era bonito, mas ele era mais perigoso do que só bonito. Ele parecia meio que irresistível. O jeito de falar, andar, agir, sorrir, olhar. E o pior, eu estava falando com ele a menos de duas horas. Não era possível me sentir tão afetada. Eu nunca fui assim.

_Não sei muito de você._Ele quebrou o silêncio, me fazendo estremecer. A voz passou pelos meus ouvidos e percebi que o refrigerante na minha mão tremeu de leve.

_Pensei que soubesse bastante.

_Foi pra tentar impressionar.

_Quer dizer que não está mais tentando me impressionar?

_Pelo contrário… É só que você não parece ser do tipo de garota que se impressiona fácil.

_Isso você tem razão._Bebi o refrigerante, querendo aliviar a garganta seca.

_Então… O que me diz sobre você?_Percebi que ele não desistiria fácil.

_Certo. Lá vamos nós… Tenho 15 anos, faço 16 em breve, me chamo Malu. Tenho duas irmãs. Meus pais são separados e vejo minha mãe nos feriados prolongados e férias. Moro com meu pai há uns 3 anos, desde que eles se separaram. Ele vai passar dois meses aqui, por conta de trabalho, enquanto eu e a noiva dele ficamos de férias. Eu gosto de praia, mas tenho medo do mar. Gosto de skate e… Adoro ler. Francamente, sou bem estranha.

_Você sabe andar de skate?_Tanta coisa pra perguntar e ele vai perguntar sobre meu skate.

_Arran.

_Uau! Eu não sei andar nem de bicicleta direito.

_Skate é fácil. É sério.

_Fácil pra quem sabe, é claro!

_Já quebrei o tornozelo por causa do Skate. É que tenho mania de fazer coisas estúpidas e talz.

_Eu já quebrei o braço, quando tinha 6 anos. Caí da escada.

_Eu já caí de andador da escada quando tinha 6 meses. E o máximo que aconteceu comigo foi ficar com um arranhãozinho no braço. Ganhei nessa de quedas.

_Pera… Como você conseguiu cair da escada de andador? Não tinha ninguém de olho em você?

_Minha mãe era meio distraída e eu era discreta. Foi a maior façanha que já fiz.

_Impressão minha ou você tem orgulho disso?

_Claro que tenho! Sou ninja desde criança!_Ele riu de novo. Apoiei os cotovelos na mesa._Sua vez.

_Bem, tenho 17 anos. Sou apaixonado pelas estrelas e pelo mar. Também estou nessa cidade por férias, com meu melhor amigo. Estamos hospedados no mesmo hotel e tal. Vamos passar dois meses fazendo trabalho voluntário no planetário perto daqui. Conhece?_Acenei positivamente me lembrando vagamente do lugar._ Então… Irei começar a faculdade de Astronomia no começo do ano que vem. Não tenho irmãos e meus pais ainda são casados.

_Sua vida não é tão emocionante e dramática quanto a minha.

_Tem razão. Ah esqueci de algo. Gosto de ler, mas prefiro que leiam para mim.

_Folgado?

_Não. É só que… Quando as pessoas lêem pra mim, parece que elas interpretam as palavras melhor, não sei. É divertido.

_Ainda acho você folgado.

_Por quê?

_Por tudo! Você senta em cadeiras de praias alheias, persegue e assusta garotas por aí a noite…

_Ei! Eu não persigo garotas por aí. _Ele disse rindo junto comigo. Depois tentou se explicar._Não persigo ninguém. Você foi uma exceção e eu nem estava te seguindo. Eu estava apenas, casualmente, tentando te alcançar para saber se você precisava de companhia.

_Você estava me seguindo!

_Não estava. Vou ter que explicar tudo de novo? Tenho que anotar no meu caderninho: Além de desconfiada, ela é teimosa.

_Isso do caderninho é uma metáfora, não é?

_Por enquanto.

_Você é muito estranho.

_Mais uma coisa para anotar: Ela gosta de me chamar de estranho, estúpido e derivados._Acabei sorrindo.

_Estúpido!_Com isso ele começou a rir meio que engasgando com a coca. Depois de se recuperar, um pouco vermelho, ele disse:

_Você ainda vai me matar, garota.

_Você diz isso em menos de 24 horas de convívio. Acho que isso é um novo record para mim.

_Record? Quem é estranho mesmo?

_Cala a boca!_Rimos e terminamos de comer em meio a risadas.

_Quer ir embora?

_Pode ser._Ele se levantou e eu o segui. Na porta ele me esperou e me deixou passar na frente. Lá fora bateu um ventinho gostoso, me fazendo sentir serena._A noite está bonita hoje.

_Acho que a noite é uma das poucas coisas que ainda verei você elogiar.

_Yep. Elogios são chatos. Xingar é mais legal._Começamos a andar, voltando para o hotel.

_Então prefere que te xinguem do que te elogiem?

_Eu não disse isso. Eu disse que eu gosto de xingar.

_Você é complexa demais.

_Prevejo uma desistência…_Cantarolei.

_Só se desiste quando se quer alguma coisa.

_Então quer dizer que esta falando comigo por acaso? Só por falar?

_Não foi isso que eu disse. Foi só um comentário.

_Eu poderia ter me ofendido se o efeito da coca cola já estivesse passado.

_Que efeito?

_A euforia. Eu não fico sorrindo assim sempre não! _Acabei rindo._Você devia se sentir um cara de sorte.

_Eu me sinto um cara de sorte._Olhei para ele, desconfiada. E percebi que ele estava perto demais, os nossos braços praticamente roçavam. Constrangida e um pouco tonta, desviei o olhar.

Ficamos em silêncio até eu poder avistar o hotel. O hotel era lindo, de frente para a praia. Bem localizado, e decorado de forma simples e aconchegante. Chamava atenção ao longe. Olhei de esguelha para Igor, ele olhava o céu. A luz da lua batia diretamente em seu rosto bronzeado. Segui seu olhar, olhando as estrelas. Estava uma noite muito, muito linda. Tropecei, já que olhava a lua e senti um aperto forte no braço, me recolocando no lugar.

_Cuidado._Ele disse, ainda segurando meu braço e voltando a caminhar.

_Ops._Murmurei.

_Efeito da coca cola também inclui paixão pelo chão?

_Oh não. Não preciso da coca cola pra isso.

_Não duvido._A mão dele escorregou do meu braço e desceu parando no pulso. Sua expressão adquiriu um quê de curiosidade. Amaldiçoei as batidas do meu coração, que pareciam até mesmo audíveis. Me perguntei se ele conseguia sentir as batidas no meu coração pelo meu pulso.

Continuamos caminhando, a mão dele esquentando meu pulso. Entramos no hotel, que estava razoavelmente vazio. Olhei as horas, quase 9 da noite. Ele parou no meio do hall.

_Você já quer subir? Ta meio cedo…

_E pra onde iríamos?

_Praia. Senhorita óbvia.

_Ah, a praia…_Parei, pensando nas possibilidades. Eu poderia ficar com meu lindo livrinho no meu quarto, bem tranquila. Ou sair com ele. A presença dele me agradava, é claro. Era divertido conversar com ele. Mas eu meio que sentia receio.

_Então…_Ele interrompeu meus pensamentos. Pisquei rapidamente, e ele me olhou meio que sugestivamente. Eu sabia que devia dizer não. Mas, mais uma vez, fui vencida. Totalmente derrotada murmurei:

_Não posso voltar tarde._Ele pegou meu pulso novamente e fomos caminhando pra praia.

 

Capitulo 8

Na praia ficamos andando sem rumo. Apenas caminhando e conversando. Igor me fazia rir toda hora com suas piadas idiotas e gestos exagerados enquanto explicava algo. Percebi que estava gostando de ficar com ele. Estava gostando mesmo…

Meus pés descalços, igual aos dele, sentindo a areia acariciá-los. Nós tínhamos os tênis no pescoço, os cadarços amarrados e pendurados na nuca. Volta e meia de tanto rir eu acabava esbarrando nele e ele em mim, o toque dele, mesmo que por pequenos instantes, me arrepiava. Até que de tanto esbarrar caímos os dois na areia, cansados de andar.

_Você consegue ser mais sedentária que eu._Ele disse, parecendo alegre.

_Eu não sou sedentária.

_Preguiçosa ou acomodada? Escolha.

_Eu gosto do confortável. É diferente.

_Aqui está confortável pra você?_Ele disse, sentando mais perto de mim. Desviei o olhar constrangida, não respondendo._Estou esperando sua resposta.

_Você é bem cara de pau, né?

_Eu prefiro dizer que sou bem direto. Responda minha pergunta.

_Sim, aqui está confortável._Ficamos em silêncio, um olhando para o outro.

Então… Unindo toda a coragem do meu ser estiquei a mão, fria e trêmula, até o rosto dele, acariciando a sua bochecha de leve. Os olhos dele se fecharam por alguns segundos, até se fixarem nos meus, com algo mais do que surpresa, algo que eu não soube definir. Lentamente puxei seu rosto, cada vez mais próximo ao meu. Fechei os olhos, ainda guiando seus lábios até mim. Até que algo deu errado. Senti uma mão no meu pulso, que tirou a minha mão do rosto dele com firmeza. Abri os olhos assustada. Ele desviou o olhar. Boquiaberta, senti a vergonha e a humilhação me tomando por completo.

_O que eu fiz?_Soprei as palavras.Sentia o sangue subir rapidamente até meu cérebro. Me deixando tonta. Repassei o que tinha feito… Como eu fui ridícula! Eu sou ridícula.

_Nada. Você não fez nada._Além de passar vergonha, pensei.

_ Pensei que você quisesse também._Murmurei baixinho. Eu sentia mais do que humilhação. Era raiva, raiva, porque eu pensei que ele queria algo. Parecia, ele dava todos os sinais. E agora… Fazia isso. Eu me sentia enganada e quando eu me sentia enganada, eu ficava igualmente irritada e com raiva. Me levantei, exasperada. E saí andando, batendo o pé. Me sentindo ridícula.

_Malu! Espera… _Ignorei seus protestos e continuei andando. Senti dois braços me virando._Me desculpe, eu…

_ Já entendi, você não quer.

_Eu quero!

_Me poupe! Eu já entendi. E quer saber? Já chega. Me deixa ir._Puxei o braço, me soltando e recomeçando a andar.

_Me deixa, ao menos, me explicar.

_Não tem o que explicar! Eu já entendi! Me fez de idiota. Deixa pra lá. Não quero mais saber, ok?_Falei enquanto continuava andando._Vamos fingir que nada disso aconteceu. Melhor! Vamos fingir que nunca nos conhecemos. Parece bom pra mim.

_Espera!_Ele me segurou novamente e puxei o braço ainda mais com força.

_Já chega, ta legal? Que tipo de joguinho acha que ta jogando comigo? Não sou um brinquedo. Não pode ficar me manipulando. _Eu sentia uma raiva poderosa mesclada à humilhação dentro de mim. Eu me sentia enganada, me sentia patética e não conseguia controlar as palavras que saltavam da minha boca, expondo meus pensamentos embaralhados. Basicamente, eu estava descontrolada._Admita… Fez de propósito não é? Me fez querer, para depois simplesmente… Aff. Isso é ridículo. Não sei por que estou conversando com você. Com certeza é a última vez!

_Você não entende!

_Tem razão. Não entendo. Odeio bipolaridade, porque eu sou bipolar. Se já é difícil lidar comigo mesma. Imagina com mais um. Não dá. _Respirei fundo, tentando me acalmar._Sério. Esquecendo tudo nesse instante. Vamos fingir que nunca nos conhecemos.

_Você é mesmo muito drástica e dramática._Ele disse, parecendo agora também alterado.

_Quer saber? Me erra!_Sai andando e deixei um Igor estático atrás de mim. Ao longe ouvi um resmungo de raiva. Sem poder me conter olhei para trás e percebi que ele estava sentado na areia, curvado. Recomecei a andar, prometendo a mim mesma que deixaria a droga desse dia para trás, na areia. Claro que isso foi meio que impossível.

No meu quarto, de banho tomado e penteando os cabelos, a imagem de Igor não saia da minha mente. Mas o que atormentava eram as imagens, como um filme que passava pela minha cabeça. E o pior, eu não conseguia sentir raiva dele só por ele ter me constrangido daquele jeito. Eu sentia raiva de mim mesma também, sentia raiva por ficar imaginando como seria nosso beijo. Sentindo raiva de só imaginar como seria o gosto, a textura… Eu sou patética.

Joguei a escova de cabelos de lado, totalmente frustrada. Me deitei na cama, puxando um travesseiro, deitando a cabeça dele o apertando próximo ao ouvido. Suspirei. Minha janela estava aberta e ventava suavemente, me deixando arrepiada. O vento por sua vez trazia o cheiro do mar. Percebi horrorizada que Igor tinha cheiro do mar, e a brisa suave me lembrava da sensação do toque dele em minha pele… Fechei os olhos, irritada, frustrada, magoada e chateada comigo mesma. Não era possível eu ter me apegado a algo que eu conhecia há apenas um dia. Depois de muito me revirar na cama, acabei adormecendo, com o nome dele na minha mente.

 

Capitulo 9

Acordei confusa e com as costas doloridas. Mais uma vez eu tinha dormido de mal jeito. Sentei na cama, me espreguiçando. Senti um estalo nas costas e percebi que a dor melhorara. Me levantei, de olhos fechados e saí tateando pelo quarto até chegar ao banheiro. Molhei o rosto, e tentei abrir os olhos, ainda pesados. Gemi ante a minha imagem no espelho, descabelada, com a cara inchada. Ainda com o cérebro quase parando entrei no banho, quente.

Depois do banho, agora mais desperta fui me trocar. Parei no quarto, e vi a sandália cheia de areia. Imediatamente comecei a me lembrar da noite anterior e corei furiosamente, de raiva. Bufei e fui até a minha mala, escolhendo a roupa. Tentando pensar em tudo, menos nele.

Me vesti, ainda nervosa e peguei meu celular. Três chamadas do meu pai e uma mensagem de texto dele pedindo para eu ir tomar café. Viu como sou popular? O único que me liga e manda mensagens é o meu pai. Abri a porta e saí do quarto, evitando olhar para a porta ao lado.


Desci de escadas, com dor de cabeça, aproveitando minha ressaca moral. Eu sentia raiva e vergonha, ainda. Eu tinha que parar com isso, ficar remoendo coisas passadas. Eu tinha que esquecer, ignorar, mas era difícil. Vi meu pai sentado em uma mesa, com Carlos ao lado. Sentei ao lado deles, sem dizer nada.

_Bom dia._Os dois disseram.
_Oi.
_Se divertiu na noite passada?_Carlos perguntou, interessado demais. Dei de ombros.
_Chegamos tarde ontem. _Meu pai falou. Será que ninguém percebia que eu não queria papo?
_Eu não vi vocês chegando, dormi cedo.
_Hum.
_Pois é._E assim, a conversa com meu pai se encerrou. Ignorei-os e só comi meu café da manhã, sonolenta e raivosa.
_Vai pra praia hoje?_Levantei os olhos do prato, surpresa. Meu pai nunca foi de muitas palavras e na verdade ele me deixava bem a vontade.
_Não.
_Então vai andar naquele calçadão?
_Também não._Respondi, voltando ao meu prato.
_Isso é ruim. Eu comprei um skate para você lá no centro da cidade, porque sei que você não trouxe o seu. E imaginei que você iria gostar de andar hoje, já que não está tão quente para ficar na praia._Olhei para o meu pai, agora sorrindo de orelha a orelha. Levantei da mesa e corri para abraçá-lo.
_Obrigada, pai!_Ele riu sem graça e eu me afastei._Onde está?
_Lá em cima, no meu quarto. Vá pegar.
_Certo._praticamente corri até o elevador e depois até o quarto do meu pai. Abri a porta e me deparei com uma Cristina meio verde sentada na cama, ela parecia doente._Você está bem?
_Não é da sua conta.
_Wow, que amor e carinho.
_O que você quer?
_Meu skate._Continuei parada na porta, batendo o pé.
_Ah, seu pai me deixou irritada em comprar essa droga pra você.
_Só fala logo onde tá._Ela apontou pra um canto do quarto, peguei a sacola grande e imediatamente saí do quarto, batendo a porta. Fui até meu quarto e abri a porta, e abri a sacola. Era um skate bem bonito, nele havia um desenho de uma caveira com corações bem vermelhos em volta. Era… Perfeito. Sorri, agora mais animada.

Eu estava andando a algumas horas de Skate no calçadão que tinha aqui e dado algumas volta pelo quarteirão. Era um lugar bonito e eu tinha conseguido me distrair de outros assuntos. Mas agora, sentada no banco, sozinha, várias coisas passavam pela minha mente.

 

_Pensativa?_Levei a mão ao coração tamanho o susto que levei.
_Quer me matar?
_Não, não mesmo._Não olhei para ele, na verdade eu não queria olhá-lo. A voz já era ruim o suficiente. Ficamos em silêncio por alguns segundos._Por que não olha pra mim?
_Por que você não vai embora?
_Porque eu não quero.
_Eu não quero algo também. Não quero você aqui.
_Queria conversar com você.
_Não temos o que conversar.
_É claro que temos. Não sei você, mas ontem fiquei remoendo aquela coisa que aconteceu na praia a noite inteira. Não quero dormir mal de novo hoje.
_Claro, não quer ficar com dor na consciência. Pobrezinho._Ironizei.
_O que espera que eu te diga ou faça? Por que eu não sei! _A voz dele era meio implorativa. Olhei os meus pés, constrangida e nervosa. _Não aja como se me conhecesse bem.
_É eu não te conheço. Esse é o problema.
_ Olha pra mim!_Olhei para ele, assustada com seu tom de voz. O que eu vi me assustou, ele tinha os olhos brilhantes, os lábios vermelhos e enquanto falava fazia gestos exagerados com a mão. Senti o coração acelerar._ Mas poderia conhecer e… Cara. Eu sinceramente não explicar o que houve. Eu queria ter um motivo pra explicar, mas você não entenderia, não tenho como explicar. Eu só… Eu só…
_Não sabe por que fez aquilo. Tudo bem. _Suspirei._Não estou com raiva, não quero mais pensar nisso.
_Me desculpe.
_Você não foi meu primeiro beijo mal sucedido. Não haja como se tivesse tanta importância._Ri sem vontade.
_Se não teve tanta importância porque ficou tão chateada?_O tom de convencimento em sua voz me irritou.
_Eu não fiquei chateada!
_Não?
_Mas é claro que não! Seu metido, arrogante. Não sei por que parei pra tentar conversar com você._Me levantei do banco, mais uma vez irritada.

