Capítulo 5

10/06/2013 17:38

Arrumei minha cadeira de praia. Firmando seus pés com firmeza na areia. Totalmente desajeitada, coloquei minha bolsa e sacolas na cadeira ao lado, igualmente firmada no chão. Ajeitei me na cadeira, satisfeita com a briza gostosa do fim de tarde no rosto.

Eu estava de férias com meu pai, com sua namorada e o irmão dela. Eles decidiram vir para a praia, então estávamos hospedados em um hotel. Um hotel bem legal na verdade. Olhei para a frente, avistando o surfista que eu tinha visto mais cedo. Ele se equilibrava com facilidade entre ondas. Então fiquei prestando atenção nele, para me distrair apenas. Não era porque ele parecia maravilhosamente lindo. É claro que não… É só porque ele surfa bem, oras! Bem demais, a propósito. Depois de algum tempo me ‘distraindo’ acabei sentindo fome e fui vasculhar minha bolsa. Abrindo nada mais nada menos que… Um lanche do Mac Donalds. Eu parecia uma caipira da cidade, no meio da praia com minha caxinha do…

_Mc Lanche Feliz?_Uma voz rouca disse acima de mim. Dei um pulo na cadeira. Olhei para cima, dando de cara com o garoto da prancha._Você estava sozinha e seus olhos pareciam me chamar, então… Aqui estou eu.

_Meus olhos te chamando?_Começamos bem nosso contato, pensei. Uma cantada desse calibre? Uau._ Nossa, cara… Essa foi realmente péssima.

_Tem razão._ Ele fez uma careta, então para minha surpresa tirou minhas bolsas e sacolas e colocou no chão e sentou-se ao meu lado. Olhando o mar…

_Ei, essa cadeira é minha.

_Eu sei, não achei que você se importaria.

_Mas eu me importo.

_É só um pouco, para eu pensar.

_Pensar em que?

_Numa cantada boa o suficiente para te convencer a ficar comigo._Ele inclinou a cabeça, olhando em minha direção.

_Entre as duas cantadas, escolho a primeira.

_Isso é um sim?

_Não… Isso é um: cale a boca e volte para o mar amigo golfinho._Ele soltou uma risada alta e melodiosa. O encarei, ele continuou largado na cadeira. Eu não podia negar que ele era bonito com seu porte físico atlético; cabelos curtos e aloirados e sorriso aberto. Sem poder me conter sorri de volta.

_Acho que fui bem estúpido. Podemos começar de novo?

_Depende.

_Do que?

_Vai haver mais cantadas?

_Talvez…

_Então desisto de você._Ele riu novamente. Vencida pela sua risada, estiquei minha mão._Meu nome é Malu.

_Igor. _Ele apertou minha mão por tempo demais. Até eu puxá-la com um pouco mais de força._Então… Você vem sempre aqui?

_Eu te dou uma segunda chance e tudo o que você tem é isso?_Comecei a rir pela situação e ele me acompanhou.

_Tecnicamente a culpa é sua.

_Hãn?

_Você me deixa nervoso. Pode crer, é mais estranho pra mim do que pra você.

_Oh…_Ficamos em silêncio e eu sem saber o que fazer. Normalmente eu era bem soltinha, mas agora simplesmente… Não sabia o que falar.

_Você sabe?

_O que?

_Surfar…_Ele apontou o mar.

_Eu não sei nem boiar.

_Sério?_Ele disse, rindo de leve.

_Arran. O mar parece meio… grande.

_Boa definição._Ele disse mordendo o lábio entre os dentes e provavelmente o riso também. Não me deixei abater por sua cara sexy:

_Obrigada. Ah… Ele é assustador também.

_Ele só é assustador de longe, de perto ele é a coisa mais doce do mundo.

_Doce não, salgado._Ele abriu um meio sorriso pela minha piada ruim.

_Eu poderia te ensinar.

_Esqueça jow, você não ia querer passar vergonha com uma garota de bóias no braço no meio do doce mar…

_Você não me conhece. Não sabe do que sou capaz…

_Sério? Tem razão. Você é um desconhecido, eu não deveria falar com você. _Fiz uma cara de assustada._Você pode ser um psicopata!

_Não foi isso que eu quis dizer. Aonde você vai?_Levantei da cadeira, pegando minhas sacolas extras, cheias de lixo e fui caminhando cambaleando até uma lixeira perto de onde eu estava sentada. Pude ver alguns garotos jogando vôlei em um canto. Um deles me disse um animado hey. Ignorei, voltando para a cadeira. Onde o tal de Igor ainda estava sentado. Dobrei a minha cadeira, que graças aos céus dobrava fácil e ficava bem pequena, então delicadamente, com toda a intimidade do mundo empurrei Igor da outra cadeira. Ele caiu na areia e me olhou indignado. Sorri irônica, dobrando a outra cadeira e colocando as duas cadeiras na sacola maior. Peguei minha bolsa de praia e a sacola e comecei a andar, deixando um garoto e uma prancha para trás.

_Ei, espera. Não sabia que você levaria aquela coisa de desconhecido a sério._Ele me alcançou em passos largos. A prancha pendurada no braço._ Você é meio bipolar?

_Na verdade… Sou.

_Prazer, reflexo._Me virei para ele, meio que rindo.

_Certo, eu fico com você. _Senti que corava pela minha cara de pau. Mas era engraçado testá-lo. Vi que quando eu disse isso ele deu uns dois passos a frente, ficando mais perto._E você vai ir embora?

_É uma troca? Um beijo seu e tenho que ir embora? _O dedo dele se ergueu, tirando uma mecha de cabelo do meu pescoço. Eu apenas fiquei parada. Sem saber o que fazer. Só conseguia pensar que ele estava perto… Demais._Se for, recuso. Não poderei cumprir esse trato.

_Então você sempre cumpre promessas?

_Só quando as pessoas valem à pena.

_Ninguém vale a pena.

_Você acha isso?

_Eu sei disso.

_Você é tão nova, mas tão amarga no modo de falar._É o que dizem. Eu quis dizer, mas me calei. Preferindo outra resposta.

_Você nem sabe minha idade._Eu disse, dando alguns passos para trás. Na defensiva. Parecia que ele conseguia me ler…

_Tem 15 anos, se chama Malu e gosta de Mc Lanche Feliz. Eu sei até onde você dorme!

_Como?

_Bem, você tem um quarto de solteiro, enquanto seu pai e uma mulher ficam uns 4 andares acima. Sua cama deve ser meio parecida com a minha…

_C-como você sabe disso?_Eu disse, assustada. A história do psicopata passando novamente pela minha cabeça.

_Seu quarto no hotel é do lado do meu. Você fica no numero 11 e eu no 12.

_Como você sabe disso… também?

_Eu vi você fazendo reserva com seu pai.

_Oh.

_Então, para seu completo azar, você não vai se livrar de mim tão cedo. Te vejo depois, Maria de Lourdes._Então ele simplesmente me deixou lá e foi caminhando para o mar. Eu fiquei parada no mesmo lugar, completamente boquiaberta enquanto ele se afastava. Completamente confusa. Meio assustada, mas surpresa. Se era de um jeito bom ou ruim… Ainda não decidi. Ele olhou para trás uma vez e pude enxergar seu sorriso torto. Sacudi a cabeça, caminhando para o meu hotel. Que cara estranho! Talvez ele seja mesmo um psicopata. Ou não…

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