19 de julho 2011.
Hoje eu e meu namorado completamos um ano e dois meses de namoro. Que lindo né? Pois bem. Seria lindo se ele não estivesse há dois dias sem me ligar ou mandar uma mensagem falando sobre sua situação: bem, mal, machucado, enfim. Lindo mesmo é o fato de ter ligado e mandado várias mensagens a ele preocupada e ele nada responder.
Quem eu sou? Chamo-me Felippa e vou relatar a vocês a minha triste situação amorosa com meu namorado.
Retornei hoje à tarde para São Paulo. Fiz uma viagem a minha cidade natal a fim de visitar minha família que a tempo não via. Passei a viagem inteira tentando ligar para o celular dele, mas este se encontrava desligado. Sofri um transtorno no metrô e demorei mais do que o previsto para chegar ao destino final. Como moro razoavelmente perto do terminal corri para o apartamento em que moro guardar minha mochila e voar para o meu trabalho. No caminho decido ligar para a casa dele. Surpresa! Adivinha quem atendeu? Sim, o filho da puta do meu namorado. Para maiores informações o nome dele é Lucas. Disse um oi amor todo carinhoso, é claro que ele já sabia que tinha feito algo de errado. Afinal, o meu oi foi tão violento que não teve como ele não perceber isso. Papo vai papo vem e a minha paciência indo buraco abaixo. Não ia brigar com ele logo de cara. Daria uma chance dele se explicar, quem sabe não tinha acontecido algo sério... Haha, que nada!! Ele não disse nada. De repente o assunto acabou. Esperei ele falar alguma coisa, mas não obtive resultado. Tive eu então que perguntar se ele não iria falar nada. Uma indireta pra facilitar o lado dele. Nem um pedido de desculpa. Isso me tirou do sério completamente, a ponto de eu berrar “Eu não quero mais falar com você!” e desligar a ligação na cara dele. Grosseira demais? Vocês não sabem de nada.
Por fim cheguei ao meu segundo pesadelo, meu local de trabalho. Um oi ali outro aqui e alguém me chama. Busco a pessoa e vejo que é a enfermeira da empresa, Rute. Uma conversa informal, nada demais até receber um formulário para preencher. “Exame demissional” estava escrito. Meu cérebro gelou na hora e eu não soube o que falar. Rute tentou me consolar falou que a empresa estava numa situação ruim e precisava fazer alguns cortes. A única coisa que distrairia minha mente hoje acabou sendo mais um soco bem no meio da cara. Segurei até o último segundo o choro, não podia fazer esse papel na frente de todos. Sempre fui vista como a valentona, a empregada mais forte da empresa e chorar neste instante mostraria a todos minha verdadeira face. Recebi todas as informações do gerente e fui guiada até o Departamento Pessoal para últimas explicações. Retornei ao vestiário feminino e peguei todas as minhas coisas. Dei adeus a algumas meninas que ali estavam e pedi que repassassem o meu recado às outras. Sai de cabeça erguida até o último centímetro da esquina e depois desabei.
Meu único refúgio naquele momento foi o parque que tinha ali perto que às vezes eu visitava para esclarecer alguns pensamentos. Hoje eu não teria que esclarecer e sim refazer muitos dos que já atormentavam minha cabeça. Sentei no banco de sempre e deixei que as lágrimas rolassem por minha face uma a uma. Desnorteada não sabia o que fazer até que Gabriel me surge na mente. Claro, meu melhor amigo poderia me ajudar num momento tão delicado. Mas quem disse que o viadinho atendia o celular? Fiquei de mãos atadas. Tudo bem superaria tudo sozinha como sempre. Deitei minha cabeça para trás e fiquei ali por um bom tempo com os olhos fechados até acalmar de vez a euforia dentro de mim. Não sei quanto tempo se passou até o celular apitar informando que uma nova mensagem chegara. Era Lucas. Perguntou onde eu estava que viria ao meu encontro. Pensei muito e respondi “to no parque”. Não perderia nada falando a ele onde eu estava. Até achei humano da parte dele querer me ver depois do que fez no celular. O que eu não esperava era receber um telefonema da minha mãe. Queria saber sobre um estágio da faculdade que eu tinha comentado enquanto estava lá. O meu único azar naquele momento foi que minha mãe conhecia bem minha voz e sabia quando eu estava triste, feliz, ansiosa, essas coisas. Mãe sempre sabe né? Neguei várias vezes alegando estar tudo bem, mas não adiantou tive que contar o que ocorrerá. E lá veio a bomba. Tive que escutar mais de uma hora ela falando sobre arrumar um novo emprego e como eu era carente e precisava parar de me apegar as pessoas. Eu não concordo com a opinião dela. Me conheço melhor do que ninguém e sei que não sou carente da forma que ela sempre diz. Bom, não discuti isso com ela na hora estava preocupada demais em parar de chorar novamente. Felizmente a conversa acabou assim que a avisei sobre a chegada do Lucas.