Peguei o skate e estava prestes a andar, quando uma mão segurou meu braço, me puxando pra perto e colocando tão rápido nossos lábios que eu fiquei alguns segundos sem conseguir ter alguma reação. Irritada tentei me soltar, mas sua mão, cravada na minha nuca e puxando meus cabelos, me impediram de tentar novamente. Fiquei estática até que senti a sensação dos seus lábios, a textura e, finalmente, o gosto… Meio mole deixei o skate cair e me entreguei ao beijo. Sentindo meu coração explodir correspondi o beijo com tanta intensidade quanto ele me beijava. Me senti derreter no peitoral másculo dele e quando sua mão apertou minha cintura com força, esqueci meu próprio nome. Eu só queria me fundir ali, queria que aquilo não acabasse. Cedo demais ele se afastou, colocando o queixo na minha testa. Continuei de olhos fechados.

 

_Ainda com raiva?
_Arran.
_Jura?_Abri os olhos, me deparando com os seus próximos aos meus. Próximos demais, respondi a primeira coisa que veio a minha mente, mecanicamente.
_Arran.
_Tenho o remédio certo para sua raiva._Então ele me beijou novamente e eu procurei esquecer. Esquecer a raiva, esquecer tudo. Só aproveitar o momento.

 

Capitulo 10

 

Eu e Igor continuamos juntos pelas duas semanas seguintes. Nossa situação não estava resolvida, digamos assim. Nunca paramos para conversar sobre namoro, claro que o assunto surgia diversas vezes, mas eu logo cortava Igor. Eu tinha medo de que ter um relacionamento, cheio de cobranças, iria acabar nos afastando. O fato é que eu não queria que isso acabasse, não queria que eu e Igor nos preocupássemos. Eu só queria, uma vez na vida, não fazer planos, deixar rolar… Sem me preocupar, agora, com as conseqüências.

Nosso tempo juntos nos últimos dias tinha diminuído significativamente, Igor e seu amigo, Pablo, haviam começado o trabalho voluntario no planetário, então ele passava suas tardes lá. Hoje eu iria visitar o lugar, logo de noite, porque como ele disse “tudo se tornava mais bonito”. Me arrumei no espelho, querendo ficar bonita. Difícil, eu nunca me considerei muito bonita. Eu nunca me achei sequer bonita. Eu era feia. Olhos cor de mel, cabelos compridos e escuros. Me limitei a esquecer a aparência. Se Igor, lindo do jeito que era, estava comigo era por que eu devia ter algo atrativo, oras!

Desci as escadas cantarolando, extremamente animada e feliz. Acabei esbarrando em Carlos no caminho.

_Aonde você vai?
_Isso não é da sua conta._Tentei contorná-lo, ele não deixou. Limitando-se a ficar parado a minha frente._Vou dar uma volta.
_Aonde?
_Não enche, Carlos.
_Percebi que anda saindo muito com um garoto aí.
_Aff. Para de querer tomar conta da minha vida.
_Seu pai ia gostar de saber.
_Olha Carlos, não sei porque ta pagando de preocupado. Não enche ta legal?_Passei por ele rapidamente, deixando-o irritado para trás. Carlos andava com essa mania de achar que eu devia algum tipo de satisfação para ele. Saí do hotel satisfeita por não topar com mais ninguém. A pequena conversa com Carlos já fora suficientemente desagradável.

~*~

Acompanhei as pessoas de uma excursão pelo planetário. Era um lugar extremamente interessante. Com maquetes gigantes e extremamente bem feitas do universo. Havia também telescópios que causavam curiosidade e assombro. Admirada com todo o lugar não toquei em nada, me limitei a olhar, entendo agora porque Igor gostava tanto desse lugar.

Parei em frente a uma tela gigante, que tomava toda a parede, em que mostrava o sistema solar e depois uma grande chuva de meteoros. Parecia que se eu esticasse as mãos, poderia tocar as estrelas. Eu sorri boba, sentindo como se estivesse fora de órbita.

_Gostou?_Dei um pequeno pulo, sendo tirada brutamente da minha pequena divagação. E me deparei com um Igor sorridente, ainda usando o uniforme do lugar.
_Que susto!
_Desculpe.
_É tão… maravilhoso.
_Você acha?
_Óbvio.
_Vem, quero te mostrar um lugar._Ele segurou minha mão, que eu apertei com força e passos por alguns corredores e depois subimos algumas escadas. Entramos numa sala extremamente grande, com um telescópio bem no centro, o maior que eu já vira.
_Quer ver?
_Posso?
_Claro._Ele me guiou até o telescópio e o arrumou para que eu pudesse ver. O céu a essa hora já estava escuro, então eu pude distinguir as estrelas bem demais. Eram tantas estrelas que foi como se eu tivesse vendo-as perto demais.
_Uau!
_É lindo não é?
_Muito!_Então ele começou a explicar sobre as estrelas, que eu mal escutei. Concentrada demais em como elas pareciam bonitas. Percebi que Igor parara de falar e tirei os olhos do telescópio, agora concentrada em sua expressão.
_O que foi?
_Você.
_O que eu fiz?
_Tudo, você fez tudo.
_Não estou entendendo nada.
_Como não? Você mudou tudo, tudo para mim. Fez com que eu me sentisse o cara mais sortudo do mundo em um momento que eu nunca pensaria que isso aconteceria.
_Algum de nós tem que fazer a diferença, não é?_Eu disse, irônica. Mas sentindo-me mais do que feliz.
_Metidinha._Ele disse, me puxando para um abraço. Passei os braços pelo seu pescoço, que logo foi beijado levemente._Meu pedido se realizou, sabia?
_Que pedido?
_Pedi, há algum tempo atrás, alguém para amar, de verdade._Fiquei em silêncio, sentindo o coração quase arrebentar de tanto sentimento._No final, aconteceu mesmo.
_Eu te amo._Sussurrei.
_Eu te amo mais.
_Você é o primeiro que diz isso: Eu te amo._Deitei a cabeça em seu peito, aproveitando o momento.
_Quer dizer que nenhum cara te disse isso?
_Até disseram… Mas você é o único que eu acreditei.
_É porque é verdadeiro.
_Espero que seja mesmo.
_Está duvidando?_Olhei para ele, que tinha as sobrancelhas unidas.
_Não, quer dizer… Não sei.
_Sabe por que vamos ter certeza que é verdadeiro? Porque não vai acabar. Eu não vou deixar acabar, não vou deixar de te amar.
_Sem promessas._Não quero me machucar, pensei. Na verdade, promessas sempre pareceram serem feitas para serem quebradas. E eu não queria isso, de jeito nenhum.
_Estou prometendo a mim mesmo.
_Você não existe, sabia?
_Existo. Existo por você.
_Adoro quando você fica meloso assim._Mordi o lábio e ele fez uma careta adorável.
_Cala a boca e me beija logo, sua metida._Beijei-o, sem pensar duas vezes, sem pensar em mais nada.

 

Capitulo 11

 

Ir embora com Igor para casa só deixou a noite ainda mais interessante. Ainda mais porque decidimos ir embora a pé. Viemos caminhando durante uma hora, e pela primeira vez, a garota mais sedentária do mundo, não se sentiu cansada. Eu ficava mais cansada pelas risadas que acabava soltando no caminho.

Entramos no hotel entre risadas e de mãos dadas e nos deparamos com meu pai. Igor apertou minha mão com força e meu pai nos encarava de braços cruzados. Engoli em seco, odiava quando meu pai olhava assim; era assustador, porque raras vezes meu pai se irritava, pior… Raras vezes ele se preocupava em saber onde estou. E me pegar assim no flagra era estranhamente assustador.

_O que está havendo aqui?_O que eu deveria responder ao meu pai? “Uns pegas”que não né? _Quem é ele?
_Um amigo. A propósito, este é o meu amigo, Igor._Eu tenho essa mania de complicar ainda mais a minha vida. Tanta coisa pra dizer; e eu digo amigo. Eu poderia dizer só… desconhecido, né?
_Amigo? Amigo que você anda de mãos dadas?
_Ér…
_Responde, Maria de Lourdes. _Ferrou. Meu nome sendo proferido completo? Não sabia se me apavorava ou batia no meu pai por dizê-lo em voz alta. Meu nome é horrível! Respirei fundo e olhei para Igor, que parecia apavorado. Controlei a vontade de rir e falei._Acho melhor você subir, Igor.
_Hãn?
_Quero conversar com meu pai.
_Não, eu fico…
_Vai logo!
_Ta bom._Ele sorriu envergonhado pro meu pai e saiu andando até lá em cima cabisbaixo. Olhei para meu pai, esperando o sermão.
_Ele já ta te obedecendo tão fácil assim?_Acabei rindo, meu pai é estranho.
_Digamos que é um dom. Você tava se fingindo de bravo ou está mesmo bravo?
_Um pouco dos dois. Tenho que assustar o namorado da minha filha.
_Pai! Ele não é meu namorado.
_Então devo ficar ainda mais preocupado?Essa coisa de relacionamentos sem compromisso…
_Pai, não precisamos ter essa conversa. Melhor, não vamos ter essa conversa! Não se preocupe, não sou idiota. Tenho tudo sob controle.
_Não dá pra controlar o coração.
_Pai, isso é brega. E se torna infinitamente mais brega com você dizendo. Então… por favor. Sem traumas para sua querida filha.
_Você tem que parar com isso.
_Isso o que?
_Deixar a opinião dos outros de lado e só querer saber da sua. É bom você ser independente, mas todo mundo precisa conversar de vez em quando.
_Vou me lembrar disso. Posso ir?
_Devo me preocupar?
_Não. Tudo sobre controle, principalmente o coração._Eu disse irônica e meu pai revirou os olhos. Saindo de perto de mim. Respirei aliviada. E subi correndo as escadas, o elevador estava demorando. Bati na porta de Igor, diversas vezes. Ele não abriu. Bufei. Onde ele se meteu? Desisti, entrando no meu quarto. O quarto estava vazio, então resolvi tomar um banho. Comecei a tirar a blusa e quando estava quase conseguindo ouvi uma risada baixa vinda da pequena varanda. Arrumei a blusa, extremamente vermelha.

Peguei minha escova que estava do lado, bela arma e fui devagar até a varanda. Igor me assustou me pegando no colo, aparecendo do nada, ainda rindo. Ele me jogou na cama enquanto eu ria. E fez menção de se jogar junto, o que aconteceu segundos depois. Quando ele pulou na cama, com medo dele me esmagar rolei para o lado e caí no chão. Completamente patética.

 

Capitulo 12

 

Cobri o rosto, rindo e senti duas mãos tirando elas do meu rosto. Igor ria de mim ainda em cima da cama.

_Vai fugir do nosso ninho de amor?
_Cala a boca!_Empurrei ele que rolava de rir na cama.
_Quem quase fez um stripper foi você!
_Eu não.
_Foi sim!
_Não foi._Senti as bochechas corarem.
_Não? Então quem fez isso?_Ele pulou da minha cama e foi para minha frente. Fazendo menção de tirar a blusa, colocando a mão na boca e tudo. Levantei do chão, pegando um travesseiro e tacando nele._Que foi? Não estou sexy o suficiente?
_Igor, você precisa de uns bons tapas.
_Vem me bater.
_AHHHH._Corri atrás dele pelo quarto com o travesseiro._Idiota!
_Quem ta correndo atrás de mim é você.

Cansada sentei na cama. Tentando me recuperar, a mão no coração. Igor ria encostado na parede.

_Se eu te pegar Igor, você vai ver.
_Pegar, hein? Sorte a minha.
_Que foi que você bebeu?
_Adrenalina. Mexe com meu cérebro._Ele deu um tapinha na cabeça. Controlei o riso.
_Você bebeu adrenalina?
_Não. Idiota._Ele sentou do meu lado, rindo de leve.
_Sua idiotice é em tempo integral, a minha não.
_Quem caiu da cama?
_Sem comentários._Ri baixo.
_Maria de Lourdes… Maria de Lourdes… Não minta para seu amiguinho.
_Se você me chamar de Maria de Lourdes de novo amiguinho taradinho. Eu te jogo pela varanda.
_EU POSSO VOAR._Deitei na cama, com as mãos no rosto.
_Desisto de você! Desisto!
_Desistiu nadaa!_Ele deitou do meu lado. Apenas os braços roçando. Ele ficou em silencio e eu pude ver sua cabeça inclinando na minha direção. Comecei a ficar nervosa. O dia perfeito estava se tornando estranho._Estou com sono.
_Pula a varanda de novo.
_Me expulsando?
_Ta tão óbvio?
_Você não dá valor pra mim, sabia?_Ele resmungou.
_Não?
_Não._Ele começou a fazer carinho no meu braço. Sorri involuntariamente.
_Estou com sono também.
_Dorme, oras! Se quiser te ensino a fechar os olhos e contar Igorzinhos.
_Você é tão bebê.
_Quem ta deitada no meu braço é você.
_Não estou._Então ele me puxou, me fazendo deitar em seu braço.
_Agora está.
_Huum._Fechei os olhos, estava bom aqui. A sensação era boa, o cheiro era bom._Acho que vou mesmo dormir, mas com você aqui fica difícil.
_Vou te ajudar._Ele começou a fazer carinho no meu cabelo e a cantarolar._1,2,3 Igorzinhos.4,5,6 Igorzinhos.
_Essa não é a musiquinha dos Indiozinhos? Não deviam ser carneirinhos?
_Índios e Igor dão mais emoção.
_Cala a boca._Ri m aconchegando no seu braço.
_Sim, senhora._Ele ficou em silêncio e eu ri de leve. Antes de bocejar a e fechar os olhos. Esperando ele falar novamente. Para minha surpresa ele ficou em silêncio por um longo tempo. Abri os olhos, curiosa. Igor tinha os olhos fechados e a expressão tranqüila. Ele tinha dormido. E agora? Eu tinha duas opções. Acordá-lo para mandá-lo ir embora. Ou deixá-lo dormir aqui. A segunda opção me deixava nervosa, por vários motivos, um deles é que se meu pai batesse a porta, seria extremamente constrangedor, os outros motivos não são dignos de comentários. Sentei na cama. Confusa.
_Igor?_Sussurrei.
_Tenho que ir embora né?_Me assustei.
_Pensei que estava dormindo.
_É. Acho que se eu dormisse você me tacaria mesmo pela varanda.
_Sou uma namorada tão ruim assim?_Eu disse brincando e passando as mãos nos seus cabelos.
_Você não é minha namorada. _Igor abriu os olhos, me encarando daquela forma que me inquietava. Como se ele pudesse ler através de mim._Você não quis ser, de todas as vezes que tentei pedir, você recusou.
_Não vamos conversar sobre isso._Tirei as mãos do seu cabelo. Sentando e abraçando meus joelhos.
_Por quê?
_Porque, eu não quero?
_Adoro quando me respondem com outra pergunta._Ele murmurou irônico e contrafeito.
_Exatamente por isso que eu faço sempre._Respondi, tentando descontrair. Isso não adiantou. Igor sorriu de leve, então se sentou. Me dando um selinho.
_Boa noite._Se levantou da cama e saiu pela varanda. Me deixando confusa. E eu fiquei ali, com a sensação que algo estava dando muito, muito errado.

 

Capítulo 13

Acordei confusa, me lembrando da noite de dois dias atrás, acabei me encolhendo na cama. Sem querer levantar. Fazia dois dias que eu e Igor estávamos estranhos um com o outro. Ele andava ficando carrancudo e notei que ele andava recebendo várias mensagens no celular, talvez da família, não sei. O fato é que nada era o mesmo, ele andava silencioso e muitas vezes eu o pegava me olhando de um jeito estranho… Como se eu fosse desaparecer a qualquer instante. E isso me preocupava e muito!

Me encolhi mais ainda na cama e involuntariamente comecei a pensar, comecei a pensar em Igor, em nós. Pensar na nossa ‘situação’. Estávamos juntos, desde as férias, a pouco mais que um mês. Um mês e meio, em um relacionamento que não era considerado um namoro propriamente dito. Não que eu tivesse ficado com outro garoto enquanto estava com ele, e tenho certeza que ele também não ficou com mais ninguém. E bem… Eu gostava dele, mais do que isso, eu estava apaixonada por ele, eu não tinha dúvidas! Mas mesmo assim, eu tinha meio que… medo. Garotos me confundiam e eu não queria ser deixada para trás. E ainda assim, mesmo insegura, eu queria ficar com ele, queria poder chamá-lo de meu, definitivamente. Pesei os prós e os contras e depois, deixei de tentar pensar no certo e o errado. Não havia mais certo, só havia o Igor. Ele podia ser idiota e bem misterioso, mas sempre carinhoso comigo.

Claro que ele tinha seus momentos, em que ele se afastava do nada e ficava pensativo, mas sempre atribui isso a algum problema na família dele. Nós nunca falávamos de nossa família, o máximo que eu sabia da família dele era que ele era filho único e com um pai bem rígido e o máximo que ele sabia da minha é que meus pais eram divorciados e eu tinha duas irmãs. Nunca conversamos sobre família, nunca veio ao assunto. Mas pensando agora… Eu queria saber sobre a família dele. Queria saber sobre tudo dele. Eu era uma idiota apaixonada e o pior… Eu não me importava em ser idiota, não por ele.

Sorri; já animada e me levantando. Eu iria conversar com ele, agora. Dizer que eu não me importava em ser sua namorada, que eu fui idiota em negar os seus quase-pedidos todas às vezes que ele tentou. Corri para o banho, agitada. Tomei um banho rápido e vesti uma saia até os joelhos e uma blusa mais levinha. Desci as escadas, ansiosa, já sabendo onde ele estaria. Na praia.

