Capítulo 7

10/06/2013 17:40

_Isso não é um encontro, não é?

_Claro que não… _Ele disse, bem sério. Mas a ironia era clara em sua voz._Não foi planejado. Eu não planejei. A não ser que você tenha planejado quase morrer de susto no meio da rua.

_Você é tão engraçadinho…

_Fico feliz que estejamos nos dando bem.

_Estúpido._Murmurei pela milésima vez. Abocanhando meu X-Burguer. Ele se limitou a rir, colocando uma batatinha na boca. Então ele parou, concentrado, olhando para mim e desatando a rir logo em seguida. Engoli rapidamente, confusa.

_O que foi?

_Está sujinho ali ó._Ele apontou para meu rosto. Constrangida passei a mão no rosto, tentando limpar.

_E agora?

_Ainda ta sujinho._Ele riu novamente e se inclinou na minha direção. Passando o dedão pela minha bochecha. Senti o rosto queimar. Ele sentou-se em seu lugar novamente, lambendo o dedo._Agora sim, está limpo.

_Ér… Obrigada._Voltei a comer, agora em silêncio. Percebi que ele não parava de me olhar, isso me incomodava. Era como se ele pudesse ver através de mim. Como se pudesse ver tudo que eu tentava esconder. E seu sorrisinho irônico me inquietava, não só por ele parecer ler meus pensamentos. Mas porque eu não conseguia deixar de achá-lo atraente com isso. Ele era bonito, mas ele era mais perigoso do que só bonito. Ele parecia meio que irresistível. O jeito de falar, andar, agir, sorrir, olhar. E o pior, eu estava falando com ele a menos de duas horas. Não era possível me sentir tão afetada. Eu nunca fui assim.

_Não sei muito de você._Ele quebrou o silêncio, me fazendo estremecer. A voz passou pelos meus ouvidos e percebi que o refrigerante na minha mão tremeu de leve.

_Pensei que soubesse bastante.

_Foi pra tentar impressionar.

_Quer dizer que não está mais tentando me impressionar?

_Pelo contrário… É só que você não parece ser do tipo de garota que se impressiona fácil.

_Isso você tem razão._Bebi o refrigerante, querendo aliviar a garganta seca.

_Então… O que me diz sobre você?_Percebi que ele não desistiria fácil.

_Certo. Lá vamos nós… Tenho 15 anos, faço 16 em breve, me chamo Malu. Tenho duas irmãs. Meus pais são separados e vejo minha mãe nos feriados prolongados e férias. Moro com meu pai há uns 3 anos, desde que eles se separaram. Ele vai passar dois meses aqui, por conta de trabalho, enquanto eu e a noiva dele ficamos de férias. Eu gosto de praia, mas tenho medo do mar. Gosto de skate e… Adoro ler. Francamente, sou bem estranha.

_Você sabe andar de skate?_Tanta coisa pra perguntar e ele vai perguntar sobre meu skate.

_Arran.

_Uau! Eu não sei andar nem de bicicleta direito.

_Skate é fácil. É sério.

_Fácil pra quem sabe, é claro!

_Já quebrei o tornozelo por causa do Skate. É que tenho mania de fazer coisas estúpidas e talz.

_Eu já quebrei o braço, quando tinha 6 anos. Caí da escada.

_Eu já caí de andador da escada quando tinha 6 meses. E o máximo que aconteceu comigo foi ficar com um arranhãozinho no braço. Ganhei nessa de quedas.

_Pera… Como você conseguiu cair da escada de andador? Não tinha ninguém de olho em você?

_Minha mãe era meio distraída e eu era discreta. Foi a maior façanha que já fiz.

_Impressão minha ou você tem orgulho disso?

_Claro que tenho! Sou ninja desde criança!_Ele riu de novo. Apoiei os cotovelos na mesa._Sua vez.

_Bem, tenho 17 anos. Sou apaixonado pelas estrelas e pelo mar. Também estou nessa cidade por férias, com meu melhor amigo. Estamos hospedados no mesmo hotel e tal. Vamos passar dois meses fazendo trabalho voluntário no planetário perto daqui. Conhece?_Acenei positivamente me lembrando vagamente do lugar._ Então… Irei começar a faculdade de Astronomia no começo do ano que vem. Não tenho irmãos e meus pais ainda são casados.

_Sua vida não é tão emocionante e dramática quanto a minha.

_Tem razão. Ah esqueci de algo. Gosto de ler, mas prefiro que leiam para mim.

_Folgado?

