Capítulo 17

10/06/2013 17:47

Continuei sentada no sofá, totalmente tensa, enquanto Ceci terminava de se arrumar. Karol estava sentada ao meu lado, me olhava curiosa e volta e meia mexia no rabo-de-cavalo cuidadoso que Ceci fizera e que brigaria muito se fosse desfeito.


_Karol, para de mexer nesse cabelo!_Ceci apareceu, já arrumada, já brigando. Vestia uma saia e uma camiseta estampada, nos pés uma sandália plataforma. Olhei meu all star surrado e camiseta velha. Eu estava sendo humilhada antes mesmo de sair de casa.

Ouvimos uma batida na porta, Karol toda alvoroçada correu para atender. Me limitei a olhar para a televisão, vendo o reflexo dele na tela escura. Meu coração se rebelou e eu tentei me controlar. Tentei não me importar.

_Estão prontas?_A voz dele fez os cabelos da minha nuca se arrepiarem. Controlei o impulso de correr, de fugir daquele lugar.
_Claro. Vamos, Malu?_Me levantei, olhando para o chão. Passei por eles, e parei em frente a um carro. Um gol prata. Olhei para o céu e o sol acabou machucando meus olhos.
_Podem entrar.
_Não sabia que você tinha carro._Ceci disse.
_É, comprei alguns meses depois das férias do ano passado._Enrijeci, me lembrando que ele tinha me dito que faria isso mesmo. Comprar um carro com suas economias. Karol abriu a porta do carro antes de mim e entrou rapidamente lá dentro. Fechando a porta com estrondo._Acho que ela gostou…
_Ela sempre gosta. Acho que o que ela mais gosta nos namorados da minha irmã são os carros, tanto que ela já andou em dezenas de carros! Ela é uma Maria gasolina. _Eu disse, entrando em seguida no carro. E pouco me lixando se estava sedo cruel ou não. Ajudei Karol a arrumar o cinto enquanto o casal se sentava silencioso nos bancos da frente. Ceci me fuzilou com os olhos e eu fiz uma careta.

Por alguns minutos todos ficaram em silêncio. Mas depois Karol começou a puxar assunto e antes que eu pudesse me dar conta... Estavam os três conversando bem animados enquanto eu só observava. Olhei para Karol, que tinha os olhinhos brilhando e sorria enquanto Igor falava algo sobre o planetário. Mais uma estava conquistada.

_E você? Gosta de estrelas, Malu?_Igor perguntou, me olhando pelo retrovisor.
_Não. Não gosto.
_Que mentirosa. Ela gosta sim. Ela disse isso uma vez._Ceci interrompeu. E eu soube que daria merda.
_Eu nunca disse que gostava.
_Disse sim. Você não se lembra? Você estava dormindo, no sitio do marido da D.Betty. Você sussurrou enquanto dormia. “As estrelas parecem tão bonitas. Tão bonitas porque você esta aqui comigo…”. Eu sempre quis saber quem era que estava com você no sonho.
_Cala a boca, Ceci!
_Por quê? Ah não se faz de durona porque você é uma manteiga derretida.
_Cecília! Cala. A. Boca.
_Uh. Que estresse. Não acha, Igor?_Igor nem sequer se mexeu, somente me olhou pelo retrovisor. Afundei no banco do carro. Amaldiçoando com todas as forças minha irmã e seu namorado.

Peguei meu celular, colocando meus fones de ouvido com raiva. E liguei a música na maior altura. Somente para abafar o som da conversa deles. Eu apenas me limitei a encostar a cabeça no vidro do carro sacolejante. Sentindo a cabeça doer, embora meus ouvidos já tivessem se acostumado com o som ensurdecedor da música.

***

O passeio não foi tão ruim. Principalmente pelo fato que quando entramos no planetário cheio eu dei um jeito de desaparecer. Sumi de perto deles, que deviam estar se divertindo e fiquei andando sem rumo. Observando as coisas legais desse planetário, que era muito maior do que o outro que eu fui.

