Acordei da minha divagação, me levantando da areia. Meu celular vibrou, era uma mensagem de Alexandre, avisando que chegaria dali a dois dias de viagem, ele estava passando as férias naquele mesmo hotel onde nos conhecemos. Alexandre e eu viramos bem amigos, só amigos. Eu deveria ser a única amiga de verdade dele. As outras era amigas com ‘benefícios’. Alexandre tinha algo que atraia mulheres, era super galinha, mas comigo ele era um amor. Na medida do possível, vivíamos por aí, implicando um com o outro desde que bem… Desde que eu mudei para a casa de minha mãe.
Claro que me acostumar com a nova rotina e o modo mais controlador da minha mãe não foi fácil, mas eu acabei superando. Meu pai tem um novo filho, um menino, de alguns meses. Cristina parece ter amadurecido, porque na última vez que eu a vi ela acabou sendo gentil comigo, embora eu ainda ache que foi para impressionar meu pai. Sobre as férias do ano passado, só Alexandre sabia delas. Para minha mãe e colegas, eu tinha sofrido uma decepção amorosa e só. O fato de ser estranha me afastar das pessoas não era justificado por causa de férias, bem, era isso que eu dizia a eles. Querendo, ou não, o conhecer me mudou. Mas eu já tinha superado isso também. Ou era isso que eu gostaria.
Chequei minhas mensagens no celular mais uma vez, havia algumas de minhas ‘colegas’, mas nada específico. Entediada resolvi voltar para casa e além do mais eu estava com fome e nem tinha dinheiro no momento pra poder lanchar em algum quiosque por perto.
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Entrei em casa, avistando os pés de Ceci no sofá. Ela estava assistindo televisão, mas olhou para mim enquanto eu passava.
_Já almoçamos._Ela disse, quando eu estava prestes a ir para meu quarto.
_É, eu percebi. São quase 4 horas.
_Não vai comer nada? Posso fazer algo para nós…
_Não. Não estou com fome._Na verdade, eu estava com fome. Mas eu sabia o que significava esse convite de Ceci. Significava que ela queria conversar comigo, algo sério. Por isso ela cozinharia, como para compensar. Minha irmã podia ser bem previsível.
_Eu faço questão. Vai Malu, me deixa fazer algo pra nós._Suspirei vencida.
_Ta bom, então._Ela levantou do sofá em um pulo e eu a segui para a cozinha. Sentando no balcão e vendo ela preparar as coisas.
_Malu… O que você achou do Igor?_Revirei os olhos, já esperando algo assim.
_É obrigatório responder essa?
_Essa e todas que virão._Gemi contrafeita.
_Normal.
_Normal?
_É, ele é normal.
_Você odiou ele, não é? Nem adianta negar, eu vi como você ficou distante, como se ele fosse indesejável. Como se você quisesse nunca tê-lo conhecido. E isso só na primeira vez que ele veio aqui. E eu me pergunto… Porque você odiou ele? O que ele tem de errado? O que há de errado com você? Com nós? O que ele fez?
_São muitas perguntas.
_Porque tratou ele como indesejável?_Ela disse, fazendo a pergunta mais difícil, e pegando os ingredientes para um super sanduiche á lá Ceci e começou a cortar o pão.
_Talvez porque ele seja indesejável._Sussurrei baixinho, totalmente irônica. Fiz cara de paisagem ao me deparar com o olhar bravo de Ceci. Respirei fundo, a encarando._Certo. Eu não tratei ele mal, eu só… Não tratei ele bem.
_Você ignorou ele! Ele tentou fazer amizade com você.
_Ponto pra ele! Causou boa impressão em você. O que mais importa?_Olhei para a lâmpada, tentando me concentrar em qualquer outra coisa e não nas qualidades que eu conhecia dele.
_Você poderia ter sido mais legal com ele. Bem mais legal!
_Coitadinho… Tendo que lidar com a cunhada problemática. Tadinho, tadinho._Ironizei. Ela passou maionese nos sanduíches com força demais.