Atravessei a rua, caminhando pela areia. Agitada demais para andar calmamente, avistei Igor conversando com Pablo, estava meio pálido. Minhas sobrancelhas se juntaram, preocupada, mas mesmo assim não perdi a animação. Pablo me viu primeiro, parando de falar e esperando eu chegar mais perto. Parei ao lado de Igor, que olhava o mar, mordendo os lábios.

_Oi.
_Oi._Os dois responderam ao mesmo tempo. Balancei os braços, ainda aflita.
_Pablo… Eu posso falar com o Igor um pouquinho?
_Claro…_Ele mexeu de leve no meu cabelo ao passar.
_Igor…
_Sim?_Ele olhou para mim e percebi grandes olheiras em seus olhos. Engoli em seco, passando as mãos pelos cabelos.
_Você ta bravo comigo? Seja o que foi que eu fiz; me desculpe. Eu ando sendo tão idiota e criança… _Atropelei as palavras, me sentindo idiota._E eu preciso conversar com você.
_Espera! Eu preciso conversar algo com você. Mas… Eu não estou bravo com você.
_Não? Pareceu que…
_Não é culpa sua que você não queira ser minha namorada, não tenho porque te culpar por isso. Eu fui criança.
_Agora espera você! Você estava certo e eu estava cega. Na verdade… Eu quero ser sua namorada, eu já me sinto assim. E eu sinto como se você fosse meu. Eu estava insegura porque… Eu não sei. Eu fui idiota, não posso achar que todo mundo vai me magoar e… eu confio em você. Mais do que isso, eu realmente amo você, Igor._Sorri para ele, hesitante. Sentindo as bochechas corarem, mas algo inquietou meu coração. Igor me olhava triste, um sorriso triste brincava nos seus lábios. Senti medo._Igor… O que eu fiz?
_Nada, você não fez nada. Você só é… Você é perfeita Malu. Perfeita demais pra mim._Ele se afastou um pouco, passando as mãos pelo cabelo._ Eu fui tão… idiota! Eu não devia ter feito isso. Eu nem sabia que ia me envolver tanto, eu só fiz! Não pensei nas conseqüências, não pensei em nada. Eu só quis ficar com você… Mas você é demais pra mim. Eu só… Sou um idiota!
_Está… arrependido de ter ficado comigo?_Gaguejei as palavras, sentindo que tinha feito tudo errado.
_Não! Claro que não. É só que… Eu tenho que contar uma coisa, que eu venho adiando há muito tempo. Mas eu ficava com… medo, porque…. Eu te amo, Malu. Eu realmente te amo e…
_Você está me assustando! Igor… Me explica logo o que ta acontecendo?_Meu coração se acelerou e uma angustia se apoderou de mim.
_Igor!_ Alguém gritou ao longe. Vi uma garota animada caminhando a frente de Pablo, que parecia querer detê-la. Ela era muito bonita. Da idade de Igor, uns 18 anos, os cabelos eram castanhos e compridos, mas bem mais claros que os meus. Tinha um sorriso no rosto e ao chegar perto abraçou Igor com força._Senti tanta a sua falta! Eu sinto muito, muito… Por tudo. Eu fui uma idiota, mas não quero ficar mais longe de você. Então vim te fazer uma surpresa e acabar logo com esse tempo tão idiota. Senti tanta a sua falta; amor…

Então para minha surpresa ela tentou beijá-lo. Igor a afastou e eu fiquei ali, boquiaberta. Estática. Dei dois passos para trás, esbarrando em Pablo atrás de mim.

 

_Quem é essa, Igor?_A garota perguntou, parecendo surpresa. Ainda segurando as duas mãos de Igor, e me analisando, confusa. Igor ficou sem falar e eu tive medo da sua resposta. Me enchendo de coragem perguntei:
_Quem é você?
_Eu sou a namorada do Igor.

 

Capítulo 14

_Namorada? Do Igor?

_Sim, sou._Olhei para Igor, perdida._É sua amiga, Igor?
_Igor… Ela é sua namorada?_Ele não negou, só soltou as mãos da tal garota. Senti as lágrimas cegando meus olhos, pisquei. Sentindo uma profunda dor no peito. O vento balançou meus cabelos._Você mentiu.
_Eu não menti!
_Mentiu! Você mentiu._Balbuciei, confusa. Tudo se juntando na minha cabeça._ O tempo todo você mentiu…
_Igor… Como assim mentiu?_A garota se intrometeu._Me explica.

Ela podia pedir satisfações, ela era a namorada dele. Eu me sentia tão estúpida, tão… enganada. Dei alguns passos para trás e virei as costas. Senti um par de braços me puxando.

_Malu… por favor.
_Você mentiu. Me fez dizer tudo aquilo e… Oh. Me solta, não agüento olhar pra sua cara. Esquece.
_Só me escuta.
_Não importa o que você diga! Eu não me importo, eu não quero saber. Eu nunca vou te perdoar Igor, nunca mais. Esquece as últimas semanas, esquece tudo, esquece de mim. Esquece… _Puxei meu braço com força e desatei a correr pela praia, me afastando. Sentindo as lágrimas molharem meu rosto. Sentei na areia, próxima a algumas pedras, sentindo a maré baixa molhar as pontas dos meus dedos. Comecei a chorar, lembrando das hesitações, de quando seu humor mudava bruscamente. Ele tinha namorada! Era esse o motivo dele me olhar daquele jeito, com culpa, amargura, medo… Que droga de amor que nada! Eu fui um passatempo, um passatempo até a namorada chegar.

Fiquei lá não sei por quanto tempo, água agora molhando os meus pés, eu não me importei. Estava meio insensível e soluçava; sem poder controlar as lágrimas. Traída, humilhada, enganada. Era assim que eu me sentia.

Sentei alguém se sentando ao meu lado, me encolhi mais ainda. Olhei pelo canto do olho, visualizando a camisa de Pablo. Olhei para cima, sem vergonha das lágrimas que escorriam pelos meus olhos. Os grandes olhos castanhos extremamente claros de Pablo me trouxeram lembranças e vi que ele sentia pena.

_Você sabia, não é?
_Ele é meu melhor amigo. Eu sei tudo sobre ele.
_Então você mentiu pra mim também.
_Ele não mentiu para você, ele… omitiu.
_Uma namorada? Como alguém omite uma coisa dessas? Ele estava ficando… comigo! Ele me devia algo, não é? Eu nunca pensei na possibilidade de ele ter alguém, ele quase me pediu em namoro. Argh!
_Escuta, duvido que você entenda. Nem eu entendo, é complicado demais. Igor e Mônica são… compatíveis, até demais, e por serem tão iguais, eles vivem brigando. Eles namoram há muito tempo, eles brigam também, sempre. Eles tiveram uma briga e deram um tempo, não exatamente um tempo. Ela não queria que ele viesse pra cá e ele veio. Ficaram sem contato por vários dias e Igor considerou aquilo um término. Talvez pra ela não tenha sido a mesma coisa.
_Então, a alguns dias ela ligou pra ele, dizendo que queria voltar. Ó, que simples! Então… É só me dar o fora e tudo fica bem…
_Não foi bem assim. Você ta certa em partes, ela começou a ligar, ele ignorou por que… ele estava com você. Mônica nunca achou que eles terminaram, só perderam o contato. Ela sempre foi… egoísta. Ela sempre pensa no que é melhor para ela. Com essas ligações, ele se sentiu culpado e confuso, por que… Ele gosta de você e gostou dela por muito tempo.
_Se ele gostasse de mim, tinha me contado tudo.
_E você entenderia?
_Entender que ele gosta de uma garota há muito tempo, quer esquecer então dá em cima da primeira idiota e engana ela durante semanas? Não, eu não entenderia, eu não entendo. Eu não quero entender. Eu só… Quero fingir que ele não existiu.
_E você vai conseguir?
_Eu tenho que conseguir. E só uma droga de amor de férias, isso passa. Sempre passa.
_Quantos garotos você já amou e quantas vezes você já superou?
_E quem disse que eu o amo? Eu não o amo, não posso amar alguém tão egoísta.
_Está na cara que você ama ele. Vocês dois são egoístas, mas gostam demais um do outro.
_Vai embora, Pablo. Não preciso ouvir isso.
_Malu, eu sinto muito.
_Eu não preciso disso. Não preciso de alguém dizendo que sente muito. Realmente não preciso._Me levantei, pegando minha sandália e começando a andar de volta ao hotel. Minha cabeça latejava por causa das informações e pelo tanto que eu acabei chorando. No caminho vi Igor sentado no banco, naquele lugar que nos beijamos pela primeira vez.

 

Capítulo 15

Fiz menção de dar meia volta, mas ele me viu primeiro. Caminhei rápido, passando pelo banco. Totalmente aflita. Infelizmente ele se levantou e segurou meu braço, com muita força.


_Me solta._Choraminguei, a voz chorosa. Percebi que chorava. Orgulhosa do jeito que sou, limpei os olhos com a mão livre para que ele não visse as lágrimas.
_Malu, por favor… Me escuta._Notei um desespero em sua voz, mas tudo que eu queria é que ele sumisse.
_Me solta!
_Eu queria…
_Cala a boca! Você não quer nada! Não poderia querer nada! Você é um idiota. Me deixa em paz!_Puxei o braço com força, sentindo um pouco de dor, sua mão apertava meu braço com força demasiada.
_Solta ela. Agora!_Uma voz alta chegou perto. Aquele garoto, o do 'hey', estava parado próximo a mim.
_Você não tem nada haver com isso.
_Solta ela.
_Você ta me machucando!_Gritei histérica e Igor soltou meu braço rapidamente. Cambaleei para trás e o garoto do ‘hey’ me puxou pelo pulso, me fazendo ficar atrás dele.
_Malu…
_Você não ouviu a garota dizendo pra você deixar ela em paz? Porque eu ouvi! Sai daqui, agora.
_Não se mete…_Igor parecia ameaçador. O garoto deu um passo à frente e eu me agarrei a seu braço, o puxando para trás. A expressão de Igor vacilou.
_Vai embora, Igor. Você não existe mais para mim. Me deixa em paz._Eu disse,a voz firme. Puxei o garoto pelo braço, que ainda encarava Igor com determinação. Quando virei às costas comecei a chorar mais ainda, ele passou os braços pelo meu ombro.

E me puxou para o lado oposto a entrada no hotel. Acabamos parando em uma mesa, com um grande guarda sol, fazia parte da propriedade do hotel. Limpei as lágrimas, querendo não me sentir tão patética assim.

_Não sai daqui, eu já volto._Olhei para ele que sumiu dentro do hotel. Olhei para o alto, olhando o guarda-sol e tentando fazer as lágrimas não escorrerem. Respirei fundo, me acalmando. _Cheguei.

Ele sentou-se no banco e depositou um enorme pote de sorvete de chocolate e duas colherezinhas na mesa. Além de uma barra de chocolate enorme ao lado.

_O que é isso?
_Anti-depressivos. São bem eficientes, confie em mim._Ele sorriu e eu tentei sorri de volta. Ele abriu o pote e pegou uma colher, parecendo confortável mesmo nessa situação constrangedora e levou a colher cheia até a boca, fazendo um gesto para que eu o imitasse. Peguei a colher, sentindo a mão trêmula. Levei até a boca, até o chocolate parecia ter um gosto amargo._ Eu até poderia perguntar o que aconteceu, mas isso não é da minha conta.
_Obrigada, de verdade._Levei a colher a boca novamente, sem saber o que dizer._Não tenho nem como te contar, ainda não entendi tudo muito bem. E a história é muito grande.
_O pote de sorvete é bem grande e eu tenho a tarde livre. Não tenha pressa se isso for te ajudar.
_Costuma ser tão gentil assim?_Ele sorriu._ Como é seu nome mesmo?
_Alexandre.
_Eu sou a…
_Malu.
_É._Parecia que todo mundo aqui sabia o meu nome, então nem me impressionei.
_Desculpe, Alexandre, mas não sei se quero explicar o que aconteceu. Não acho que vá ajudar.
_Tudo bem._Ele empurrou o pote de sorvete e percebi que ele ficaria ali por um bom tempo. Fiquei sem falar nada, sem cabeça para conversar. Apenas me empanturrando de sorvete, percebi agora que o gosto não era tão amargo. Estava bom, embora minha língua estivesse começando a ficar anestesiada por causa do gelado. Ele começou a falar de assuntos leves e ficamos surpresos em saber que ele morava na mesma cidade da minha mãe. Continuamos conversando, ele parecia disposto a me distrair. Mas estava difícil, eu diria impossível.
_Alexandre, desculpe… Mas eu preciso me deitar.
_Ta bom. Qualquer coisa… Eu to por aí.
_Certo. Obrigada._Sussurrei, me levantando.
_Disponha._Sorri e sai de perto dele. Enquanto andava sentia a tristeza voltando. Tentei me apegar à raiva, mas a dor da traição era pior. Subi de elevador e, surpresa, encontrei Cristina, próxima a minha porta.
_O que houve com você? Porque seus olhos estão tão vermelhos?_Porcaria! Abaixei a cabeça e caminhei para a porta, mas Cristina bloqueou o caminho._É por causa daquele seu novo namoradinho surfista? Oh, pobrezinha. Ele cansou de você?
_Sai da frente!
_Isso é bem normal ele te dar um fora. Não fique triste, eu vi como ele era lindo… Muito para você. Aceite querida, não fique se lamentando._Senti os olhos arderem e a garganta apertar. Eu não precisava ouvir isso, não precisava mesmo._ Aceite que você é bem sem graça e isso aconteceria mais cedo ou mais tarde.
_Sai da frente!_Empurrei ela, que cambaleou. Se apoiando na porta ao lado para não cair.
_Cuidado, ridícula! Seu pai vai adorar saber que você me empurrou, ainda mais no meu estado!
_Estado? Que estado?
_Seu pai ainda não te contou, queridinha? Você terá mais um irmãzinho…_Parei com a mão na maçaneta, absolutamente chocada. Engoli em seco e entrei no quarto, batendo a porta com força. Respirei fundo, sentindo o choro voltar com ainda mais força. Me joguei na cama, me encolhendo e fiquei ali, sentindo raiva, dor, humilhação, vergonha. Eu queria desaparecer! Eu nunca me sentira tão idiota na vida, nem tão magoada. Nunca me sentira tão abandonada. Mais do que isso era decepção. Porque o único cara que eu confiei fizera isso comigo.

Ouvi batidas na porta e ignorei.

_Malu?_Ouvi a porta ranger e percebi que meu pai entrara no quarto._O que aconteceu?
_Vai embora._Choraminguei; a cara enfiada no travesseiro.
_O que aconteceu? Cristina me contou que…
_Para de falar dela pai! Eu não quero saber dela.
_Mas ela vai ser sua nova…
_Não! Ela nunca vai ser a minha mãe! Não se onde você estava na cabeça quando achou que trazer nos duas pro mesmo hotel ia adiantar alguma coisa! Eu odeio ela e ela me odeia! Não está óbvio? Eu odeio ela, pai.
_Você só está chateada.
_Para de falar como se me entendesse pai. O tempo todo foi assim, você não entende, nunca vai entender. Eu não a suporto e sei que ela não vai sair da sua vida. Nem quero isso, mas… Não tente me fazer ser amiga dela, eu não posso! Eu não quero! Eu só… Quero sumir, pai.
_Cristina é uma boa moça e ela…
_Vai ter um bebê. É eu já sei. Não sei se posso lidar com isso agora, pai.
_O que esta dizendo?
_Eu quero ir embora. Eu quero passar um tempo com a minha mãe. Você disse que eu poderia fazer isso quando eu quisesse. Eu quero. Eu quero ficar um tempo longe, eu quero ir embora.
_Maria…
_Não me chama de Maria. Por favor… Por favor.
_Sua mãe vai ficar feliz em você passar um tempo com ela._Ele sorriu, tristonho. O abracei, sem dizer nada.
_Obrigada._Fechei os olhos, me sentindo feliz e despedaçada ao mesmo tempo. Eu iria ficar longe desse lugar e… Iria sentir falta desse lugar. Eu só queria ter memória seletiva e esquecer, esquecer tudo.

 

Capítulo 16

Acordei da minha divagação, me levantando da areia. Meu celular vibrou, era uma mensagem de Alexandre, avisando que chegaria dali a dois dias de viagem, ele estava passando as férias naquele mesmo hotel onde nos conhecemos. Alexandre e eu viramos bem amigos, só amigos. Eu deveria ser a única amiga de verdade dele. As outras era amigas com ‘benefícios’. Alexandre tinha algo que atraia mulheres, era super galinha, mas comigo ele era um amor. Na medida do possível, vivíamos por aí, implicando um com o outro desde que bem… Desde que eu mudei para a casa de minha mãe.


Claro que me acostumar com a nova rotina e o modo mais controlador da minha mãe não foi fácil, mas eu acabei superando. Meu pai tem um novo filho, um menino, de alguns meses. Cristina parece ter amadurecido, porque na última vez que eu a vi ela acabou sendo gentil comigo, embora eu ainda ache que foi para impressionar meu pai. Sobre as férias do ano passado, só Alexandre sabia delas. Para minha mãe e colegas, eu tinha sofrido uma decepção amorosa e só. O fato de ser estranha me afastar das pessoas não era justificado por causa de férias, bem, era isso que eu dizia a eles. Querendo, ou não, o conhecer me mudou. Mas eu já tinha superado isso também. Ou era isso que eu gostaria.

Chequei minhas mensagens no celular mais uma vez, havia algumas de minhas ‘colegas’, mas nada específico. Entediada resolvi voltar para casa e além do mais eu estava com fome e nem tinha dinheiro no momento pra poder lanchar em algum quiosque por perto.

**

Entrei em casa, avistando os pés de Ceci no sofá. Ela estava assistindo televisão, mas olhou para mim enquanto eu passava.

