Tem coisa pior, em meio às exigências sociais, do que se sentir mal e não saber o motivo? De ficar naquela angústia profunda, à espera de respostas para perguntas que nem mesmo você sabe definir direito quais são. É desencorajador, triste, frente aos julgamentos que as pessoas tanto insistem em fazer. Ao olhar para os lados, seja qual for o ambiente (escolar, familiar, trabalho), a sensação de impotência emerge e faz com que o indivíduo se sinta isolado, sem ninguém para contar o que, de fato, incomoda-o. Não era para ser assim... Se analisarmos bem, o que acontece hoje com algumas pessoas provém, de maneira geral, de como estas foram criadas, com participação da parte biológica, e, sem dúvida, com uma significativa contribuição de toda a história da humanidade: a sociedade como um todo, as culturas, os dogmas que estão impregnados em nossas relações e não há como negar. Aí, levanta-se a seguinte pergunta: E se eu ou você tivéssemos nascido em uma época ou cultura diferente, seríamos quem somos hoje? A resposta é não, considerando que há uma complexidade por trás da formação de uma cultura e também através de mudanças históricas que, obviamente, interferem em nossa construção.
Achei cabível trazer tais aspectos porque eles talvez expliquem, de maneira realmente sucinta e ao mesmo tempo complexa, que se fizéssemos parte de outra cultura ou de outro momento da história, não pensaríamos o que pensamos hoje e talvez nunca nos permitíssemos discutir certas questões. Discutir sobre si há muito não era sequer problematizado. É uma vantagem que temos de apenas séculos atrás. Seria isso bom ou ruim? Pensar demais adoece ou traz vida? Prefiro dizer, na minha humilde e leiga opinião, que pensar sobre determinado aspecto está conectado a uma certa expectativa, talvez inconsciente, e que, depois de muito estudado, pesquisado, pode trazer uma resposta não tão satisfatória quanto àquela que fosse a ideia inicial, ocasionando a decepção e até o adoecimento. Fato este que não é exclusividade da contemporaneidade, porém que nem sempre foi aceitável na humanidade. Tivemos épocas que pensar por si era praticamente uma sentença de morte, portanto muitos tinham que mascarar o que pensavam de fato. Hoje, apesar da plena era da tecnologia e acessibilidade à informação, pensar e expor tais pensamentos nem sempre é a melhor alternativa. Vivemos em uma sociedade altamente depreciativa e por vezes intolerante com as opiniões contrárias àquelas que regem o seu cotidiano. Posicionar-se sobre um assunto implica mostrar subsídios para sustentar as afirmações. Típicos temas como religião, ciência, política, sempre geram controvérsias e polêmicas que muitas vezes acabam não trazendo resultados significativos no momento. Discuti-los requer disciplina e respeito, o que, infelizmente, muitos não têm. Por que será que é tão difícil aceitar a ideia de que o mundo é tão diverso e tão misterioso e que não cabe a ninguém impor o que acha que é certo na vida de outra pessoa? Discriminação, preconceito e intolerância existem porque houve imposição de culturas sobre as outras. Um etnocentrismo exacerbado que permaneceu durante anos e anos e que ainda existe hoje. Impedir que certa minoria faça determinada coisa porque na “minha cultura” isto é inaceitável é impor e dizer que a cultura na qual “estou inserido” é a dominante: é ignorar que existem muitas outras formas de viver e que estas não necessariamente compactuam da mesma forma que eu vivo.
Agora eu volto à questão inicial... Será que eu, de fato, não sei os motivos quando digo que estou angustiado e não me sentindo muito bem? Será que depois de uma análise sobre tudo o que fazemos, sobre o que as pessoas ao nosso redor fazem, eu não consigo chegar a uma possível explicação? Será mesmo que eu sou a razão para a minha própria angústia? Ou será o meu “pensar” indignado que detém todo o incômodo? Na verdade, é através do quê que há a manifestação de um pensamento crítico e embaraçado? Não seria o peso que a maioria (a sociedade) tem sobre os silenciosos? A conservação de conceitos e preceitos que um todo considera como padrão?
Céus, não há padrão!
Precisamos urgentemente pensar mais sobre os rótulos a que fomos impostos. Não dá para se conformar com as injustiças que muitos insistem em manter. Diante de tais condições fica muito difícil pensar que ainda nessa geração seja possível alguém ser plenamente satisfeito.
Gabriel de Oliveira