_Não. É só que… Quando as pessoas lêem pra mim, parece que elas interpretam as palavras melhor, não sei. É divertido.

_Ainda acho você folgado.

_Por quê?

_Por tudo! Você senta em cadeiras de praias alheias, persegue e assusta garotas por aí a noite…

_Ei! Eu não persigo garotas por aí. _Ele disse rindo junto comigo. Depois tentou se explicar._Não persigo ninguém. Você foi uma exceção e eu nem estava te seguindo. Eu estava apenas, casualmente, tentando te alcançar para saber se você precisava de companhia.

_Você estava me seguindo!

_Não estava. Vou ter que explicar tudo de novo? Tenho que anotar no meu caderninho: Além de desconfiada, ela é teimosa.

_Isso do caderninho é uma metáfora, não é?

_Por enquanto.

_Você é muito estranho.

_Mais uma coisa para anotar: Ela gosta de me chamar de estranho, estúpido e derivados._Acabei sorrindo.

_Estúpido!_Com isso ele começou a rir meio que engasgando com a coca. Depois de se recuperar, um pouco vermelho, ele disse:

_Você ainda vai me matar, garota.

_Você diz isso em menos de 24 horas de convívio. Acho que isso é um novo record para mim.

_Record? Quem é estranho mesmo?

_Cala a boca!_Rimos e terminamos de comer em meio a risadas.

_Quer ir embora?

_Pode ser._Ele se levantou e eu o segui. Na porta ele me esperou e me deixou passar na frente. Lá fora bateu um ventinho gostoso, me fazendo sentir serena._A noite está bonita hoje.

_Acho que a noite é uma das poucas coisas que ainda verei você elogiar.

_Yep. Elogios são chatos. Xingar é mais legal._Começamos a andar, voltando para o hotel.

_Então prefere que te xinguem do que te elogiem?

_Eu não disse isso. Eu disse que eu gosto de xingar.

_Você é complexa demais.

_Prevejo uma desistência…_Cantarolei.

_Só se desiste quando se quer alguma coisa.

_Então quer dizer que esta falando comigo por acaso? Só por falar?

_Não foi isso que eu disse. Foi só um comentário.

_Eu poderia ter me ofendido se o efeito da coca cola já estivesse passado.

_Que efeito?

_A euforia. Eu não fico sorrindo assim sempre não! _Acabei rindo._Você devia se sentir um cara de sorte.

_Eu me sinto um cara de sorte._Olhei para ele, desconfiada. E percebi que ele estava perto demais, os nossos braços praticamente roçavam. Constrangida e um pouco tonta, desviei o olhar.

Ficamos em silêncio até eu poder avistar o hotel. O hotel era lindo, de frente para a praia. Bem localizado, e decorado de forma simples e aconchegante. Chamava atenção ao longe. Olhei de esguelha para Igor, ele olhava o céu. A luz da lua batia diretamente em seu rosto bronzeado. Segui seu olhar, olhando as estrelas. Estava uma noite muito, muito linda. Tropecei, já que olhava a lua e senti um aperto forte no braço, me recolocando no lugar.

_Cuidado._Ele disse, ainda segurando meu braço e voltando a caminhar.

_Ops._Murmurei.

_Efeito da coca cola também inclui paixão pelo chão?

_Oh não. Não preciso da coca cola pra isso.

_Não duvido._A mão dele escorregou do meu braço e desceu parando no pulso. Sua expressão adquiriu um quê de curiosidade. Amaldiçoei as batidas do meu coração, que pareciam até mesmo audíveis. Me perguntei se ele conseguia sentir as batidas no meu coração pelo meu pulso.

Continuamos caminhando, a mão dele esquentando meu pulso. Entramos no hotel, que estava razoavelmente vazio. Olhei as horas, quase 9 da noite. Ele parou no meio do hall.

_Você já quer subir? Ta meio cedo…

_E pra onde iríamos?

_Praia. Senhorita óbvia.

_Ah, a praia…_Parei, pensando nas possibilidades. Eu poderia ficar com meu lindo livrinho no meu quarto, bem tranquila. Ou sair com ele. A presença dele me agradava, é claro. Era divertido conversar com ele. Mas eu meio que sentia receio.

_Então…_Ele interrompeu meus pensamentos. Pisquei rapidamente, e ele me olhou meio que sugestivamente. Eu sabia que devia dizer não. Mas, mais uma vez, fui vencida. Totalmente derrotada murmurei:

_Não posso voltar tarde._Ele pegou meu pulso novamente e fomos caminhando pra praia.

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