_Já almoçamos._Ela disse, quando eu estava prestes a ir para meu quarto.
_É, eu percebi. São quase 4 horas.
_Não vai comer nada? Posso fazer algo para nós…
_Não. Não estou com fome._Na verdade, eu estava com fome. Mas eu sabia o que significava esse convite de Ceci. Significava que ela queria conversar comigo, algo sério. Por isso ela cozinharia, como para compensar. Minha irmã podia ser bem previsível.
_Eu faço questão. Vai Malu, me deixa fazer algo pra nós._Suspirei vencida.
_Ta bom, então._Ela levantou do sofá em um pulo e eu a segui para a cozinha. Sentando no balcão e vendo ela preparar as coisas.
_Malu… O que você achou do Igor?_Revirei os olhos, já esperando algo assim.
_É obrigatório responder essa?
_Essa e todas que virão._Gemi contrafeita.
_Normal.
_Normal?
_É, ele é normal.
_Você odiou ele, não é? Nem adianta negar, eu vi como você ficou distante, como se ele fosse indesejável. Como se você quisesse nunca tê-lo conhecido. E isso só na primeira vez que ele veio aqui. E eu me pergunto… Porque você odiou ele? O que ele tem de errado? O que há de errado com você? Com nós? O que ele fez?
_São muitas perguntas.
_Porque tratou ele como indesejável?_Ela disse, fazendo a pergunta mais difícil, e pegando os ingredientes para um super sanduiche á lá Ceci e começou a cortar o pão.
_Talvez porque ele seja indesejável._Sussurrei baixinho, totalmente irônica. Fiz cara de paisagem ao me deparar com o olhar bravo de Ceci. Respirei fundo, a encarando._Certo. Eu não tratei ele mal, eu só… Não tratei ele bem.
_Você ignorou ele! Ele tentou fazer amizade com você.
_Ponto pra ele! Causou boa impressão em você. O que mais importa?_Olhei para a lâmpada, tentando me concentrar em qualquer outra coisa e não nas qualidades que eu conhecia dele.
_Você poderia ter sido mais legal com ele. Bem mais legal!
_Coitadinho… Tendo que lidar com a cunhada problemática. Tadinho, tadinho._Ironizei. Ela passou maionese nos sanduíches com força demais.
_Não é questão de você ser problemática! Isso todo mundo sabe que você é.
_Obrigada pela parte que me toca.
_É só que… Ele não merecia isso! Você poderia ter sido mais legal._Olhei para ela indignada. Já estava sendo extremamente difícil não quebrar a cara dos dois e ainda tenho que ouvir isso?
_Você tem sorte de eu falar com ele. Então… Não enche._Pulei do balcão, chateada e morrendo de raiva.
_Os sanduíches!_Ceci gritou. Quando eu já estava na porta do meu quarto.
_Guarde pro bom garoto que é seu namorado! A irmã problemática e malvada não merece!_Bati a porta com força, sentando na cama e abrindo meu livro com violência. Completamente indignada com toda essa situação.

Ouvi uma batida de leve na porta, ignorei. A cara de Ceci apareceu na porta e ela acabou entrando. Com o prato de sanduíches e um copo de refrigerante numa bandeja. Ela se sentou na cama.

_Olhe, desculpe. Eu exagerei._Continuei a ignorando._É que eu gosto dele! E queria que ele gostasse de você e você dele também._A olhei por cima do livro. Tolinha, não fazia ideia do que estava falando._Eu quero que dê certo e fico preocupada.
_Ceci, eu sou sua irmã, ele é um namorado. Você terminou com milhares de namorados. Mas a mim você não pode se livrar, nem jogar no lixo.
_Tecnicamente, jogar no lixo eu posso. Te joguei dentro de uma lixeira quando você tinha 6 anos.
_Ok. Aí está a prova que minha irmã é uma psicopata._Ela soltou uma risadinha.
_Certo. Voltando…_Revirei os olhos._Eu gosto dele.
_Você já disse isso…_Cantarolei.
_Ele é perfeito.
_Não é não. O nariz dele é meio tortinho…_Apontei para meu nariz, querendo explicar melhor. Ela fez uma careta.
_Malu! Você nem ao menos se esforça pra gostar dele.
_Me desculpe, mas se espera que eu saia por aí dizendo o quão meu ‘cunhado’, você nem faz ideia do quão estranho é dizer isso, é maravilhoso… Desista.
_Tudo bem, não estou esperando que virem super amigos… agora. Mas você pode tentar conhecê-lo melhor.
_Não tem como conhecer ele melhor. Eu já conheço.
_Como não?
_Oras… Hãn… O nariz dele é torto, já sei tudo que me interessa saber em um garoto.
_Quer dizer que Alexandre é seu amigo porque o nariz dele é retinho?
_Óbvio. Eu me relacionar com gente de nariz torto? Aff, que espécie de pessoa eu seria?
_Me diz que você ta brincando!
_Mas é claro que não!_Tentei ocultar meu sorriso debochado por trás do livro.
_Maluu!
_Ai Ceci. Vamos parar com essa conversa?
_Amanhã é o encontro entre namorado, namorada e irmãs chatinhas. E eu estou preocupada.
_Não se preocupe. Serei uma dama.
_É disso que tenho medo. Você não vai ser uma dama. A última coisa que você vai ser é uma ‘dama’.
_Eu estou com fome e ficando irritada com essa conversa. _Decidi cortar o assunto, que estava se estendendo demais._Depois nos falamos.
_Não, vamos continuar agora.
_Maria Cecília. Se continuarmos essa conversa, amanhã vai ser o pior encontro da sua vida. E você sabe que sou mesmo capaz disso.
_Tuudo bem. To saindo! Bom apetite.
_Obrigada._Ela se levantou da cama e foi para a porta. Antes de sair ela se virou para mim.
_O nariz dele não é torto!
_Continue se iludindo…_Ela mostrou a língua antes de sair. Eu ri baixo antes de morder meu sanduiche. Começando a pensar nele. Tomei um gole de coca. Irritada comigo mesmo._Droga! Ela tem razão… O nariz dele não é torto.

 

Capítulo 17

Continuei sentada no sofá, totalmente tensa, enquanto Ceci terminava de se arrumar. Karol estava sentada ao meu lado, me olhava curiosa e volta e meia mexia no rabo-de-cavalo cuidadoso que Ceci fizera e que brigaria muito se fosse desfeito.


_Karol, para de mexer nesse cabelo!_Ceci apareceu, já arrumada, já brigando. Vestia uma saia e uma camiseta estampada, nos pés uma sandália plataforma. Olhei meu all star surrado e camiseta velha. Eu estava sendo humilhada antes mesmo de sair de casa.

Ouvimos uma batida na porta, Karol toda alvoroçada correu para atender. Me limitei a olhar para a televisão, vendo o reflexo dele na tela escura. Meu coração se rebelou e eu tentei me controlar. Tentei não me importar.

_Estão prontas?_A voz dele fez os cabelos da minha nuca se arrepiarem. Controlei o impulso de correr, de fugir daquele lugar.
_Claro. Vamos, Malu?_Me levantei, olhando para o chão. Passei por eles, e parei em frente a um carro. Um gol prata. Olhei para o céu e o sol acabou machucando meus olhos.
_Podem entrar.
_Não sabia que você tinha carro._Ceci disse.
_É, comprei alguns meses depois das férias do ano passado._Enrijeci, me lembrando que ele tinha me dito que faria isso mesmo. Comprar um carro com suas economias. Karol abriu a porta do carro antes de mim e entrou rapidamente lá dentro. Fechando a porta com estrondo._Acho que ela gostou…
_Ela sempre gosta. Acho que o que ela mais gosta nos namorados da minha irmã são os carros, tanto que ela já andou em dezenas de carros! Ela é uma Maria gasolina. _Eu disse, entrando em seguida no carro. E pouco me lixando se estava sedo cruel ou não. Ajudei Karol a arrumar o cinto enquanto o casal se sentava silencioso nos bancos da frente. Ceci me fuzilou com os olhos e eu fiz uma careta.

Por alguns minutos todos ficaram em silêncio. Mas depois Karol começou a puxar assunto e antes que eu pudesse me dar conta... Estavam os três conversando bem animados enquanto eu só observava. Olhei para Karol, que tinha os olhinhos brilhando e sorria enquanto Igor falava algo sobre o planetário. Mais uma estava conquistada.

_E você? Gosta de estrelas, Malu?_Igor perguntou, me olhando pelo retrovisor.
_Não. Não gosto.
_Que mentirosa. Ela gosta sim. Ela disse isso uma vez._Ceci interrompeu. E eu soube que daria merda.
_Eu nunca disse que gostava.
_Disse sim. Você não se lembra? Você estava dormindo, no sitio do marido da D.Betty. Você sussurrou enquanto dormia. “As estrelas parecem tão bonitas. Tão bonitas porque você esta aqui comigo…”. Eu sempre quis saber quem era que estava com você no sonho.
_Cala a boca, Ceci!
_Por quê? Ah não se faz de durona porque você é uma manteiga derretida.
_Cecília! Cala. A. Boca.
_Uh. Que estresse. Não acha, Igor?_Igor nem sequer se mexeu, somente me olhou pelo retrovisor. Afundei no banco do carro. Amaldiçoando com todas as forças minha irmã e seu namorado.

Peguei meu celular, colocando meus fones de ouvido com raiva. E liguei a música na maior altura. Somente para abafar o som da conversa deles. Eu apenas me limitei a encostar a cabeça no vidro do carro sacolejante. Sentindo a cabeça doer, embora meus ouvidos já tivessem se acostumado com o som ensurdecedor da música.

***

O passeio não foi tão ruim. Principalmente pelo fato que quando entramos no planetário cheio eu dei um jeito de desaparecer. Sumi de perto deles, que deviam estar se divertindo e fiquei andando sem rumo. Observando as coisas legais desse planetário, que era muito maior do que o outro que eu fui.

Acabei parando em um corredor interessante, era escuro, mas com luzes pequenas bem localizadas. Parecendo o céu estrelado. Segui por ele, sabendo que deveria ser um local proibido, pelo menos por enquanto. Acabei naquelas salas com um grande telão e uma maquete gigante e bem realista do Sistema Solar. Devia ser o lugar onde faziam a apresentação sobre o Sistema Solar e etc.

_Está vazio, talvez isso signifique que você não pode ficar aqui._A voz de Igor me fez dar um pulo no meu lugar. Olhei em volta, no lugar vazio, constrangida.
_Ops._Olhei para ele, que me olhava sem desviar o olhar._Como me achou?
_Sabia que você devia estar isolada. Então vim aqui.
_Porque veio atrás de mim? _Ele meio que olhou os pés. A compreensão me inundou._Minha irmã pediu, não foi?
_Foi. É isso mesmo. Vamos a uma lanchonete.
_Claro… Vai na frente._Cruzei os braços, apontando o caminho com a cabeça._ Eu vou depois.
_Na verdade… Eu me ofereci pra te procurar.
_Por quê?
_Eu preciso conversar com você._Ele deu um passo a frente, me fazendo recuar dois passos.
_Não temos nada pra conversar.
_O jeito que você está lidando com as coisas está me matando, Malu!
_O jeito que estou lidando com as coisas?_Ri irônica._ O que eu queria que eu fizesse? Saísse por aí dizendo que estou feliz com tudo isso? Você quer a minha benção agora?
_Isso é ridículo.
_O que quer que eu faça então?
_Pare de me tratar como se eu fosse um monstro, como se eu não tivesse sentimentos…
_Então você tem sentimentos, mas não se importa com o dos outros? É isso?_Ri irônica novamente. Começando a ficar com mais raiva ainda.
_Pare de fazer isso. Por favor…
_Fazer o que? Ser sincera?
_Não está sendo sincera. Está sendo cruel.
_Owwn. Coitadinho. Eu sou a menina malvada, muito má. Sem coração… A bruxa perversa desse conto de fadas inútil que você esta tentando viver. Eu sou a cruel que destrói todas as suas tentativas de ser bonzinho com ela. Porque você… Oh… você é incrível! Um ótimo cara! Nunca magoou ninguém.
_Pare de fazer isso, de jogar isso na minha cara. Eu me lembro do que aconteceu sabia? Eu me lembro de tudo! Sei que fui imbecil. Mas já passou. Então pare com isso! E principalmente… Pare de falar e agir como se eu não tivesse te amado!
_Então pare de agir como se eu continuasse te amando! _Gritei, sentindo os olhos embaçados. Mas a raiva e o orgulho maiores do que tudo, do que toda a mágoa._Porque eu tenho uma surpresa bombástica pra você… Eu não dou a mínima pra você. Eu te odeio! Só quero você longe, ok? Bem longe!

Tentei passar por ele, mas ele segurou meus braços com força. Me fazendo o olhar nos olhos. Ele arfava, também com raiva. Então sorriu, um sorriso sarcástico.

_Você me odeia com tanta intensidade quanto ainda me ama?
_O que?! _Gritei, horrorizada. A pergunta dele me pegara de surpresa, fazendo minhas pernas fraquejarem._O que está dizendo?
_Que você é uma mentirosa. Você é uma mentirosa hipócrita. Não superou droga nenhuma! Porque se tivesse superado, não ficaria tão nervosa. Não ligaria a mínima pra nossa história anterior, porque eu não faria diferença alguma na sua vida. Se você tivesse superado, seria indiferente a mim. Nem daria bola pra mim. Mas eu posso sentir esse ódio em você, forte, intenso. Mesmo você tentando se fazer de indiferente, dá pra sentir sua fúria só de me olhar. E isso me dá a certeza que eu ainda afeto você. Que você ainda me ama.

Com a mão livre, por puro impulso, lhe dei um tapa. Que fez eco por toda a sala vazia. Ele me soltou e eu cambaleei para trás. Chocada com suas palavras. Chocada porque isso era verdade. Magoada com tudo isso. Não tive forças nem para negar tudo o que ele me disse. Simplesmente saí correndo dali. Deixando-o sozinho para trás. Deixando com ele a certeza que ele estava certo. Eu não tinha superado ainda. E isso era uma droga. Uma tremenda droga!

 

Capítulo 18

Entrei em casa esbaforida. Minha mãe tinha saído para jantar com seu marido. Então a casa estava completamente silenciosa. Entrei no meu quarto, batendo a porta com força.

 

_Como ele se atreve a dizer aquilo? Argh!_Fiquei me remoendo. E acabei indo tomar um banho de água super gelada para esfriar a cabeça. Esfreguei os cabelos com raiva excessiva e fui me trocar, colocando uma roupa leve, ao contrário da minha cabeça, que pesava toneladas.

Comecei a pentear meus cabelos úmidos, sem conseguir parar de pensar. Ouvi um barulho de carro chegando e caminhei para a janela, que dava para a entrada na casa. Vi Ceci descendo do carro, com Karol deitada em seus braços, provavelmente dormindo. Igor mantinha a expressão séria. Ceci caminhou para ele e beijou-lhe nos lábios. Aquilo foi… horrível. Não tinha nem como explicar. A raiva foi tamanha que apertei a escova de cabelo até os meus dedos doerem. Percebi que ele se afastou do beijo cedo demais. Ouvi a porta batendo e Ceci entrando dentro de casa. Mesmo assim continuei espiando, até que ele olhou em minha direção. Sustentei seu olhar por alguns segundos, até que não aguentei e fechei a janela com força.

Joguei a escova de lado e passei as mãos pelo cabeça. Irritada comigo mesma. Antes que eu pudesse me recuperar do incidente da janela, antes que eu pudesse me recuperar do que vi. Ceci entrou no meu quarto. Tinha as bochechas vermelhas e seu olhar estava cheio de cólera.

_O que fez com ele?_Ela sibilou. E percebi que ela estava completamente descontrolada. Quando Ceci ficava irritada ela ficava simplesmente insuportável.
_Como?
_O que fez com ele? Eu vi cinco lindos dedos na bochecha dele! _Engoli em seco, sem conseguir pensar em uma resposta boa o suficiente.Você bateu nele?
_Não sei do que está falando.
_Você bateu nele, Malu? Você é doida de fazer isso?
_Eu. Não. Sei. Do. Que. Você. Está. Falando!_Neguei, já começando a me irritar profundamente. Sinceramente… Eu não merecia tudo isso. Não merecia ter que aguentar todas essas porcarias que estavam acontecendo.
_Então como você explica a marca da sua mão na cara dele?
_Sei lá! Você é a namorada, problema seu._Me afastei dela e ela pegou minha mão. Analisando meus dedos, e se deparando com um anel antigo que eu tinha.
_Eu sabia! Sabia! No rosto dele ficou a marca de um anel, a marca do seu estúpido anel. _Puxei minha mão com força. Caminhando para longe dela._Porque você fez isso?
_Eu não fiz nada! Você ta enlouquecendo! Quer saber… Não sou obrigada a ficar ouvindo essas porcarias._Tentei passar com ela, mas ela me segurou e me fez sentar na cama.
_Me explica o que aconteceu AGORA!
_Não tenho nada que explicar! _Rebati, no mesmo tom de voz raivoso.
_Você foi uma vadia e bateu nele, isso eu entendi. Eu quero saber porquê!
_Não enche, Cecília!
_É o MEU namorado. Você não pode simplesmente bater nele. Não pode. É o meu namorado. O meu!
_Caramba! Eu já entendi que ele é o seu namorado. Espero que tenha entendido também que eu ODEIO ele!_Eu disse, começando a perder a cabeça também._ Então faça um grande favor mantendo-o longe. Pensando bem, fiquem os dois longe de mim. Eu não preciso ficar agüentando uma irmã histérica e um namorado imbecil. Eu não preciso!
_Não fale mal dele!
_Eu falo o que eu quiser! E quer saber? Cala a droga da sua boca, Cecília. Porque você não sabe de NADA ouviu? De nada!
_Então porque você não me explica?
_Porque você é egoísta demais pra entender. Só se preocupa com você e seu namorado imbecil. Deixou de ter uma irmã. Meus parabéns por toda sua inteligência em arranjar um namorado tão bom e perder a sua irmã. Agora me faz um favor? SAI DO MEU QUARTO!
_Malu…
_AGORA!
_Não!
_Qual parte do EU NÃO QUERO VOCÊ PERTO DE MIM. Você não entendeu? Sai daqui!_Ela continuou imóvel, me olhando com raiva. Então simplesmente a peguei pelo braço e a empurrei porta fora. Depois fechei a porta com estrondo e a tranquei.
_MALU, ABRE A PORTA. EU NÃO TERMINEI DE FALAR COM VOCÊ!_Ceci gritou absolutamente histérica e batendo na porta com força.
_Pois eu já! Então… CAI FORA E PARA DE BATER NA MINHA PORTA!_Gritei, mais histérica do que Ceci.
_MALU! ABRE A DROGA DESSA PORTA.
_MORRA!_Gritei, me jogando na cama e ligando meu rádio na maior altura. Na esperança de abafar os gritos de Ceci atrás da porta. Caminhei para o banheiro, sentindo que precisava de outro banho, bem gelado.