_Não é questão de você ser problemática! Isso todo mundo sabe que você é.
_Obrigada pela parte que me toca.
_É só que… Ele não merecia isso! Você poderia ter sido mais legal._Olhei para ela indignada. Já estava sendo extremamente difícil não quebrar a cara dos dois e ainda tenho que ouvir isso?
_Você tem sorte de eu falar com ele. Então… Não enche._Pulei do balcão, chateada e morrendo de raiva.
_Os sanduíches!_Ceci gritou. Quando eu já estava na porta do meu quarto.
_Guarde pro bom garoto que é seu namorado! A irmã problemática e malvada não merece!_Bati a porta com força, sentando na cama e abrindo meu livro com violência. Completamente indignada com toda essa situação.
Ouvi uma batida de leve na porta, ignorei. A cara de Ceci apareceu na porta e ela acabou entrando. Com o prato de sanduíches e um copo de refrigerante numa bandeja. Ela se sentou na cama.
_Olhe, desculpe. Eu exagerei._Continuei a ignorando._É que eu gosto dele! E queria que ele gostasse de você e você dele também._A olhei por cima do livro. Tolinha, não fazia ideia do que estava falando._Eu quero que dê certo e fico preocupada.
_Ceci, eu sou sua irmã, ele é um namorado. Você terminou com milhares de namorados. Mas a mim você não pode se livrar, nem jogar no lixo.
_Tecnicamente, jogar no lixo eu posso. Te joguei dentro de uma lixeira quando você tinha 6 anos.
_Ok. Aí está a prova que minha irmã é uma psicopata._Ela soltou uma risadinha.
_Certo. Voltando…_Revirei os olhos._Eu gosto dele.
_Você já disse isso…_Cantarolei.
_Ele é perfeito.
_Não é não. O nariz dele é meio tortinho…_Apontei para meu nariz, querendo explicar melhor. Ela fez uma careta.
_Malu! Você nem ao menos se esforça pra gostar dele.
_Me desculpe, mas se espera que eu saia por aí dizendo o quão meu ‘cunhado’, você nem faz ideia do quão estranho é dizer isso, é maravilhoso… Desista.
_Tudo bem, não estou esperando que virem super amigos… agora. Mas você pode tentar conhecê-lo melhor.
_Não tem como conhecer ele melhor. Eu já conheço.
_Como não?
_Oras… Hãn… O nariz dele é torto, já sei tudo que me interessa saber em um garoto.
_Quer dizer que Alexandre é seu amigo porque o nariz dele é retinho?
_Óbvio. Eu me relacionar com gente de nariz torto? Aff, que espécie de pessoa eu seria?
_Me diz que você ta brincando!
_Mas é claro que não!_Tentei ocultar meu sorriso debochado por trás do livro.
_Maluu!
_Ai Ceci. Vamos parar com essa conversa?
_Amanhã é o encontro entre namorado, namorada e irmãs chatinhas. E eu estou preocupada.
_Não se preocupe. Serei uma dama.
_É disso que tenho medo. Você não vai ser uma dama. A última coisa que você vai ser é uma ‘dama’.
_Eu estou com fome e ficando irritada com essa conversa. _Decidi cortar o assunto, que estava se estendendo demais._Depois nos falamos.
_Não, vamos continuar agora.
_Maria Cecília. Se continuarmos essa conversa, amanhã vai ser o pior encontro da sua vida. E você sabe que sou mesmo capaz disso.
_Tuudo bem. To saindo! Bom apetite.
_Obrigada._Ela se levantou da cama e foi para a porta. Antes de sair ela se virou para mim.
_O nariz dele não é torto!
_Continue se iludindo…_Ela mostrou a língua antes de sair. Eu ri baixo antes de morder meu sanduiche. Começando a pensar nele. Tomei um gole de coca. Irritada comigo mesmo._Droga! Ela tem razão… O nariz dele não é torto.