Ele vestia sua bermuda No Stress e uma camiseta branca. Aproveitei que estava com um papel amassado em mim mão e caminhei até uma lixeira que ficava na direção dele. Parei com ele ao meu lado. Dissemos um oi sem cumprimentar com beijos ou abraços. Neutro. Sentamos na arquibancada e começamos a conversar. Nada demais. Perguntei como tinha sido o fim de semana dele e escutei as mesmas coisas que escutara no celular. Jogou bola e soltou pipa com os amigos no domingo e fez uma viagem para Piracicaba com o pessoal do trabalho para entregar um brinquedo de diversão na segunda. Detalhe, ele só voltou para casa às três da manhã. Tudo aconteceu sem nenhum problema. Fiquei na minha, sem mostrar entusiasmo ou afeição para com ele. Decidimos por dar uma volta no parque até encontrar um banheiro para ele utilizar. Encostei-me numa árvore ali ao lado e esperei. Minutos depois percebi que ele tinha saído e sem eu imaginar ele abraçou-me por trás. Não nego que foi carinhoso da parte dele, mas o comentário que veio depois de me abraçar não significou a mesma coisa. “Não vai me dar a mão filha da puta?” Lógico que eu já estou acostumada com esse tipo de coisa da parte dele e sei que ele falou na brincadeira. Simplesmente dei risada e nada fiz. Andamos alguns metros abraçados e ele do nada me soltou. Já era de se esperar. Olhei para o seu rosto e lá estava a expressão de bravo discreto que fazia quando eu agia de alguma forma que ele odiava. Fiquei um pouco feliz por causar isso nele, da mesma forma que causou em mim. Prosseguimos com a nossa caminhada sem imaginar que ela terminaria no shopping ao lado. Entramos olhamos as vitrines, tudo como se fossemos amigos. Não estávamos andando de mãos dadas. Foi rápido, o shopping não é tão grande e logo fomos embora.
O pior estava por vir e eu nem imaginava. Uma rua antes de chegar ao prédio ele parou fazendo com que eu parasse junto e já descobrisse o que ele faria. “Já vou indo então tá?” Odeio quando ele diz isso. Bom, nesse momento não consegui segurar tudo que estava entalado em minha garganta. Explodi. “Você não tem nada pra me dizer? Não tem nada pra me explicar?” Perguntei brava. “Não, o que eu teria que explicar?” Como uma simples pergunta dessa pode deixar alguém tão furioso né? Também não sei, só sei que eu despejei tudo na cara dele. Tudo que estava destruindo meu coração, as perguntas que não conseguia responder por conta própria, como nada fazia sentido naquele momento. Por incrível que pareça ele foi frio, insensível e só piorou as coisas. Assumiu indiscretamente que apenas estava me ignorando, que a culpada fui eu por ligar pra ele só à noite (o que é mentira) e por ter mentido descaradamente que eu só havia enviado três mensagens quando na realidade eu havia enviado mais de três. Tive que insistir para ele mostrar as mensagens que estavam no celular para comprovar o que dizia. E adivinha? Todas as mensagens que eu tinha enviado estavam lá, lidas! Como ele consegue agir desta forma às vezes? Nem eu sei. Tudo estava tomando um rumo absurdo, eu já não conseguia segurar os berros no meio da rua e as lágrimas ardiam sobre minha pele. Ele? Apenas ficou parado na minha frente sem fazer nada. Teve um momento que um impulso me dominou e dei-lhe um soco no peito. Sua reação? Riu. No fundo eu sabia que ele queria revidar, porém se conteve. Eu o olhava e negava com a cabeça desacreditada que ele não assumia que estava errado. Seu orgulho estava acima de tudo e pedir desculpas seria cair de um prédio de cem andares. Onde estava aquele rapaz que há um ano eu conheci? Carinho, atencioso, esforçado. O mais engraçado é que a atitude dele fez com que eu me sentisse uma palhaça, a errada da história. Impressionante como ele tem o dom de mudar tudo assim do nada. Eu tinha formulado pensamentos, perguntas só que na hora de falar tudo isso parecia estar errado. Então parei de falar. Acalmei-me falei mais alguma coisa que agora sinceramente não lembro e nos despedimos. Rolou alguns beijos e abraços, que em minha opinião estavam sem amor e cada um foi pro seu canto.
Entrei no apartamento com os olhos vermelhos cor de sangue e o rosto pálido pelo sumiço do fluído escarlate que meu corpo necessitava ter. Evitei maiores perguntas dos meus familiares. Dei boa noite e agora estou aqui, deitada em minha cama escrevendo meu infernal dia. Talvez você chegue a estas últimas palavras e pense “Que merda, li tudo isso pra nada.” Ou qualquer coisa negativa, mas eu não me importo. Afinal, isso é um diário. Um diário que terá como função descrever a dor que se passa em meu coração por causa de uma relação que saiu de sintonia ou por outros problemas. Sei que não haverá um fim para Lucas e eu. Estamos apenas começando a conviver juntos, a lidar com problemas e frustrações juntos. Será que ser feliz para sempre parece ser tão fácil assim quanto nos contos de fadas?...
Mas olha que surpresa! Ele acaba de me mandar uma mensagem. E vejam o que esta escrita! “Boa noite amor. Obrigado por ter aparecido na minha vida. Eu te amo muitão.” Digam o que eu devo fazer com uma coisa dessas?
Enfim, boa noite Diário. Declaro este dia por encerrado. O amanhã me aguarda com mais novidades e coisas que nem posso imaginar.