 

Capítulo 19

No dia seguinte nada havia ficado melhor. As palavras dele ainda ecoavam no meu ouvido e a briga com Ceci ainda me deixava mais do que irritada. Eu estava sem falar com ela desde a briga. Mas volta e meia alguém vinha bater na porta do meu quarto, tentando me convencer a sair.

Alguém bateu na porta, outra vez. Irritada, acabei gritando:

_Vai embora!
_Pensei que você estivesse com saudades minhas._A voz de Alexandre me fez sorrir naturalmente. Levantei da cama, abrindo a porta e me deparando com um sorriso enorme dele. Estava mais bronzeado e eu diria ainda mais alto. Os cabelos, antes bem mais compridinhos, estavam super curtos. Seu rosto ficara mais bonito e menos infantil desse jeito. Mas o sorriso ainda era o mesmo._Então… Quanto tempo vou ter que esperar pelo seu abraço?
_Idiota._Ele veio até mim, me puxando em um abraço super apertado._Senti sua falta.
_Eu também._O peguei pela mão, o fazendo se sentar na minha cama. Ele olhou ao redor, a sobrancelha franzida.
_Nunca vai arrumar esse quarto?
_Nunquinha. Eu me acho na minha bagunça… E nem ta muito desorganizado.
_Claro que não está… Então, você me pareceu apreensiva da última vez que falei com você. E olhando agora vejo que tem mesmo algo te incomodando. O que aconteceu?_Olhei parra ele, confusa. Ainda me assusta ver como ele me conhece tão bem. Melhores amigos assustam. Ainda mais quando são igual o Alexandre, super observadores e perceptivos. Suspirei antes de responder.
_Seria mais fácil você perguntar o que não aconteceu.
_Não tenho hora pra chegar em casa._Ele se esparramou na minha cama e eu revirei os olhos.
_Ele voltou. _Ele me olhou surpreso._E está namorando com a Ceci.
_Como é que é?_Então comecei a explicar. Falando o quanto essa situação toda me irritava. Contei exatamente tudo, até as palavras de Igor. Só não admiti que eu ainda não tinha esquecido de Igor definitivamente. Era difícil para mim mesma admitir, imagina pra ele. Enquanto eu falava, Alexandre sempre perguntava algo, ou dava sua opinião. E isso era reconfortante. Ver que ele se importava.
_Ceci está sendo uma idiota. Está me tratando mal e isso me irrita. _Eu havia acabado de contar o porque da nossa discussão. Ele agora não dizia nada. Só me encarava._To quase dando na cara, dela. É sério.
_Ela é sua irmã._Ele disse baixinho. Parecia estar absorvendo tudo.
_Mais um motivo pr'eu bater nela.
_Não fique tão brava com ela, você sabe como ela fica quando empaca nesses relacionamentos. Ela é a Ceci, oras!_Olhei para Alexandre, indignada.
_Não acredito que esta tentando defender ela. Tudo bem que você tem essa super paixonite por ela. É absolutamente normal, já que vocês dois são iguaizinhos. Trocam de namorados como trocam de roupas… _Era completamente óbvia a queda que Alexandre tinha por Ceci. Mas acho que ela nunca o olhou como algo mais. E ele também nunca me falou sobre a paixonite dele e eu nunca forcei também. Respeitava o espaço dele e seus olhares mal disfarçados pela minha irmã. Mas me irritava ver quando ele tomava partido dela desse jeito._Mas eu sou sua melhor amiga! Não pode me trocar pela sua paixãozinha, ok? Isso está no contrato de amizade. Tenho certeza.
_Como você sabe que…
_Eu sei de tudo._Murmurei, irritada. Ele riu de leve, olhando com uma cara insondável.
_Você sabe que sou péssimo nos conselhos… Mas acho que você devia tentar ser amiga dele.
_O QUE?_O sol afetou muito a cabeça desse garoto… Só pode!
_Sei que é complicado, bem difícil… Mas não faça isso por ninguém mais além de si mesma. Isso machuca você, essa história inacabada com dele. Seja amiga, supera… Sei lá. Talvez virar amiga ajude você a esquecer, a aprender lidar com ele. Talvez ajuda a passar. Tenta, pode te fazer bem. Fazer bem a todo mundo.
_Eu não quero tentar e pode até fazer bem pra alguma pessoa… Mas pra mim não! Sem chance. E isso não está aberto a mais discussões.
_Tudo bem, tudo bem. Se quer se fazer difícil, se faça. Mas no final você sempre concorda comigo.
_Sua modéstia é admirável. Talvez o mundo dos mortos queira conhecê-la também!
_Não seja chata._Ele riu, tacando uma almofada na minha cara._Não quer saber das minhas férias?
_Garotas, garotas, garotas, garotas, garotas… E ah… Deixa eu ver… Garotas! _Férias tão obvias que chegavam a ser entediantes.
_Uau. Você é boa nisso.
_Obrigada.
_Vamos, vai tomar um banho que nós vamos sair.
_Eu não quero sair._Choraminguei, abraçando a almofada mais próxima.
_Mas eu quero.
_Idaí? Chama outra pessoa. Não deve ser difícil pra você arranjar companhia.
_Tem razão, é muito fácil eu arranjar alguém pra sair, mas… Eu quero sair com você. _Ele me puxou da cama, me guiando para o banheiro._Eu posso ver o mofo se formando no seu braço. Anda, vamos tomar um arzinho. Jantar e tudo o mais.
_Não seja chato…
_Vê se não demora!
_Chato! _Gritei, fechando a porta do banheiro. Talvez sair me ajudasse a me distrair. Ficar em casa não ia adiantar muito mesmo…

 

Capítulo 20

_Anda, Malu!_Alexandre gritou pela nonagésima vez. Prendi os cabelos em um rabo de cavalo alto. Estavam na hora de cortar novamente. Suspirei, não gostando da imagem abatida no espelho. Saí do banheiro, me deparando com Alexandre lendo uma revista velha.

_Já estou pronta._Murmurei, fazendo pose. Ele jogou a revista de lado.
_Huum, ta gatinha. Vem cá…_Ele disse, levantando da cama e indo até mim. A expressão brincalhona.
_Cala a boca!_Ri baixo, ele me puxou pelo braço._Aonde vamos?
_Não sei. Não decidi ainda._Descemos a escada de braços dados. Quando chegamos à sala demos de cara com Ceci e minha mãe assistindo novela. Fechei a cara. Ceci analisou Alexandre da cabeça aos pés e notei aquele olhar de curiosidade perigosa dela.
_Oi, Alexandre.
_Oi, Ceci.
_Como foram as férias?
_Legais.
_Alexandre? Quero ir logo. _Sussurrei no ouvido dele.
_Certo._Ele sussurrou de volta, agorando olhando minha mãe._ Vamos dar uma volta, não vamos chegar tarde.
_Juízo crianças._Minha mãe sorriu. Ela era louca pelo Alexandre.
_Claro, mãe._Sorri, puxando Alexandre pelo braço.
_Malu… Eu fico parecendo muito idiota perto dela?
_Você fica idiota de qualquer jeito.
_Obrigado._Ele passou o braço pelo meu ombro enquanto andávamos. Umas duas ruas depois da minha casa encontramos Henrique, com seu skate. Henrique até que era bonito, 17 anos, cabelos escuros, olhos verdes, magro e aquele estilo de skatista bem charmosinho. Há alguns anos atrás implicávamos muito um com o outro. Claro que depois que vim mudar pra casa da minha mãe as coisas meio que mudaram. Ele passou a me chamar pra sair e ser gentil comigo. Acho que é pelo fato de que agora eu tenho seios.
_Hey, pessoas.
_Oi.
_Onde estão indo?_Ele olhou para o braço de Alexandre em meu pescoço e acabei ficando desconfortável.
_Dar uma volta.
_Com o Alexandre você vai dar uma volta, né, Malu?_Sorri sem graça.
_É que eu tenho uma coisa que você não tem.
_Cérebro?_Comecei a rir baixinho e Alexandre me beliscou de leve.
_ Exclusividade._Então ele beijou minha bochecha e Henrique fez uma careta.
_Ele ta tirando uma com a sua cara, Henrique. Relaxa…_Sorri convidativa, fazendo com que ele sorrisse também._Então… Onde você vai?
_Encontrar o André e alguns caras pra andar de skate. Falando nisso…Faz tempo que você não anda com a gente.
_Amanhã talvez eu vá.
_Ótimo. Então…Até lá?
_Até._Ele sorriu para mim antes de virar as costas, parecendo bem mais animado agora.
_Ele gosta de você, devia sair com ele._Alexandre comentou tentando parecer inocente.
_Nem começa._Tirei seu braço do meu ombro, fazendo uma careta.
_Seria legal…
_Alexandre, meu tapado. Pense. O que duas pessoas fazem depois que saem juntas?
_Dão uns amassos.
_Você me disse que eu sou quase como a sua irmã. Tudo bem pra você ele dar uns amassos em mim? _Alexandre sempre foi supeprotetor comigo e até mesmo ciumento. Ele se comporta praticamente como meu irmão mais velho._Porque pra mim, tudo ótimo. Ele é bem bonitinho e tal…
_Pensando dessa forma…_Ele me olhou sério, a expressão concentrada._Nunca mais chegue perto dele, ele é um tarado.
_Sabia que você ia mudar de ideia._Eu disse, rindo.
_Malu…_Ele disse, depois de alguns momentos de silêncio.
_O que é?
_Promete que vai ser solteira pra sempre? Aquilo que você me disse não sai da minha mente e acho que não consigo dormir pensando em você pegando outros caras. É muito… nojento.
_Eu já fiz isso antes sabia?_Eu ri, sorrindo irônica pra ele._ E ainda faço de vez em quando.
_Maria!
_Vai dizer que não sabia? Alô. Terra chamando Alexandre.
_Acho que sou um cara muito inocente…
_Acho que você é um cara muito idiota, isso sim._Ele riu, me puxando pro caminho que dava para praia. Morar no litoral e ainda mais perto da praia tinha suas vantagens. O vento bateu no meu rosto e eu suspirei, tranquila. Acabamos encontrando alguns amigos de Alexandre e ficamos batendo papo. Eles era legais, e bem receptivos.
_Ei, Malu…_Alexandre disse, me chamando de lado._Ta com fome? Porque eu estou. A gente podia ir em um restaurante e tal.
_Vambora._Nos despedimos dos amigos dele, indo até o restaurante do outro lado da rua que dava para a praia.

Entramos rindo naquele local familiar e nos sentamos em uma mesa razoavelmente afastada. Tudo estava indo muito bem, tínhamos acabado de fazer nossos pedidos. Alexandre estava bem humorado e cheio de histórias da praia para contar. A tarde estava sendo bem divertida. Até que olhei para a porta e vi Ceci entrando no restaurante sorridente, junto com… ele.

_Só pode ser perseguição…

Capítulo 21

Alexandre seguiu meu olhar, vi sua expressão mudando para uma careta de desgosto.

 

– Então aquele é o Igor? Tinha esquecido como ele é feio pra caramba. Como você pode pegar ele? Que mal gosto, Malu. É de família, só pode.

– Nossa, to rindo muito da sua piada. Há-há-há. – ironizei, ele sorriu de lado.

– Eles já nos viram e estão vindo pra cá. – bufei. Alexandre estava certo. Logo Cecília e Igor estavam parados a nossa frente. Levantei os olhos mecanicamente e dei de cara com uma Ceci fingindo surpresa.

– Que surpresa encontrar vocês aqui! – As vezes eu realmente queria matar Ceci. Alexandre fez um gesto para que eu me controlasse, mas não consegui conter o sarcasmo.

– Com certeza, uma graaaande surpresa. Principalmente porque você sempre sabe que gostamos de vir aqui. Achei que você odiasse esse lugar. – Ela corou levemente ao ver que Igor também tinha caído na dela e a encarava, esperando uma explicação.

– Na verdade, até que eu gosto. – Ela explicou, revirei os olhos.

– Claro... Claro...

– Podemos sentar?

– Não!

– Sim! – olhei para Alexandre em choque, que deu de ombros. Continuei o encarando enquanto eles se sentavam. O que havia dado nele? Igor se sentou ao meu lado e Ceci a frente dele. Dei um pequeno chute na perna dela, que fez uma careta.

– Então... Já fizeram os pedidos?– Virei a cara por causa da voz de Igor. Sentindo o rosto queimar de raiva.

– Já.

– O que pediram?

– Um super X-burguer e uma coca.

– Acho que vou pedir o mesmo. E você, Ceci?

– Será que tem uma sopinha mais light?

– Você leu o nome desse lugar? – perguntei para Ceci que deu de ombros. – É “CASA DO X-BURGUER”!

– Acho que não prestei muita atenção. – Ela disse, cínica.

– Percebi. – Nossos pedidos chegaram e logo os dele também. Então, para minha surpresa, desgosto e pavor Igor e Alexandre estavam conversando. E a conversa deles não era lá das mais agradáveis. Em cada frase, dava pra notar no tom de voz dos dois, uma pontada de ironia. Encarei Igor, dando de cara com seu rosto, ainda dava pra ver a marca dos meus dedos nele. Mordi o lábio, pensativa, me amaldiçoando por quase, quase sentir arrependimento. Então ele olhou na minha direção. A expressão indefinível. Continuei o encarando.

Senti alguém segurar a minha mão. Desviei o olhar, dando de cara com a cara alarmante de Alexandre. Droga! Olhei para Ceci, que agora olhava para a minha mão e a de Alexandre. Sua expressão era curiosa. Me senti corar e puxei a mão discretamente, bebendo outro gole de coca cola.

– Malu...

– Sim?

– Pode ir no banheiro comigo? – Ceci piscou os olhos meigamente, revirei os olhos, me controlando para não lhe fazer um gesto obsceno.

– Não, obrigada.

– Por favoooor. – Sua voz implorativa me irritou, mas não pude resistir ao apelo em seus olhos.

– Ta bom. – bufei.

– Não entendo essa necessidade feminina de ter que ir no banheiro acompanhadas.– Alexandre disse, a sobrancelha erguida.

– Eu também não entendo essa necessidade que os homens tem de tentar entender algo que não faz parte dos costumes da sua própria espécie.

– Ai, você é cruel. – Ele fez uma careta, me imitando, foi impossível não rir.

– Brigadinha. – Eu ri, me levantando. Passei por Igor e percebi que eles nos seguiam com o olhar. Me perguntei se eles não se matariam enquanto estivéssemos longe. Entrei no banheiro, agora vazio. Fui até o espelho, vi Ceci com aquela cara de mártir que ela sempre usava quando queria pedir desculpas. Me apoiei na pia, já pronta.

– Certo. Me desculpe, me desculpe. Eu estava errada. – Me assustei um pouco com esse pedido, mas revolvi me vingar um pouquinho.

– Espera? Você disse o que? Pode dizer mais alto? – cruzei os braços, a encarando. – Estava errada em que?

– Não torne tudo mais difícil.

– Desculpe. – Ri baixo de sua expressão desgostosa, descruzando os braços.

– Ok. Eu estava errada. Eu estava errada em tentar forçar a amizade entre vocês dois, percebi que não adianta forçar a amizade entre vocês. Embora eu queira muito mesmo que vocês sejam amigos não posso fazer nada. Não tem haver comigo, mas com vocês. Então... Eu não vou te forçar a mais nada. – Achei que havia tido muito ‘vocês’ nessas desculpas, mas mesmo assim me calei. Afinal de contas, Ceci pedindo desculpas era surreal. Principalmente pedindo desculpas por causa dele. – E sinto muito mesmo por tudo que eu fiz. E aí? Me desculpa?

– Um minutinho. Estou tendo uma experiência extracorpórea.

– Malu!

– Era brincadeira. Tudo bem, desculpas aceitas. – Ser coração mole é isso aí. – Sem forçar mais nada, certo?

– Certo.

– Ok. – Sorri para ela, que veio me abraçar.

– Só tenho uma duvidazinha... Porque você não gosta dele? – Saí do seu abraço. Ceci era inacreditável...

– Pensei que você não ia mais me forçar nada.

– Não estou forçando, é só uma pergunta. – Ela adquiriu uma expressão inocente.

– Pensei que você ia perguntar por que eu bati nele.

– Então está confessando que bateu nele?

– Eu não confirmei nada! – olhei assustada para ela, que apenas soltou uma risadinha.

– Certo. Na verdade... Eu já perguntei pro Igor o porquê do tapa, mas ele só disse que ele mereceu. Pra você ter feito isso, talvez ele tenha merecido mesmo. Ou não. Você é meio doida. – sorri, não tão sem graça. – E bem... Já que você também não quer me dizer. Não vou ficar forçando, já disse. Só queria saber de onde vem toda essa animosidade. Porque você odeia ele?

– Não tem como explicar. Acho que porque ele é... ele. – É, eu odiava o Igor porque ele era o Igor. Não existia ninguém no mundo igual a ele. Ninguém que eu tenha querido mais e sentisse mais repulsa. Ele era a única coisa que me confundia mais do que eu mesma. Ele era o mistério, o conhecido e o mais temível: Ele era ele. E por ser ele mesmo e fazer tudo o que ele faz era o motivo pelo qual eu o odiava. Eu o odiava porque um diz ele me fizera amá-lo de verdade e porque não me deixava esquecê-lo.

– Não é porque ele é meu namorado?

– C-como? – engasguei com a própria saliva. Olhando assustada pra Ceci. – E porque seria? Nada a ver...

– Você sempre teve trauma com meus namorados.

– Bem... Eu gostei do Marcelo... Taí! Eu me dei bem com o Marcelo. – Esse namorado aí era legal, bonitinho, gentil comigo sem forçar amizade. Ele era legal na medida do possível.

