Capítulo 9

10/06/2013 17:41

Acordei confusa e com as costas doloridas. Mais uma vez eu tinha dormido de mal jeito. Sentei na cama, me espreguiçando. Senti um estalo nas costas e percebi que a dor melhorara. Me levantei, de olhos fechados e saí tateando pelo quarto até chegar ao banheiro. Molhei o rosto, e tentei abrir os olhos, ainda pesados. Gemi ante a minha imagem no espelho, descabelada, com a cara inchada. Ainda com o cérebro quase parando entrei no banho, quente.

Depois do banho, agora mais desperta fui me trocar. Parei no quarto, e vi a sandália cheia de areia. Imediatamente comecei a me lembrar da noite anterior e corei furiosamente, de raiva. Bufei e fui até a minha mala, escolhendo a roupa. Tentando pensar em tudo, menos nele.

Me vesti, ainda nervosa e peguei meu celular. Três chamadas do meu pai e uma mensagem de texto dele pedindo para eu ir tomar café. Viu como sou popular? O único que me liga e manda mensagens é o meu pai. Abri a porta e saí do quarto, evitando olhar para a porta ao lado.


Desci de escadas, com dor de cabeça, aproveitando minha ressaca moral. Eu sentia raiva e vergonha, ainda. Eu tinha que parar com isso, ficar remoendo coisas passadas. Eu tinha que esquecer, ignorar, mas era difícil. Vi meu pai sentado em uma mesa, com Carlos ao lado. Sentei ao lado deles, sem dizer nada.

_Bom dia._Os dois disseram.
_Oi.
_Se divertiu na noite passada?_Carlos perguntou, interessado demais. Dei de ombros.
_Chegamos tarde ontem. _Meu pai falou. Será que ninguém percebia que eu não queria papo?
_Eu não vi vocês chegando, dormi cedo.
_Hum.
_Pois é._E assim, a conversa com meu pai se encerrou. Ignorei-os e só comi meu café da manhã, sonolenta e raivosa.
_Vai pra praia hoje?_Levantei os olhos do prato, surpresa. Meu pai nunca foi de muitas palavras e na verdade ele me deixava bem a vontade.
_Não.
_Então vai andar naquele calçadão?
_Também não._Respondi, voltando ao meu prato.
_Isso é ruim. Eu comprei um skate para você lá no centro da cidade, porque sei que você não trouxe o seu. E imaginei que você iria gostar de andar hoje, já que não está tão quente para ficar na praia._Olhei para o meu pai, agora sorrindo de orelha a orelha. Levantei da mesa e corri para abraçá-lo.
_Obrigada, pai!_Ele riu sem graça e eu me afastei._Onde está?
_Lá em cima, no meu quarto. Vá pegar.
_Certo._praticamente corri até o elevador e depois até o quarto do meu pai. Abri a porta e me deparei com uma Cristina meio verde sentada na cama, ela parecia doente._Você está bem?
_Não é da sua conta.
_Wow, que amor e carinho.
_O que você quer?
_Meu skate._Continuei parada na porta, batendo o pé.
_Ah, seu pai me deixou irritada em comprar essa droga pra você.
_Só fala logo onde tá._Ela apontou pra um canto do quarto, peguei a sacola grande e imediatamente saí do quarto, batendo a porta. Fui até meu quarto e abri a porta, e abri a sacola. Era um skate bem bonito, nele havia um desenho de uma caveira com corações bem vermelhos em volta. Era… Perfeito. Sorri, agora mais animada.

Eu estava andando a algumas horas de Skate no calçadão que tinha aqui e dado algumas volta pelo quarteirão. Era um lugar bonito e eu tinha conseguido me distrair de outros assuntos. Mas agora, sentada no banco, sozinha, várias coisas passavam pela minha mente.

 

_Pensativa?_Levei a mão ao coração tamanho o susto que levei.
_Quer me matar?
_Não, não mesmo._Não olhei para ele, na verdade eu não queria olhá-lo. A voz já era ruim o suficiente. Ficamos em silêncio por alguns segundos._Por que não olha pra mim?
_Por que você não vai embora?
_Porque eu não quero.
_Eu não quero algo também. Não quero você aqui.
_Queria conversar com você.
_Não temos o que conversar.
_É claro que temos. Não sei você, mas ontem fiquei remoendo aquela coisa que aconteceu na praia a noite inteira. Não quero dormir mal de novo hoje.
_Claro, não quer ficar com dor na consciência. Pobrezinho._Ironizei.
_O que espera que eu te diga ou faça? Por que eu não sei! _A voz dele era meio implorativa. Olhei os meus pés, constrangida e nervosa. _Não aja como se me conhecesse bem.
_É eu não te conheço. Esse é o problema.
_ Olha pra mim!_Olhei para ele, assustada com seu tom de voz. O que eu vi me assustou, ele tinha os olhos brilhantes, os lábios vermelhos e enquanto falava fazia gestos exagerados com a mão. Senti o coração acelerar._ Mas poderia conhecer e… Cara. Eu sinceramente não explicar o que houve. Eu queria ter um motivo pra explicar, mas você não entenderia, não tenho como explicar. Eu só… Eu só…
_Não sabe por que fez aquilo. Tudo bem. _Suspirei._Não estou com raiva, não quero mais pensar nisso.
_Me desculpe.
_Você não foi meu primeiro beijo mal sucedido. Não haja como se tivesse tanta importância._Ri sem vontade.
_Se não teve tanta importância porque ficou tão chateada?_O tom de convencimento em sua voz me irritou.
_Eu não fiquei chateada!
_Não?
_Mas é claro que não! Seu metido, arrogante. Não sei por que parei pra tentar conversar com você._Me levantei do banco, mais uma vez irritada.

Peguei o skate e estava prestes a andar, quando uma mão segurou meu braço, me puxando pra perto e colocando tão rápido nossos lábios que eu fiquei alguns segundos sem conseguir ter alguma reação. Irritada tentei me soltar, mas sua mão, cravada na minha nuca e puxando meus cabelos, me impediram de tentar novamente. Fiquei estática até que senti a sensação dos seus lábios, a textura e, finalmente, o gosto… Meio mole deixei o skate cair e me entreguei ao beijo. Sentindo meu coração explodir correspondi o beijo com tanta intensidade quanto ele me beijava. Me senti derreter no peitoral másculo dele e quando sua mão apertou minha cintura com força, esqueci meu próprio nome. Eu só queria me fundir ali, queria que aquilo não acabasse. Cedo demais ele se afastou, colocando o queixo na minha testa. Continuei de olhos fechados.

 

_Ainda com raiva?
_Arran.
_Jura?_Abri os olhos, me deparando com os seus próximos aos meus. Próximos demais, respondi a primeira coisa que veio a minha mente, mecanicamente.
_Arran.
_Tenho o remédio certo para sua raiva._Então ele me beijou novamente e eu procurei esquecer. Esquecer a raiva, esquecer tudo. Só aproveitar o momento.

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