Ser bonzinho demais atrapalha?

     Se tem uma coisa que te deixa ansioso o tempo todo e às vezes deprimido, agradando a todos porém não a si mesmo, essa coisa é: ser bonzinho demais. Alguns dizem que é sinal de maturidade, outros que isso disfarça um medo de desagradar o outro. E por que não pode ser os dois? Aliás, por que não pode ser muito mais do que isso? "Ser bonzinho" não se restringe a uma característica apenas, e pode sim atrapalhar no relacionamento com as pessoas. Se você tem dificuldade em dizer "não", de chatear o outro, ou, mesmo, de não ser aceito em determinado espaço social, e por esse motivo age sempre com empatia porque não gostaria de ser tratado mal também, isso não necessariamente significa que você é bonzinho demais, mas que você provavelmente é uma minoria.

    Muitas pessoas não entendem que "ser bonzinho" vem de criação e que não é uma tarefa fácil mudar quando este aspecto começa a atrapalhar de alguma maneira. O problema é que se você quer viver em sociedade (ou melhor, se você não tem escolha e precisa viver em sociedade), você se relaciona com as pessoas, certo? E nesse relacionamento, na maioria dos ambientes, tem conflitos, desentendimentos, enfim, por mais flexível que o sujeito seja, nem sempre ele vai conseguir viver em harmonia com todos. E qual o por que disso? Porque somos diferentes, e muitos, ainda, tem dificuldade em reconhecer as diferenças e as opiniões divergentes. O "bonzinho" estará quase sempre disposto a ajudar quem precisa, dificilmente fará julgamentos - e se fizer, será na presença da pressão de colegas e amigos  para não desapontá-los -, tendo, internamente, talvez uma falsa sensação de "dever cumprido". Como este indivíduo se põe no lugar do outro, ele faz coisas que faria para si, mas se ilude ao pensar que as pessoas farão o mesmo por ele. E aí, a decepção é quase que certa: o bonzinho não é valorizado como gostaria ou deveria. E quando as pessoas percebem que podem fazer o que quiserem com o indivíduo porque "ele é bonzinho mesmo, vai aceitar e não vai dar nem bola", ele fica desnorteado.

     Mesmo com as desvantagens, acredito que quem tem essa característica em um mundo extremamente individualista, acaba se destacando; não digo um destaque explícito, mas sim o de se diferenciar entre a maioria. Mas... será que vale a pena camuflar os próprios problemas absorvendo os dos outros? ... Perceber que nem todos te valorizarão pelo que é, e sim pelo que você tem de "útil"? Triste, mas é necessário abrir os olhos. Se você é assim, precisa tirar um tempo para si: ouça mais música, sorria, durma, converse com as pessoas que realmente gostam de você e que prezam pela sua felicidade - sua família, seus verdadeiros amigos -, porque a vida não é pra ser uma obrigação e sim algo prazeroso... É difícil por em prática, com certeza, mas com o tempo é possível se acostumar com a ideia de que preocupar-se demasiadamente não tem valor nenhum: só traz coisas ruins.

     Aprenda: esperar dos outros o que você faria por eles pode te prejudicar e é uma ilusão. Pense mais em si! E conforme-se de que mesmo você tendo problemas e estando de bom humor todos os dias, nem todos são assim, tem gente que não sabe separar as coisas e te trata mal mesmo sem você ter feito nada. Infelizmente, a vida é assim.

Gabriel de Oliveira