– É, ele gostava de você também. Até demais.

– Hãn?

– Terminamos porque ele se apaixonou por você.

– Como? – olhei para ela, horrorizada. Minha voz saiu meio histérica. – Está brincando.

– É fácil gostar de você, Malu... Todos gostam. – Minha sobrancelha se ergueu. Gostar de mim era totalmente difícil? Eu era irritante e sem paciência. – De qualquer forma, vocês pararam de se falar, não é?

– Faz muito tempo que não falo com ele. Não se preocupe.

– Vocês até que combinam, de verdade. Eu não ligo se você quisesse sair com ele. Nem esquenta com esse lance de ex-namorados. – Ela sorriu. – É mercadoria usada, não to nem aí pra quem pega depois de mim. E eu sempre aperfeiçoo tudo o que toco. É um dom.

– Nem começa! Eu não vou ter essa conversa com você. – Era bizarro e surreal demais.

– Ah, qual é, Malu! Você devia sair com alguém. Não precisa ser exatamente meu ex-namorado... Embora, eu talvez deixe Igor pra você caso terminemos. – comecei a tossir descontroladamente, ela veio até mim, rindo muito e bateu nas minhas costas. – Calma! Eu estava brincando.

– Que susto!

– Igor é meu e você nem quer ele. Sem chances.

– É, sem chances. – ri sem graça. Olhei para meu tênis, sentindo o rosto corar. Ainda não acreditando aonde essa conversa estava me levando.

– Eu estava meio que pensando em você e o Alexandre... – confessou ela.

– Caramba! Que fixação. – Tinha que ser! Éramos amigos! Será que era tão difícil de ver isso? – Quantas vezes tenho que dizer que ele é só meu amigo?

– Ah sei lá. Ele ta diferente, mais maduro e bonito. Ta mais pro seu tipo.

– Meu tipo? Eu não tenho tipo, Ceci. – sorri para ela. Percebendo que ela estava reparando demais em Alexandre. – Eu e Alexandre somos só amigos? Ok? Ok!

– Se você diz... Mas não custa tentar. Faz bem sabia? Sair com alguém, cuidar de alguém, ser cuidada. É bom...

– Vamos logo, os garotos devem ter pensado que afoguei você no vaso.

– Tudo bem, podemos conversar sobre isso depois. – gemi de desgosto enquanto ela me arrastava para fora do banheiro, sabendo que ela daria um jeito de conversar sobre isso futuramente comigo.

Capítulo 22

Ao chegarmos na mesa, para minha surpresa e deleite de Ceci, os dois conversavam de modo mais pacífico, agora rindo cúmplices. Sentei no meu lugar, olhando curiosa para Alexandre, que sorriu para mim.

– Pensei que vocês tinham morrido.

– Ou fugido. – Igor se meteu;

– Ou que você tivesse matado Ceci e fugido. – Alexandre riu, acompanhado de Igor. Essa recente camaradagem deles me assustou.

– Porque eu tenho que ser a assassina? – disse, fingindo estar ofendida. – Pensando bem, não respondam.

– Então... Já que todo mundo terminou de comer porque não vamos embora?

– Tanto faz pra mim... – respondi, sem desviar os olhos de Alexandre. Que fazia caretas, tentando me fazer sorrir, falhando miseravelmente a propósito.

– Ou podíamos ir numa boate aqui perto. – Ceci sugeriu, se animando. – Toca todo tipo de música. Acho que ia ser super legal.

– Apoiada. – Alexandre disse. Olhei para ele, indignada.

– Adorei a ideia. – Igor disse, sorrindo. Me lembrei subitamente das vezes que fugi para não ter que dançar com ele. Ou com qualquer pessoa.

– Ei... Eu não sei dançar.

– Claro que sabe. – Alexandre disse. Igor riu baixinho, fiz careta para ele. Bufei:

– Eu prefiro ir pra casa. – Estava me sentindo ansiosa e pressionada com essa situação.

– Ah qual é, Malu! Por favor...

– Sem forçar as coisas, Ceci... – A lembrei.

– Mas é uma votação. Todo mundo quer ir.

– Eu quero ir, Malu. Mas não vou se você não for. – Alexandre disse, fazendo cara de desolado e jogando muito, muito sujo.

– Eu realmente odeio vocês. – bufei, irritada. – Vocês sabem disso, não é?

– Perfeito! – Alexandre pediu a conta e acabamos dividindo ela. Ele me puxou pela mão, enquanto saímos pela rua. Havia bastante gente nas ruas até. O tempo estava abafado, o céu já estava escuro e a brisa era refrescante. Um ambiente bem romântico. Não que eu estivesse satisfeita com isso. Ainda tinha dificuldades em olhar pra Ceci e ele... Tão... Próximos. Mas Alexandre tinha razão, eu tinha que me acostumar. Não tinha muita escolha.

Ceci andava grudada no braço de Igor e Alexandre segurando minha mão. Uma mania dele. Olhei para os pés de Ceci, e porque ela parecia tão mais alta. Eram saltos. Uma bela plataforma, gigante. Imaginei como seus pés deveriam doer.

– Não dói? – perguntei, quebrando o silêncio.

– O que?

– Esses saltos! Toda vez que eu vejo você está com um maior do que o outro. Sinceramente... Você devia parar de usar tanto salto alto.

– Eu posso fazer coisa qualquer de salto alto. – Ela sorriu, convencida.

– Não pode não. Com certeza você não pode.

– Posso sim.

– Ah é? Duvido você fazer isso de salto alto. – Me soltei de Alexandre. E caminhei para o meio da rua. Então... Fiz uma estrelinha. Me ajeitei, sentindo meus cabelos bagunçados, e me sentindo livre também. Sorri desafiante para Ceci. – Faça!

– Isso aí já é apelação. – ri junto com Alexandre e Igor. Esse último não me olhava, mas sim me encarava. Percebi que meu rabo de cavalo havia soltado. Passei as mãos nos cabelos ondulados. Levantei os olhos, ele ainda me encarava. Ceci havia largado seu braço e saíra andando na frente com Alexandre. Olhei para o chão, procurando meu prendedor. Estavam bem aos seus pés. Ele simplesmente se abaixou e os pegou. Se aproximando de mim e o balançando na frente do meu rosto.

– É seu? – engoli em seco e respirei fundo. O perfume masculino me tomando. As mãos tremendo e tentando manter a compostura peguei o prendedor.

– Obrigada. – Amaldiçoei minha instável. Fora do meu tom irônico normal.

– Ei, vocês! – virei para onde vinha a voz de Ceci. Ela estava próxima a Alexandre e sorria. – Andem logo!

 

Não olhei para Igor antes de voltar a andar, apenas apressei o passo, querendo alcançá-los. Parei do outro lado de Alexandre, que me olhava preocupado.

– Você está bem?

– Sim. – Não exatamente, mas não faria muita diferença dizer isso a Alexandre agora.

– Chegamos! – Ceci anunciou. Paramos em frente a um portão grande e vermelho, dava pra ouvir o som muito alto lá dentro. Oh, meu pesadelo. Ceci correu, agora puxando Igor, para comprar as entradas. Alexandre parou ao meu lado. Olhei para a direção contrária.

– Malu... O que foi?

– Porque me convenceu a vir pra cá? – Porque agiu como um traidor? Era isso que eu devia ter perguntado.

– Você precisa dançar. Faz séculos que você não dança.

– Aff.

– Ele já te viu dançar? – Tecnicamente, eu gostava de dançar, mas morria de vergonha.

– Não.

– Então mostre o que ele perdeu.

– Eu não quero isso, Alexandre. – fiz bico. – Quero esquecer.

– Então volte a fazer as coisas que você fazia. Sei lá... Se joga, amigã. – Ele disse, fazendo pose e me fazendo rir de leve. Depois pegou meu rosto, me fazendo olhando. – Sem brincar agora... Muda. Se diverte. Não fique pensando muito nele nem... nela. Nem nos dois juntos. É difícil, mas tenta.

– Eu estou tentando.

– Tenta mais. Hum. Que tal? – ri baixo, meio desanimada, de sua cara animada, passando a mão nos cabelos. Revirando os olhos.

– Ai ai, Alê, só você mesmo...

– Prontinhos? – Ceci apareceu. Ridiculamente animada. Suspirei, vencida. Ela riu, me puxando pela mão. Entramos na boate razoavelmente cheia. A música fazia meu corpo estremecer e semicerrei os olhos por causa das luzes. Ela me soltou, correndo para pista. Alexandre logo atrás dela. E os dois começaram a dançar. Totalmente animados e a vontade. Parei, cruzando os braços. Abismada. Algumas pessoas começavam a olhar aquelas duas criaturas dançando na pista.

– Você conhece aquelas pessoas? – A voz de Igor pairou acima de mim.

– Nunca vi na vida. – sacudi a cabeça e ouvi sua risada. Saindo de perto dele, me misturei entre as pessoas. Indo parar a um pequeno bar. – Um refrigerante, por favor.

 

– Saindo. – O garçom foi buscar e eu me sentei mais a vontade no banco. Vi alguém se sentar ao meu lado. Igor, obviamente. Ele me analisava, a expressão contida. Mas aquele mesmo jeito de olhar insolente. Senti as faces corarem. Sua boca entreabriu-se, e mesmo sem querer, senti o coração bater mais forte só de imaginar sua voz, então quando a ouvi, meu coração foi a mil:

– Se importa se eu sentar aqui contigo?

 

Capítulo 23

 

– Tanto faz. – virei o rosto, observando a pista de dança.

– Você realmente não gosta de dançar?

– Não.

– Então seria perda de tempo te chamar pra...

– Com certeza. – Ficamos em silêncio e o vi pagando meu refrigerante, tentei não me importar tanto com isso, com sua proximidade, com sua inexplicável vontade de puxar assunto. Engoli o líquido avidamente, estremecendo por causa do gelado. A música era boa, e eu procurei me concentrar nela.

– Eu queria dizer que sinto muito pelo que eu disse no Planetário. Foi impulsivo. Eu sinto muito se te magoei.

– Você não pode me magoar mais. A única coisa que você faz é me irritar. – Fora uma mentira deplorável, que definitivamente Igor percebera, pois parecia que seu olhar adquiriu um aspecto ainda mais arrependido.

– Por favor, me desculpe.

– Se espera que eu também peça desculpas pelo seu rosto. Vai ficar esperando. Porque eu não estou arrependida.

– Tudo bem. – O olhei realmente, todo o contexto do rosto, não apenas os olhos. Havia um pequeno sorriso tomando conta dele. – Eu mereci.

– Ainda bem que você sabe... – Os cantos de seus lábios se repuxaram num sorriso torto.

– Você sempre foi meio arisca, mas nunca tanto assim comigo.

– Porque está fazendo isso? Ficar aqui comigo e não com Ceci? – balancei a cabeça em desaprovação a minha pergunta. – Quer dizer... Porque não esquece? Me deixa em paz?

– Porque eu não gosto de assuntos inacabados.

– Está falando de nós? Porque se for, nós acabamos.

– Eu não sinto como se tivesse acabado. Olha só o que eu ainda trago comigo. – Ele tirou do bolso um caderninho minúsculo. Quase uma agenda, que eu dei a ele de brincadeira no Natal quando ele disse que tinha que escrever sobre mim para não esquecer minhas manias. – Ainda tenho tudo escrito aqui. “Ela gosta de me chamar de estúpido e quando faço carinho na orelha dela. Isso é estranho”. – Ele soltou uma risada fraca e eu senti a garganta secar. – Eu simplesmente não consigo me livrar disso. E eu realmente quero, porque está magoando a nós dois... E...

– Para com isso, Igor. – Minha voz saiu mais branda do que eu esperava. Tentei dar a ela um pouco de rispidez, tentando fazê-lo enxergar como isso era um absurdo. – Já chega!

– Por quê?

– Como por quê? Pelo amor de Deus! Você está com a minha irmã agora! Você não entende isso?

– Eu sei! Eu entendo... Não mereço a Ceci. Não mereço nenhuma das duas.

– Não me coloque nessa coisa de merecer.

– Mas eu quero e não mereço. Vocês são diferentes e sou um babaca e egoísta. Eu devia sumir. Terminar com Ceci... E é isso que eu vou fazer.

– O que? Não! – Me perguntei porque estava negando. Há algum tempo atrás, mesmo não admitindo, era isso que eu queria.

– Como?

– Não. Não termine, ela vai ficar arrasada. – Lembrei de todas as vezes que Ceci o idolatra, como parecia que dessa vez ela estava realmente se envolvendo. – Acho que ela realmente gosta de você... Não tem motivos pra terminar. Só... Não me mostre caderninhos, nem olhe para mim, ou fale comigo. Mantenha distância. Tudo vai ficar bem no final das contas e...

– Nada está bem. Olhe pra você...

– Desde quando se importa com o que eu sinto? Desde quando? Desde que começou a namorar minha irmã na minha frente? Caramba! – levantei do banquinho. Sentindo o ar faltar. Me virei para ele. Olhando bem em seus olhos confusos. – Para com isso. Pare de agir como se eu ainda significasse algo. Eu nunca signifiquei e eu sei disso. Eu só quero que você e a Ceci fiquem juntos por que... É o certo. Vocês combinam e... – senti o choro subindo. Fazendo meus olhos arderem e a garganta apertar. Minha voz começava a ficar histérica. Prendi o choro, não querendo parecer ainda mais patética. – Eu não me importo mais... Eu só...

 

Então não aguentei. Comecei a chorar, meu queixo tremendo. Me desvencilhei da sua mão, absolutamente cansada de tudo. Saí rapidamente daquele local, indo para o lado de fora. O ar morno bateu em meu rosto e eu procurei respirar fundo. Controlando as lágrimas. Senti passos rápidos atrás de mim.

– Malu...

– Eu não posso Igor. Fique com a minha irmã, mas mantenha-se afastado. Porque machuca! Dói! – desabafei. Não conseguindo conter as palavras. – Eu não consigo, não sou forte e nem madura pra lidar com isso, ok? Eu só... Não dói em você, mas dói em mim e...

– Eu sinto muito, pequena... – Ele foi chegando perto e eu fui me afastando.

– Não. Fique longe. Por favor... – Ele não me ouviu, mesmo com meus protestos, pegou meu rosto entre suas mãos, que cobriam todo o meu rosto, me fazendo olhá-lo. Limpou uma lágrima com seu dedão.

– Malu... – Ele sussurrou meu nome daquele jeito que só ele sabia fazer. Respirei fundo, sentindo seu hálito contra mim. Abri os olhos e acabei presa naquele brilho descomunal, aqueles olhos que me deixavam fraca. Antes que eu pudesse protestar, seus lábios esmagaram os meus. Com força e desespero, seus braços me puxando para si. Estremeci, tinha esquecido como era bom ter ele tão junto a mim. Em como seu sentira saudades... Me entreguei ao beijo, por alguns instantes. Mas então me lembrei de Ceci. De toda a sua situação. Protestei fracamente entre seus lábios e me afastei arfante.

– Oh Meu Deus... – dei um passo para trás. Me afastando mais dele. – O que fizemos? E a minha irmã?

– Malu, eu... – Assim como eu, ele arfava.

– Não! Por favor. – arfei, confusa. Me sentindo tonta. – Ela não pode... Fique longe a partir de agora, Igor. Muito longe. Isso tem que acabar.

– Eu preciso... Preciso de você... – Seu jeito de falar, seu olhar, quase me pôs de joelhos. Mas ao mesmo tempo me deixaram irritada. A situação era uma porcaria e tudo culpa dele.

– Você precisa é de juízo e vergonha na cara! E eu... Oh Meu Deus. Eu vou embora. – virei às costas, recomeçando a andar. Ele segurou meu braço, me fazendo virar para olhá-lo.

– Não. Eu não vou deixar você fugir de mim de novo. – Ele me encarou com determinação, seu rosto se aproximando de novo do meu.

– Igor... Não. Não!

– Solta ela! – virei o rosto, dando de cara com um Alexandre de faces coradas. AA situação familiar, uma espécie de deja vu. Puxei meu braço com força. Olhei para os lados e para frente. A procura de Ceci. – Acho melhor você ir atrás da sua namorada, Igor.

– E-ela viu? – gaguejei.

– Viu o que? Ela só ficou brava comigo e saiu pelos fundos. O que aconteceu? – Ele nos analisou, comparando nossas expressões.

– N-nada. Só... Me leva pra casa.

– Malu, você está estranha. O que aconteceu?

– Só me leva pra casa! Por favor... – caminhei até Alexandre. Segurando em seu braço. O puxei pelo braço, enquanto nos afastávamos.

– O que ele fez com você? Você estava chorando?

– Nada. E eu não estava chorando.

– Malu! – Ele me segurou pelos ombros no meio da rua, erguendo meu queixo para olhá-lo, desviei o rosto.– Pare de mentir pra mim.

– Não estou mentindo...

– Não? Tem certeza? – olhei para ele. Sentindo os olhos embaçarem de novo. Maldita sensibilidade!

– Eu sou a pior pessoa do mundo. Eu fico aqui, mentindo pra mim, porque acho que isso vai mudar alguma coisa. Se eu me convencer que superei, que não me importo mais, isso vai realmente acontecer. Mas é mentira. Eu não posso me convencer a não sentir. Eu ainda o amo, caramba! Isso é um saco, sabia? Um saco. E é errado, por causa de Ceci, por causa do que ele já fez a mim... Eu não posso ainda estar apaixonada por ele. – Alexandre me abraçou com força. Ali mesmo no meio da rua. E eu fiquei lá, chorando no seu ombro. Sem piscar, tentando apagar a culpa por saber que eu iria magoar a minha irmã. E morrendo de raiva de mim mesma porque eu sabia que não tinha me arrependido de beijá-lo.

Capítulo 24

Eu estava deitada no chão, olhando o teto. Era de madrugada. Fazia dois dias que eu vira Ceci, ela saia e entrava de casa rápido, se trancando em seu quarto. Acho que é porque ela está evitando Alexandre, que está passando o dobro do tempo aqui em casa, passando até algumas noites aqui, para felicidade da minha mãe. Ela definitivamente confiava em nós para nos deixar dormir no mesmo quarto. Enfim, nós ficamos ainda mais tempo juntos desde aquela última noite, se é que isso é possível...

