No dia seguinte nada havia ficado melhor. As palavras dele ainda ecoavam no meu ouvido e a briga com Ceci ainda me deixava mais do que irritada. Eu estava sem falar com ela desde a briga. Mas volta e meia alguém vinha bater na porta do meu quarto, tentando me convencer a sair.
Alguém bateu na porta, outra vez. Irritada, acabei gritando:
_Vai embora!
_Pensei que você estivesse com saudades minhas._A voz de Alexandre me fez sorrir naturalmente. Levantei da cama, abrindo a porta e me deparando com um sorriso enorme dele. Estava mais bronzeado e eu diria ainda mais alto. Os cabelos, antes bem mais compridinhos, estavam super curtos. Seu rosto ficara mais bonito e menos infantil desse jeito. Mas o sorriso ainda era o mesmo._Então… Quanto tempo vou ter que esperar pelo seu abraço?
_Idiota._Ele veio até mim, me puxando em um abraço super apertado._Senti sua falta.
_Eu também._O peguei pela mão, o fazendo se sentar na minha cama. Ele olhou ao redor, a sobrancelha franzida.
_Nunca vai arrumar esse quarto?
_Nunquinha. Eu me acho na minha bagunça… E nem ta muito desorganizado.
_Claro que não está… Então, você me pareceu apreensiva da última vez que falei com você. E olhando agora vejo que tem mesmo algo te incomodando. O que aconteceu?_Olhei parra ele, confusa. Ainda me assusta ver como ele me conhece tão bem. Melhores amigos assustam. Ainda mais quando são igual o Alexandre, super observadores e perceptivos. Suspirei antes de responder.
_Seria mais fácil você perguntar o que não aconteceu.
_Não tenho hora pra chegar em casa._Ele se esparramou na minha cama e eu revirei os olhos.
_Ele voltou. _Ele me olhou surpreso._E está namorando com a Ceci.
_Como é que é?_Então comecei a explicar. Falando o quanto essa situação toda me irritava. Contei exatamente tudo, até as palavras de Igor. Só não admiti que eu ainda não tinha esquecido de Igor definitivamente. Era difícil para mim mesma admitir, imagina pra ele. Enquanto eu falava, Alexandre sempre perguntava algo, ou dava sua opinião. E isso era reconfortante. Ver que ele se importava.
_Ceci está sendo uma idiota. Está me tratando mal e isso me irrita. _Eu havia acabado de contar o porque da nossa discussão. Ele agora não dizia nada. Só me encarava._To quase dando na cara, dela. É sério.
_Ela é sua irmã._Ele disse baixinho. Parecia estar absorvendo tudo.
_Mais um motivo pr'eu bater nela.
_Não fique tão brava com ela, você sabe como ela fica quando empaca nesses relacionamentos. Ela é a Ceci, oras!_Olhei para Alexandre, indignada.
_Não acredito que esta tentando defender ela. Tudo bem que você tem essa super paixonite por ela. É absolutamente normal, já que vocês dois são iguaizinhos. Trocam de namorados como trocam de roupas… _Era completamente óbvia a queda que Alexandre tinha por Ceci. Mas acho que ela nunca o olhou como algo mais. E ele também nunca me falou sobre a paixonite dele e eu nunca forcei também. Respeitava o espaço dele e seus olhares mal disfarçados pela minha irmã. Mas me irritava ver quando ele tomava partido dela desse jeito._Mas eu sou sua melhor amiga! Não pode me trocar pela sua paixãozinha, ok? Isso está no contrato de amizade. Tenho certeza.
_Como você sabe que…
_Eu sei de tudo._Murmurei, irritada. Ele riu de leve, olhando com uma cara insondável.
_Você sabe que sou péssimo nos conselhos… Mas acho que você devia tentar ser amiga dele.
_O QUE?_O sol afetou muito a cabeça desse garoto… Só pode!
_Sei que é complicado, bem difícil… Mas não faça isso por ninguém mais além de si mesma. Isso machuca você, essa história inacabada com dele. Seja amiga, supera… Sei lá. Talvez virar amiga ajude você a esquecer, a aprender lidar com ele. Talvez ajuda a passar. Tenta, pode te fazer bem. Fazer bem a todo mundo.
_Eu não quero tentar e pode até fazer bem pra alguma pessoa… Mas pra mim não! Sem chance. E isso não está aberto a mais discussões.
_Tudo bem, tudo bem. Se quer se fazer difícil, se faça. Mas no final você sempre concorda comigo.
_Sua modéstia é admirável. Talvez o mundo dos mortos queira conhecê-la também!
_Não seja chata._Ele riu, tacando uma almofada na minha cara._Não quer saber das minhas férias?
_Garotas, garotas, garotas, garotas, garotas… E ah… Deixa eu ver… Garotas! _Férias tão obvias que chegavam a ser entediantes.
_Uau. Você é boa nisso.
_Obrigada.
_Vamos, vai tomar um banho que nós vamos sair.
_Eu não quero sair._Choraminguei, abraçando a almofada mais próxima.
_Mas eu quero.
_Idaí? Chama outra pessoa. Não deve ser difícil pra você arranjar companhia.
_Tem razão, é muito fácil eu arranjar alguém pra sair, mas… Eu quero sair com você. _Ele me puxou da cama, me guiando para o banheiro._Eu posso ver o mofo se formando no seu braço. Anda, vamos tomar um arzinho. Jantar e tudo o mais.
_Não seja chato…
_Vê se não demora!
_Chato! _Gritei, fechando a porta do banheiro. Talvez sair me ajudasse a me distrair. Ficar em casa não ia adiantar muito mesmo…