Capítulo 8

10/06/2013 17:41

Na praia ficamos andando sem rumo. Apenas caminhando e conversando. Igor me fazia rir toda hora com suas piadas idiotas e gestos exagerados enquanto explicava algo. Percebi que estava gostando de ficar com ele. Estava gostando mesmo…

Meus pés descalços, igual aos dele, sentindo a areia acariciá-los. Nós tínhamos os tênis no pescoço, os cadarços amarrados e pendurados na nuca. Volta e meia de tanto rir eu acabava esbarrando nele e ele em mim, o toque dele, mesmo que por pequenos instantes, me arrepiava. Até que de tanto esbarrar caímos os dois na areia, cansados de andar.

_Você consegue ser mais sedentária que eu._Ele disse, parecendo alegre.

_Eu não sou sedentária.

_Preguiçosa ou acomodada? Escolha.

_Eu gosto do confortável. É diferente.

_Aqui está confortável pra você?_Ele disse, sentando mais perto de mim. Desviei o olhar constrangida, não respondendo._Estou esperando sua resposta.

_Você é bem cara de pau, né?

_Eu prefiro dizer que sou bem direto. Responda minha pergunta.

_Sim, aqui está confortável._Ficamos em silêncio, um olhando para o outro.

Então… Unindo toda a coragem do meu ser estiquei a mão, fria e trêmula, até o rosto dele, acariciando a sua bochecha de leve. Os olhos dele se fecharam por alguns segundos, até se fixarem nos meus, com algo mais do que surpresa, algo que eu não soube definir. Lentamente puxei seu rosto, cada vez mais próximo ao meu. Fechei os olhos, ainda guiando seus lábios até mim. Até que algo deu errado. Senti uma mão no meu pulso, que tirou a minha mão do rosto dele com firmeza. Abri os olhos assustada. Ele desviou o olhar. Boquiaberta, senti a vergonha e a humilhação me tomando por completo.

_O que eu fiz?_Soprei as palavras.Sentia o sangue subir rapidamente até meu cérebro. Me deixando tonta. Repassei o que tinha feito… Como eu fui ridícula! Eu sou ridícula.

_Nada. Você não fez nada._Além de passar vergonha, pensei.

_ Pensei que você quisesse também._Murmurei baixinho. Eu sentia mais do que humilhação. Era raiva, raiva, porque eu pensei que ele queria algo. Parecia, ele dava todos os sinais. E agora… Fazia isso. Eu me sentia enganada e quando eu me sentia enganada, eu ficava igualmente irritada e com raiva. Me levantei, exasperada. E saí andando, batendo o pé. Me sentindo ridícula.

_Malu! Espera… _Ignorei seus protestos e continuei andando. Senti dois braços me virando._Me desculpe, eu…

_ Já entendi, você não quer.

_Eu quero!

_Me poupe! Eu já entendi. E quer saber? Já chega. Me deixa ir._Puxei o braço, me soltando e recomeçando a andar.

_Me deixa, ao menos, me explicar.

_Não tem o que explicar! Eu já entendi! Me fez de idiota. Deixa pra lá. Não quero mais saber, ok?_Falei enquanto continuava andando._Vamos fingir que nada disso aconteceu. Melhor! Vamos fingir que nunca nos conhecemos. Parece bom pra mim.

_Espera!_Ele me segurou novamente e puxei o braço ainda mais com força.

_Já chega, ta legal? Que tipo de joguinho acha que ta jogando comigo? Não sou um brinquedo. Não pode ficar me manipulando. _Eu sentia uma raiva poderosa mesclada à humilhação dentro de mim. Eu me sentia enganada, me sentia patética e não conseguia controlar as palavras que saltavam da minha boca, expondo meus pensamentos embaralhados. Basicamente, eu estava descontrolada._Admita… Fez de propósito não é? Me fez querer, para depois simplesmente… Aff. Isso é ridículo. Não sei por que estou conversando com você. Com certeza é a última vez!

_Você não entende!

_Tem razão. Não entendo. Odeio bipolaridade, porque eu sou bipolar. Se já é difícil lidar comigo mesma. Imagina com mais um. Não dá. _Respirei fundo, tentando me acalmar._Sério. Esquecendo tudo nesse instante. Vamos fingir que nunca nos conhecemos.

_Você é mesmo muito drástica e dramática._Ele disse, parecendo agora também alterado.

_Quer saber? Me erra!_Sai andando e deixei um Igor estático atrás de mim. Ao longe ouvi um resmungo de raiva. Sem poder me conter olhei para trás e percebi que ele estava sentado na areia, curvado. Recomecei a andar, prometendo a mim mesma que deixaria a droga desse dia para trás, na areia. Claro que isso foi meio que impossível.

No meu quarto, de banho tomado e penteando os cabelos, a imagem de Igor não saia da minha mente. Mas o que atormentava eram as imagens, como um filme que passava pela minha cabeça. E o pior, eu não conseguia sentir raiva dele só por ele ter me constrangido daquele jeito. Eu sentia raiva de mim mesma também, sentia raiva por ficar imaginando como seria nosso beijo. Sentindo raiva de só imaginar como seria o gosto, a textura… Eu sou patética.

Joguei a escova de cabelos de lado, totalmente frustrada. Me deitei na cama, puxando um travesseiro, deitando a cabeça dele o apertando próximo ao ouvido. Suspirei. Minha janela estava aberta e ventava suavemente, me deixando arrepiada. O vento por sua vez trazia o cheiro do mar. Percebi horrorizada que Igor tinha cheiro do mar, e a brisa suave me lembrava da sensação do toque dele em minha pele… Fechei os olhos, irritada, frustrada, magoada e chateada comigo mesma. Não era possível eu ter me apegado a algo que eu conhecia há apenas um dia. Depois de muito me revirar na cama, acabei adormecendo, com o nome dele na minha mente.

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