Não conversamos mais sobre o incidente naquela festinha. Obviamente estávamos enganando um ao outro guardando exatamente o que aconteceu para nós mesmos, já que ficarmos nessa fossa total. Eu por um lado não havia contado que Igor me beijara, embora Alê estivesse praticamente exigido, morrendo de raiva, saber o que acontecera. No final, acho que ele tomou meu silêncio como uma afirmação. Já ele, por outro lado, não me contou o que havia feito com Ceci. E com certeza, não vai me contar. Sempre desviava o assunto então resolvi não encher mais o saco dele. Mas isso era extremamente difícil. Eu sou muito curiosa. Olhei para o lado, visualizando seus pés para fora da minha cama. Me levantei, rígida e caminhei até a cama. Me sentando perto de seus pés.

Querendo ou não o que Ceci me dissera ficara passando pela minha mente. Ela dissera que eu e Alexandre combinávamos e, bem... Ela estava certa. Mesmo brigando sempre nós éramos bem parecidos. Antes daquelas palavras de Ceci eu nunca tinha pensado nessa possibilidade, sabe... De ficar com Alexandre. Eu sempre o vi como o amigo. Gostoso e cobiçado que a gente pode fazer inveja a garotas, mas sabe que vocês dois juntos... É impensável. Mas olhando sob esse ponto de vista, tentando olhar Alexandre e eu, juntos, com os olhos de Ceci, a ideia não saia da minha mente. Definitivamente, eu não estava apaixonada por Alexandre, é claro. Eu o amava, óbvio, mas éramos amigos. E sempre dizem que da amizade pode evoluir para o amor não é? E lá estamos nós dois, carentes, na fossa, sozinhos e tecnicamente procurando alguém pra tapar buracos de pessoas que nos feriram. Sei que isso é errado. Ficar com uma pessoa pra tapar buracos, servir de band-aid, mas... Eu não estava mesmo pensando nas consequências. Ultimamente eu pensava tanto que minha cabeça doía, então procurei não pensar naquilo especialmente.

Olhei para seu rosto, que me encarava também pensativo. Sentei as pernas de índio, agora olhando minha mão. Confusa. Eu não sabia se conseguiria fazer isso. Era quase como usá-lo.

– Malu...? – Ele sussurrou, levantei a cabeça, tirando o cabelo do caminho. Ele se sentou, agora próximo a mim. Ele sempre ficava perto assim, mas de algum jeito, agora pareceu próximo demais. Desconfortável demais.

– Sim? – procurei manter a voz calma. O cabelo voltou a cair no meu rosto. Mas dessa vez eu não me importei. Deixei a cortina cobrir minhas bochechas, que já começavam a corar.

– Eu estava pensando em algo, que já me disseram várias vezes. – Vixi. Ele tirou o cabelo do meu rosto, colocando atrás da orelha. Dessa vez bem concentrado em meus olhos.

– No que? – senti minha boca secar, mais de nervosismo do que de qualquer outra coisa. Eu tentava não fugir já que essa cena parecia tão irreal.

– Sempre me disseram que nós combinávamos e eu sempre ignorei. Por que... Você sempre foi diferente das outras garotas. Você foi a única que sempre fiz de tudo pra não magoar...

– E...?

– E você nunca me magoou. E mesmo agora, nós estando assim... Gostando de outros. Acho podíamos. Sei lá. – Seus dedos passaram pelo meu ombro, fazendo círculos leves. Me deixando imediatamente alerta. Entendi porque ele tinha tantas garotas na cola dele, ele definitivamente era bom nisso. – Tentar.

 

Fechei os olhos e me inclinei para frente deixando o instinto me dominar, eu não diria sentido vontade de fazer aquilo especificamente, mas aproveitei a oportunidade, antes que a coragem desaparecesse. Seus lábios roçando nos meus. Repeti a mim mesma para não pensar no que estava fazendo. Era só uma boca, ué. Porém, saber que a boca era de Alexandre, a do meu melhor amigo, não ajudava em nada. Vários pensamentos passaram pela minha mente, me confundindo e me fazendo ficar frustrada comigo mesma. Eu não estava conseguindo me concentrar. Me afastei, tentando tirar a imagem de Igor da minha mente.

– Com certeza ajuda se você não pensar nele. – Ele disse, olhando nos meus olhos. E me deu um selinho rápido. – Não pense nele, concentre-se em mim. Porque eu estou concentrado em você... Você tem um cheiro bom, sabia?

Arregalei os olhos. Surpresa por ele ter me dito aquilo. Eu nunca pensei que ele me conhecesse tão bem e também que ele me diria algo assim algum dia. Ele não me deu muito tempo para me recuperar do choque de suas palavras. Seus lábios mais uma vez encostaram levemente nos meus. Vacilei novamente recuando para trás, mas ele foi mais rápido. Suas mãos prenderam meu cabelo pela nuca, me puxando para perto. Seus lábios definitivamente estavam nos meus agora. Não só um roçar leve, mas sim um toque impetuoso e determinado. Sua boca logo se moveu na minha, me fazendo entrar no ritmo. Ele apertou minha nunca com mais força, me fazendo arrepiar dos pés a cabeça. Colei meu corpo mais próximo ao dele, segurando firmemente em sua cintura e levando a outra mão até próxima ao pescoço dele. Me prendendo aquela sensação diferente e conflitante. Eram gostos diferentes, notei. Jeitos diferentes de me beijar. O modo como Alexandre apertava meus cabelos da nuca chegava a doer, mas me fez esquecer de todo o resto. E com certeza eu gostei daquilo.

Então procurei me concentrar naquilo. Não que beijar Alexandre estivesse sendo fácil, pelo menos no primeiro contato fora extremamente difícil. Mas agora... Ainda não era natural. Mas o jeito como ele tornou aquilo, o momento, me fez acreditar que se realmente nos esforçássemos e nos concentrássemos um no outro como estávamos fazendo agora, talvez conseguíssemos, juntos, a superar tudo aquilo.

 

Capítulo 25

Duas semanas depois.

Eu estava certa sobre eu e Alexandre; juntos, ajudarmos um ao outro a superar as coisas, nesse caso pessoas. Ao menos em parte, nos sentíamos bem juntos e conseguíamos suprir a maior parte de nossa carência juntos. Minha mãe ficara muito feliz quando soube que estávamos namorando, Karol ficara surpresa, mas até que indiferente. Já Ceci, para minha surpresa, quando soube que Alexandre e eu estávamos mesmo namorando, não pulou nem ficou se gabando de saber antes que nós tínhamos algo. Ela ficou meio... estranha. Se afastou ainda mais. E querendo ou não, isso foi bom para mim. Já que com ela afastada, seu namorado se afastava também, o que me deixava mais tranquila.

Quanto a Alexandre, definitivamente ele era um bom namorando, principalmente no quesito... físico da coisa, embora não tivéssemos chegado nem perto de algo mais sério. Eu nunca chegara com Igor, então definitivamente não chegaria com Alexandre. Nosso ‘namoro’ estava até indo bem, mas pelo fato de ser mulherengo ainda lançava olhares por aí. Eu não tinha ciúmes, mas já havia avisado que eu não admitiria traições. Para minha surpresa, ele disse a mesma coisa. Estávamos nos esforçando tentando levar o relacionamento adiante. O primeiro relacionamento sério dele. E eu descobri que gostava de ficar com ele. Era divertido. Porque tínhamos aquela amizade bem forte, embora nos últimos dias tivéssemos deixado de contar várias coisas um para o outro. Não era um relacionamento perfeito, porque muitas coisas haviam mudado. Eu estava feliz por ele me deixar sempre ocupada, sem tempo para pensar em Igor. Mas sentia muita falta de como éramos antes. Éramos mais despreocupados, fazíamos confissões um ao outro e sempre tínhamos sobre o que conversar, e rir, do que ele me falava, de seus encontros...

– Malu?

– Sim?

– No que está pensando?

– Na praia. Hoje tem festa não é?– Uma festa na praia. Junta todos os amigos, familiares, alguém trás o carro com o som, a comida é feita na hora. Era gostoso festas assim, bem familiar, mas eu estava sem ânimo.

– Tem, quer ir?

– Não sei se quero... – Estava dividida entre a ideia de ficar entediada o resto de dia no meu quarto, ou encarar o casal do momento.

– Porque Ceci e Igor estarão lá?

– Adivinhou. – sorri, sem graça. Estranho, nós dois namorando e apaixonados por outras pessoas. Que baita confusão.

– Ouvi dizer que eles estão brigando.

– Ah é? – procurei não dar trela pra Alexandre. Mas ele parecia realmente pensativo enquanto mexia na minha mão. E quando ele ficava assim, tão sério, era porque algo estava incomodando ele.

– Arran...

– Quem te contou? – suspirei, vencida pela curiosidade.

– Minha fonte hipersecreta. – Fonte super secreta que eu não precisei nem pensar duas vezes pra descobrir:

– Minha mãe, óbvio.

– Não foi sua mãe...

– Claro que foi ela. – Minha mãe sempre foi louca por Alexandre, e eu sabia que ela não perdia uma boa fofoca. Os dois juntos então... Era um desastre.

– Ok, foi ela. – Eu sabia. – Você sabe de mais alguma coisa?

– Faz tanta diferença assim?

– É só curiosidade.

– Eu não ando falando muito com Ceci. Ela anda me evitando.

– Hum...

– Sabe, eu ainda quero saber o que você fez pra ela ter ficado irritada com você. – puxei minha mão da dele, cruzando os braços. Ele bufou, me olhando sério.

– Eu também quero saber se Igor te beijou. – Nos encaramos, um esperando a resposta do outro.

– Discussão total e inteiramente inútil. – declarei. Ficamos em silencio por um tempo, até que Alexandre quebrou o silêncio.

– Acho que precisamos sair desse quarto. Eu me sinto mofando em pleno sábado.

– Por que sair? Eu gosto de mofar. – reclamei. Ele me puxou da cama, me fazendo abraçá-lo por trás.

– Deixa de ser sedentária.

– Ah Alexandre, por favor. Quero ficar em casa. – Ele soltou minha mãos, me virando. Me olhando nos olhos, parecia concentrado.

– O que foi?

– É que tem uma coisa... na sua testa...

– O que?

– Acho que é poeira... Definitivamente é poeira. – Ele fingiu tossir.

– Idiota. – revirei os olhos.

– Tem poeira aqui ó, perto da sua boca. – Ele me puxou para perto, passando a mão pelo canto da minha boca. Seu rosto chegando perto. Me mantive relaxada, sentindo uma vontade súbita de rir de sua cara marota.

– Você é a pessoa mais carente que eu conheço...

– Ceci é mais carente que eu. – Olhei para Alexandre, abismada como ele era ótimo em quebrar o clima as vezes.

– Tem razão. – Me desvencilhei dele. – Vou me arrumar. Você precisa ver logo Ceci antes que comece a trocar o meu nome pelo dela.

Sinceramente, eu não estava magoada com Alexandre ao dizer isso. Era só um fato. Ele era doido por Ceci e isso era palpável, não era algo que eu competiria. Mas né, ele era meu namorado e eu me sentia levemente incomodada com isso. Caminhei até o banheiro, deixando um Alexandre com cara de taxo pra trás, indo me arrumar. Essa ia ser uma tarde muito previsível. Iríamos encontrar Cecília e Igor e no final das contas... Eu sairia magoada. Céus, eu realmente não quero encontrar com ele. Mas no final das contas, nada do que eu queria acontecia mesmo.

~*~

Eu e Alexandre não conversamos enquanto íamos para a praia. Vesti um vestido azul leve e uma sandália rasteirinha. Ele estava bonito de bermuda e camisa folgada. Olhei ao redor, a praia estava cheia. Cheia de conhecidos e parecia bem animada. Estavam falando de estender a festa para a noite, acender uma fogueira. Aquelas coisas bem familiares e simples.

– Maria... Fala comigo, sério.

– Espera mesmo fazer com que eu fale com você me chamando de Maria?

– Foi só pra chamar a atenção. – ele riu baixinho. – Me desculpe se eu ando falando muito dela e...

– Relaxa. Sei que deve ser involuntário pensar nela.

– É... Eu sinto muito.

– Não se desculpe. É sério. Estou acostumada. – Acostumada com meus ex, atuais e futuros namorados se apaixonando pela minha irmã. Eu estava quase me convencendo que era algum tipo de espécie de karma. – Só, vamos curtir a festa antes que meu azar atraia os dois para perto da gente.

– Tarde demais. – olhei para onde ele estava olhando. Ceci estava rodeada de amigos, e Igor naquele meio. Ele estava rindo. Realmente rindo com eles. Isso me surpreendeu. Desviei os olhos deles.

– Então... Dá tempo de fugir?

– Não. – Ele continuou olhando naquela direção. – Igor já nos viu.

– Droga... – gemi, contrafeita, respirando fundo. – Vamos lá logo antes que eles venham.

– Espera... – Ele me puxou pelo braço, então rapidamente veio e me beijou. Sua mão segurando minha nuca, retribui o beijo desajeitada. Ele se separou e piscou para mim, maroto. Segurando minha mão e me puxando para perto de um Igor e Ceci boquiabertos. Não pude deixar de sorrir para a ironia de toda a situação.

Capítulo 26

Chegamos perto de Igor, que bebeu seu copo de cerveja de uma vez só. Olhando minha mão na de Alexandre, entrelaçadas. Ele tinha agora o maxilar trincado e sua expressão me deixou curiosa, a primeira vez que eu via seu rosto tomado por algo assim.

– Oi. – murmurei, olhando para Ceci. Que deu um sorriso amarelo.

– Não achei que vocês viriam.

– Alexandre me convenceu a vir. – sorri, surpresa por eu estar alimentando a conversa.

– Eu vou falar com uns conhecidos. Volto já. – Ceci disse se afastando, magicamente seus amigos acabaram sumindo também. Ficamos só nós três, um olhando pra cara de taxo do outro. Alexandre bufou, mas tentou iniciar uma conversa com Igor. Eles começaram a conversar e eu revirei os olhos pelo cinismo deles. Me distrai, olhando o movimento da praia. Depois os encarei, os murmúrios já haviam acabado. Eles se encavam, a expressão raivosa. Me perguntei o que perdi. Alexandre olhou para mim, sério.

– Eu já volto. – Ele disse, já andando, os olhos fixos na direção que Ceci tinha acabado de ir. Ele beijou minha bochecha de leve enquanto passava e eu revirei os olhos. Olhando para Igor. Ele falou calmamente, tomando um gole da sua cerveja:

– Não vai fugir? – ri baixo. Surpresa, porque não estava me sentindo verdadeiramente incomodada dessa vez.

– Vou esperar Alexandre voltar, pra não me perder dele.

 

– Huum... – Ficamos em silêncio, olhando as pessoas passarem. – Então você e ele... juntos?

– Pois é.

– Por quê? – olhei para ele, que parecia exasperado agora. Ergui a sobrancelha, confusa.

– Porque o que?

– Porque vocês estão juntos? Quer dizer... Eu sei que ele gosta de Ceci. É meio óbvio. – rngoli em seco, sentindo meu bom humor desaparecer. – Mas isso não te incomoda? Saber que seu namorado gosta da sua irmã?

– Todos gostam mais de Ceci, é um fato e... – respirei fundo, fazendo um joinha leve pra ele. – Obrigada por esfregar isso na minha cara.

– Não foi isso que eu quis dizer...

– Foi exatamente isso sim. Não se preocupe. E... Eu estou com Alexandre, porque ele me faz bem. – Ficamos em silêncio novamente. Ouvi-o sussurrar baixinho:

– Eu fazia você se sentir bem? – pensei um pouco nisto e acabei optando pro ser sincera optei por ser sincera:

– Não sei responder. Não sei se você era você mesmo antes. Não sei nem quem é você agora.

– Quem eu sou? – Ele sorriu de leve. – Essa é fácil... Eu sou Igor aquele que ama...

– Minha irmã. – interrompi, não sabendo muito bem se queria ouvir a conversa.

– Eu amo uma Maria. Só que ela é orgulhosa demais para me deixar dizer isso. – fiquei sem fala por alguns segundos, depois balancei a cabeça em desaprovação:

– Você gosta de complicar tudo. Não gosta de me ver feliz?

– Claro que eu quero você feliz. – Ele disse de um jeito que parecia tremendamente óbvio.

– Então porque não me deixa em paz?

– Talvez pelo mesmo motivo pelo qual você fuja de mim. – revirei os olhos, não gostando do rumo da conversa. Ficamos em silêncio por um segundo, até ele quebrá-lo, a voz decidida. – Eu definitivamente vou terminar com Cecília.

– Não! Vocês estão bem juntos e eu estou com Alexandre.

– Você não ama Alexandre. E eu não amo ela...

– Pare de dizer isso. Torna tudo pior pra mim, sabia? – mordi o lábio. – Eu estou tentando superar algo aqui. Colabore.

 

– Eu não posso.

– Porque terminar? Já chegou até aqui. Estamos pagando de amiguinhos, eu estou namorando. E está durando mais de 48 horas. O que é um avanço e tanto. E você e Ceci... Porque terminar logo agora?

– Porque eu não a amo. Porque estamos mentindo um para o outro. Porque ela não me ama também. Porque eu não sou mais uma criança, eu tenho uma vida agora, eu moro sozinho, tenho meu emprego, meu carro e eu não posso me comportar como uma criança mimada, que não se contenta em não ter as coisas tão fáceis assim. Eu estou regredindo, e isso é um saco! Eu não sou o centro do universo, e eu não posso obrigar o mundo a girar na direção e na velocidade que eu quero porque eu perdi muitas coisas. Eu entendo isso agora. – engoli em seco, amaldiçoando meu coração que perdeu completamente o ritmo. – Não que eu tenha feito de propósito, eu só... Eu fui egoísta por tempo demais. Eu perdi você por ser egoísta, eu magoei você por ser egoísta, e eu provavelmente vou magoar Cecília pelo mesmo motivo. Eu não quero me sentir mais assim, não quero continuar fazendo isso com a sua irmã, com você e admito, comigo também. Eu ando agindo como um garoto perdido, porque uma certa garota me bagunçou totalmente. Mas eu esqueci que a culpa não é dela... Que se eu a quero de volta, eu tenho que lutar pra isso.