Acabei parando em um corredor interessante, era escuro, mas com luzes pequenas bem localizadas. Parecendo o céu estrelado. Segui por ele, sabendo que deveria ser um local proibido, pelo menos por enquanto. Acabei naquelas salas com um grande telão e uma maquete gigante e bem realista do Sistema Solar. Devia ser o lugar onde faziam a apresentação sobre o Sistema Solar e etc.

_Está vazio, talvez isso signifique que você não pode ficar aqui._A voz de Igor me fez dar um pulo no meu lugar. Olhei em volta, no lugar vazio, constrangida.
_Ops._Olhei para ele, que me olhava sem desviar o olhar._Como me achou?
_Sabia que você devia estar isolada. Então vim aqui.
_Porque veio atrás de mim? _Ele meio que olhou os pés. A compreensão me inundou._Minha irmã pediu, não foi?
_Foi. É isso mesmo. Vamos a uma lanchonete.
_Claro… Vai na frente._Cruzei os braços, apontando o caminho com a cabeça._ Eu vou depois.
_Na verdade… Eu me ofereci pra te procurar.
_Por quê?
_Eu preciso conversar com você._Ele deu um passo a frente, me fazendo recuar dois passos.
_Não temos nada pra conversar.
_O jeito que você está lidando com as coisas está me matando, Malu!
_O jeito que estou lidando com as coisas?_Ri irônica._ O que eu queria que eu fizesse? Saísse por aí dizendo que estou feliz com tudo isso? Você quer a minha benção agora?
_Isso é ridículo.
_O que quer que eu faça então?
_Pare de me tratar como se eu fosse um monstro, como se eu não tivesse sentimentos…
_Então você tem sentimentos, mas não se importa com o dos outros? É isso?_Ri irônica novamente. Começando a ficar com mais raiva ainda.
_Pare de fazer isso. Por favor…
_Fazer o que? Ser sincera?
_Não está sendo sincera. Está sendo cruel.
_Owwn. Coitadinho. Eu sou a menina malvada, muito má. Sem coração… A bruxa perversa desse conto de fadas inútil que você esta tentando viver. Eu sou a cruel que destrói todas as suas tentativas de ser bonzinho com ela. Porque você… Oh… você é incrível! Um ótimo cara! Nunca magoou ninguém.
_Pare de fazer isso, de jogar isso na minha cara. Eu me lembro do que aconteceu sabia? Eu me lembro de tudo! Sei que fui imbecil. Mas já passou. Então pare com isso! E principalmente… Pare de falar e agir como se eu não tivesse te amado!
_Então pare de agir como se eu continuasse te amando! _Gritei, sentindo os olhos embaçados. Mas a raiva e o orgulho maiores do que tudo, do que toda a mágoa._Porque eu tenho uma surpresa bombástica pra você… Eu não dou a mínima pra você. Eu te odeio! Só quero você longe, ok? Bem longe!

Tentei passar por ele, mas ele segurou meus braços com força. Me fazendo o olhar nos olhos. Ele arfava, também com raiva. Então sorriu, um sorriso sarcástico.

_Você me odeia com tanta intensidade quanto ainda me ama?
_O que?! _Gritei, horrorizada. A pergunta dele me pegara de surpresa, fazendo minhas pernas fraquejarem._O que está dizendo?
_Que você é uma mentirosa. Você é uma mentirosa hipócrita. Não superou droga nenhuma! Porque se tivesse superado, não ficaria tão nervosa. Não ligaria a mínima pra nossa história anterior, porque eu não faria diferença alguma na sua vida. Se você tivesse superado, seria indiferente a mim. Nem daria bola pra mim. Mas eu posso sentir esse ódio em você, forte, intenso. Mesmo você tentando se fazer de indiferente, dá pra sentir sua fúria só de me olhar. E isso me dá a certeza que eu ainda afeto você. Que você ainda me ama.

Com a mão livre, por puro impulso, lhe dei um tapa. Que fez eco por toda a sala vazia. Ele me soltou e eu cambaleei para trás. Chocada com suas palavras. Chocada porque isso era verdade. Magoada com tudo isso. Não tive forças nem para negar tudo o que ele me disse. Simplesmente saí correndo dali. Deixando-o sozinho para trás. Deixando com ele a certeza que ele estava certo. Eu não tinha superado ainda. E isso era uma droga. Uma tremenda droga!

 

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