Tentei me recuperar de suas palavras. Sentindo o ar faltar e as bochechas corarem. Senti dificuldade de sustentar o seu olhar, parecia que me queimava. Tentei encaixar as palavras, encontrar algum sentido, mas eu não conseguia. É como se meu cérebro não conseguisse processar. Eu tentava repassar a conversa na mente, mas meu coração conseguia bater mais alto que os meus pensamentos. Coloquei a mão nele, tentando silenciá-lo. Olhei de volta para Igor, que aguardava alguma resposta minha. Gaguejei as palavras, ainda confusa:

– Realmente álcool deixa as pessoas insanas.

– Eu não estou bêbado. – Ele bufou.

– Está agindo como um. – suspirei, ainda em choque com suas palavras.

– Amor é bebida e ressaca. Ele só não é um bom analgésico.

– E também não é um bom sal de frutas. – declarei, entrando no joguinho ridículo. Ele riu baixo, depois mordeu o lábio, me encarando.

– Eu te perdi, mas eu ainda sinto como se você fosse minha.

– Isso é errado. – sussurrei. Me afastando de leve.

– Eu sei disso. Mas eu não posso evitar. – Ele sussurrou de volta, seus olhos queimando nos meus. – E nem quero evitar.

– Eu gosto de Alexandre... Não posso deixá-lo. – continuei, sussurrando.

 

– Eu gosto de Ceci também. Mas ela merece algo melhor.

– Ela precisa de alguém que amadureça junto com ela. Talvez você seja a pessoa. Você faz bem a ela, eu vejo isso. – olhei para o chão, fugindo daqueles olhos penetrantes.

– Não, não mais. Eu não posso mais tentar também. – O encarei, sem poder me conter. Ele me analisava também, sem desviar os olhos dos meus. Sustentei o seu olhar, teimosamente. Um meio sorriso surgiu em seu rosto. Mordi o lábio, em conflito.

– O que vocês dois estão fazendo? – Cecília apareceu, tinha a expressão desconfiada. Percebi que Igor estava perto demais de mim, me afastei. Confusa e ainda em choque pela nossa conversa.

– Nada. – respondi, me virando de lado. Dando espaço para eles. Tentando me controlar e processar as palavras de Igor. Procurando Alexandre com o olhar. Me virei para Ceci, me lembrando que Igor queria terminar com ela por causa de... nós. Senti uma onda de culpa me varrer. O que diabos eu estou fazendo? Olhei em volta, a boca seca, procurando meu namorado. – Você viu o Alexandre?

– Não... A propósito, porque está mentindo desse jeito? – Seu tom agressivo me surpreendeu.

– Como?

– Eu sei que vocês não se gostam. – Ela disse simplesmente.

– Como pode saber que não nos gostamos?

– São amigos. É isso que vocês são. Não podem ser namorados. – senti a ironia gritante por trás de suas palavras. Ela estava pior que irônica, ela estava agressiva e venenosa.

– Isso não é da sua conta, Cecília.

– Você nunca prende um namorado, Malu. Ainda mais um mulherengo como Alexandre, e se ele te trair? Sei lá... Pode acontecer. – Ela sorriu diabólica. Me perguntei o que ela tinha. Eu sabia que eu deveria fazer para não esquentar a cabeça. Ignorar. Ceci tinha esses seus ataques, sempre frequentes, de criança mimada. Eu sempre ignorava. Mas dessa vez, doeu. Senti a mágoa enchendo meu peito e mordi a língua, magoada. Havia certa verdade por trás do que ela me disse.

– Cecília! Para com isso. – Igor interviu, tentando segurá-la pelo braço.

– O que foi? É a verdade. – Ela se afastou do braço de Igor com desenvoltura. – Estou tentando evitar que ela se machuque. A verdade pode doer.

– Porque está dizendo isso? Ele nunca faria isso com uma garota como a Malu.

– Uma garota como a Malu? Qual o diferencial dela? – Vi seu rosto mudando de cor. Atingindo uma cor de vermelho berrante. Apenas fiquei assistindo a briga do casal, mais chocada impossível. – Não entendi o que você está sugerindo. O que ela tem de especial, hein, Igor?

– O que está dizendo? Ela é sua irmã! – Igor também parecia chocado com a atitude dela. Pelo visto, ainda não tinha presenciado ela tendo um ataque, ainda. – Você antes de todo mundo deveria ver suas qualidades.

– Irmãzinha? Ah me poupem.

– O que está dizendo?

– Vocês acham mesmo que eu sou idiota? Que não tem algo rolando entre vocês?

Foi como se uma bomba tivesse explodido naquele ambiente. Droga! Percebi subitamente que várias pessoas assistiam a briga. Pelo menos os mais próximos. Igor trocou olhares comigo, igualmente chocado. Olhamos de volta para Ceci, que parecia que iria pular em nossos pescoços a qualquer momento. Me perguntei o que tinha feito ela de súbito explodir assim.

– Você está bêbada. Não está dizendo coisa com coisa! – gaguejei as palavras, praticamente atestando minha culpa. O problema, é que eu não me sentia totalmente culpada. A culpa vinha do beijo e da conversa que eu tivera com Igor recentemente. Mas eu me sentia mais como a vítima. Quer dizer, ela me fez viver com ele próximo a mim. Ela me fez passar novamente por isso. Ela me disse coisas terríveis. E ainda assim ela brava comigo. Eu é que tinha que ouvir essas coisas! E no final das contas eu era a péssima irmã. Era terrivelmente injusto.

– Admita Malu... Você está tentando tirar o Igor de mim!

– Está louca?! – Eu nunca quis tirar ele, dela. Eu aceitei, não aceitei? Meu Deus, porque eu estava passando por isso? Não era ruim o suficiente tudo que eu estava passando?

– Vocês vivem brigando e no final, eu sempre acabo brigando com ele também! Eu queria que vocês fossem amigos, mas vejo que vocês já passaram desse estagio.

– Você está inventando coisas, Ceci. Eu nunca tiraria um namorado seu. – Eu não seria tão mesquinha, tão filha da mãe assim. Ia totalmente contra meus critérios, contra quem eu era. E afinal de contas, ela era minha irmã, poxa!

– O que você tem, Cecília? – Igor disse, finalmente falando algo.

– Só estou juntando os fatos.

– Ai, cala a boca! Estou cansada de você, Cecília. – A raiva explodiu naquele momento. A mágoa deu lugar ao rancor. E antes que eu pudesse ver eu estava quase gritando. A voz elevada e carregada de nervosismo. – Uma hora está toda boazinha, querendo que eu e seu namorado sejamos amigos. E do nada diz que temos algo mais? Pelo amor de Deus. Nós não nos suportamos. Você tira essas coisas do nada, sempre querendo arranjar discórdia. Sempre querendo que eu me sinta um lixo. Admito, hoje você está conseguindo. Isso te deixa satisfeita? Então acabe logo com a droga desse teatro. Quer saber? Eu vou pra casa. – Olhei ao redor, procurando Alexandre.

– Eu se fosse você, nem procurava. Eu vi ele conversando com a Ana, é uma ex dele não é? – Me afastei, um pouco chocada. Subitamente senti meus olhos se enxerem de lagrimas. Eu não merecia isso.

– Tudo bem, eu vou pra casa sozinha. – virei as costas, deixando os dois discutindo para trás. Eu estava completa e inteiramente raivosa com o que estava acontecendo. Morrendo de raiva de Ceci e de Alexandre, totalmente magoada, e ainda não acreditando como minha tarde fora estragada por esses dois. Ou seria por esses três? Percebi que não era só a minha tarde que estava estragada. Eu também tinha virado um lixo ambulante. Sentia os caquinhos do meu coração pela areia enquanto andava. Era um terrível dejá vu.

 
 

Capítulo 27

 

Cheguei em casa irritada. Totalmente raivosa por causa do súbito ataque bipolar de Ceci. Ela era absolutamente inacreditável, impossível, doida e hipócrita. Estava irritada com Alexandre também. Os dois definitivamente se mereciam. Passei pela sala escura, acendendo a luz. A casa estava vazia. Provavelmente minha mãe saíra com Karol.

Fui para a cozinha, eu tendia a ficar com fome quando estava irritada. Abri a geladeira, ainda não acreditando no absurdo de toda a situação. Ainda não acreditando na desconfiança de Ceci, que estava meio certa, mas ainda assim precipitada e estranha. Uma hora ela queria que fôssemos amigos e no outro estava me acusando de roubar seu namorado? Pelo amor de Deus! É simplesmente demais para a minha cabeça.

Peguei um pedaço de pizza que havia sobrado da noite anterior e coloquei no prato, e depois no micro-ondas. Vendo o prato girar, enquanto minha cabeça girava também. O sangue martelando com força nos meus tímpanos. Sentei-me à mesa, sem me importar com cadeiras. Mordiscando a pizza de leve. Era como se tudo fosse feito para dar errado comigo. Como se eu fosse algum tipo de imã para tragédias adolescentes. Eu mal podia esperar para ‘crescer’. Tudo tem que melhorar quando se é adulto. Embora ser adolescente tenha suas vantagens. Como matar sem pegar prisão, só detenção.

Me assustei com meus pensamentos absurdos e completamente insanos. Terminei de comer, ainda ruminando as palavras de Ceci e também de Igor. Porque não existia um botãozinho que nos fazia desapaixonar? Seria tão mais fácil, tão mais simples. Pouparia lágrimas, dores e ataduras imaginárias. Não existiria tanta gente rancorosa ou desesperançada. Não existiriam tantas lembranças que assombram qualquer um. Um botão de se desapaixonar com certeza é um bom negócio.

 

Levei meu prato para a pia, já me preparando para lavar. Então ouvi a porta da sala fechar-se com força. Larguei o prato na pia e me virando para a entrada na cozinha. Ceci estava parada, arfando. A maquiagem borrada e a expressão meio insana. Droga... droga... Eu conhecia aquele olhar, conhecia aquela boca raivosa e aquelas mãos em punhos. Ela estava mais do que aborrecida, ela estava magoada e enfurecida. Eu conhecia bem Ceci o suficiente para saber o que realmente tinha acontecido. Ela tinha terminado com Igor. Pior... Ele tinha terminado com ela.

– Eu. Te. Odeio. – Ela murmurou entre dentes. – Como pode fazer isso comigo?

– Como?

– Ele é o meu namorado!! Não o seu. Não podia ter feito isso. Porque não me contou o que estava acontecendo?

– Ceci, não estou entendendo. – Na verdade, eu estava entendendo muito bem. Mas eu queria fugir dessa situação. Era pedir demais ir embora e deixar de brigar? Mas Ceci estava disposta a discutir, dava pra ver isso nos seus olhos vermelhos.

– Ele me contou tudo!

– Tudo?

– Sim! Me contou que vocês estiveram juntos nas férias passadas. Contou que você terminou com ele. E depois ele... Ele... Ele terminou comigo. Por sua causa! – Ela estava gritando, prendi a respiração, raivosa. – Tudo você, Malu! Sempre você! Porque você teve que estragar tudo que parecia bom pra mim? Você é uma praga!

– Pare de falar assim comigo, sua insensível!

– Insensível? Eu? Insensível?

– Sim. Insensível, egoísta, imatura, infantil. – acusei. – É isso que você é. Uma criança mimada, que não aguenta perder as coisas.

– E você é invejosa! Roubou meu namorado!

– Roubei seu namorado? Pelo amor de Deus! Ele foi meu namorado muito antes de ser seu! Ele foi meu muito antes de ter sido seu. Se é que ele foi seu algum dia! Você fala de mim, mas como você disse, ele terminou com você. A culpa não foi minha, foi sua! Não conseguiu segurar o homem e ele quis voltar pra mim. – calei a boca, percebendo as palavras cruéis. Mas eu estava irritada demais. Estava estressada demais, cansada e irritada. Estava indignada e sendo absolutamente egoísta, eu queria que ela sentisse tanta dor quanto eu.

Antes que eu pudesse perceber Ceci estava vindo pra cima de mim. Suas mãos procurando meus cabelos. Chutei sua canela, fazendo com que ela caísse de joelhos, mas me puxasse para baixo. Caindo com estrondo no chão. Empurramos a mesa no atrito e as cadeiras viraram. Depositei toda a minha fúria em minhas mãos e eu a sentia arranhando meu rosto. Eu fazia pior. Tentando me defender.

 

Nossos gritos eram audíveis e eu sentia o meu couro cabeludo doer. Então senti um par de braços me puxando pra longe do cabelo de Ceci. Senti os fios de seu cabelo na minha mão. Ouvi as vozes de minha mãe, Alexandre e Karol.

Me desvencilhei dos braços de Alexandre. Vendo meus danos. Podia sentir meu couro cabeludo arder e meu rosto também. Meus braços pulsavam e eu sentia uma dor na canela um tanto desagradável. Eu arfava, cansada pela pequena luta. Ceci estava tão ruim quanto eu. Encolhida em um canto. Minha mãe no canto e Karol assustada perto dela. A cozinha ficou em um silêncio absoluto. Só se ouvia as nossas vozes.

– Não gosto quando vocês brigam. – olhamos para Karol. Imaginei vê-la chorando, mas ela estava de braços cruzados. – Briga de menina é chata. Vocês são umas molengas.

Então ela se virou e foi para a sala. Pude ouvir a TV da sala sendo ligada, e as vozes de desenho começar. Revirei os olhos. Tinha que ser Karol... Olhei para minha mãe. Ela estava com aquela cara irritada, cara de quem ia nos dar uma baita bronca. Quis fugir:

– O que diabos está acontecendo aqui? – joguei meu cabelo para trás, suspirando.

– A culpa é dela! – Ceci explodiu novamente. Agora chorava, os soluços a sacudindo. E a deixando com uma voz embargada.

– Pare de dizer que a culpa é minha, caramba!

– Mas é sua culpa! Você é uma egoísta, que me odeia.

– E você, me ama? Me fez fazer um monte de sacrifícios. Me fez ficar perto dele quando eu não queria. Você faz alguma ideia de porque terminamos? Não! Você sabe por que eu odeio ele? Não. Sabe por que eu fugia dele? Não. Sabe por que eu sempre procurei me manter afastada de você e me irritava quando me pedia pra ficar perto dele? Não. Você sabe por que eu abominava essa amizade inútil que você quisesse que eu tivesse com ele? Não. Não. Não! VOCÊ NÃO SABE DE NADA! – gritei. – Só fica aí me julgando. Bravinha porque nada saiu do seu jeito. Ah, eu quero que você se exploda!

– Eu te odeio! Realmente te odeio!

– Ótimo, se você me odeia por causa de um garoto, se você prefere perder uma irmã por causa de um cara que te deu um pé na bunda. Já que você não tem amor próprio, nem senso de família, é bom mesmo você ficar me odiando. Porque a recíproca é totalmente verdadeira!

Saí da cozinha. Deixando eles para trás. Corri para o meu quarto, fechando a porta com estrondo. Senti uma dor começar no meu peito, me encolhi na porta, passando as mãos pelo cabeço e começando a chorar, sentindo tudo que eu tinha guardado explodir de uma vez em meu peito.

 

 

Comente aqui:

Data 10/04/2012
De Fulana de tal...
Assunto CADE OS NOVOS CAPITULOS?

Estamos há semanas aguardando os capitulos e nada deles, estamos loucas pra saber o que vai acontecer... Por favor, postem logo.

Data 24/03/2012
De Melissa
Assunto ~ Posta mais vai ~

Suuuper curiosa,não abandona não (:

Data 23/03/2012
De Diretoria Oficial Oliveira
Assunto Atenção.

Pedimos que leiam as informações da página inicial do site e no mural das webs.
Att, Diretoria.

Data 08/03/2012
De Beatriz
Assunto Web

que dia que a escritora vai postar mais ?

Data 22/03/2012
De Janine Oliveira - Autora
Assunto Re:Web

Ei, querida. Não sou responsável pela postagem de capítulos. Isso é com a moderação do site. Também estou a espera. ;)

Data 12/02/2012
De Diretoria Oficial Oliveira
Assunto Atualizada!

Capítulos 18, 19 e 20 atualizados meninas!
Bora ler e descobrir o que vai acontecer agora...
Beijos.

Data 10/02/2012
De Jéssica
Assunto ..... SIMPLESMENTE PERFEITA.....

Essa história é maravilhosa, estou amando... Espero que postem mais hoje ou amanhã. Estou muito ansiosa.
DOIDA PRA SABER O QUE VAI ACONTECER QUANDO A CECI DESCOBRIR DE TUDO *o* AMO ESSA WEB.

Data 12/02/2012
De Janine - Autora
Assunto Re:..... SIMPLESMENTE PERFEITA.....

Heey, querida. Como vai?
Que boooom que está gostando. Fico muito feliz de vê-la tão empolgada.
Não sei quanto a postagem dos capítulos, mas as meninas do site procuram postar sempre que podem. ;)
Obrigada pelo comentário. Espero que continue acompanhando a web.
Beijinhos.

Data 10/02/2012
De LEEITORA ;] *
Assunto o que eu acho *u*'

A história é simplesmente perfeita ; o enredo é perfeito , a forma que é escrita , sem erros , os personagens ... Enfim , espero sinceramente que esse comentario dê animo á escritora ;] ' eu estou muito anciosa & curiosa para ler os proximos capitulos . É meio impossivel não se envolver na história ... PARABÉNS escritora , realmente vale muito a pena ler essa história .

Data 12/02/2012
De Janine - Autora
Assunto Re:o que eu acho *u*'

Oi, flor.
Você não tem ideia de como comentários assim me deixam feliz. Me dão um sentimento de satisfação e gratidão imensos. Eu fico muito feliz em ver uma critica positiva como esta. E ainda mais feliz em saber que você está gostando. Espero que você goste ainda mais do próximos capítulos que vem por aí, porque muita, muita coisa ainda vai acontecer.
Muito obrigada pelos elogios. Me deixou mais do que feliz e animada.
Obrigada. *0000*

 

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